Howard Marks: “Se o entusiasmo com IA não gerar uma bolha, será a primeira vez”

Em carta, o cofundador da Oaktree afirma que "ninguém sabe" se as ações de IA estão em território de bolha, mas alerta para correção, enquanto pondera: ficar de fora é igualmente arriscado

Paulo Barros

Howard Marks, sócio-fundador e co-chairman da Oaktree Capital Management (Arte: Telmo Hideki)
Howard Marks, sócio-fundador e co-chairman da Oaktree Capital Management (Arte: Telmo Hideki)

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O megainvestidor Howard Marks, cofundador da gestora Oaktree Capital, afirmou que ainda é impossível determinar se o atual movimento em torno da inteligência artificial (IA) configura uma bolha. Em carta publicada nesta terça-feira (9), Marks escreveu entretanto que a história mostra um padrão em torno de tecnologias transformadoras, e que, se a empolgação com a IA não culminar em uma bolha, será um fato inédito.

“Há uma história consistente de tecnologias revolucionárias que geram entusiasmo e investimentos excessivos, resultando em mais infraestrutura do que o necessário e preços de ativos altos demais”, escreveu. “Se o entusiasmo atual não produzir uma bolha conforme o padrão histórico, será a primeira vez.”

Marks reconhece, contudo, que o momento atual é ambíguo: há riscos tanto em se expor demais quanto em ficar de fora. “Ninguém pode participar plenamente dos benefícios potenciais sem também enfrentar o risco de perdas caso o entusiasmo se mostre excessivo”, disse.

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Marks compara o momento atual a outros episódios de euforia tecnológica, como o boom das ferrovias no século XIX, a bolha da internet no fim dos anos 1990 e o estouro do setor imobiliário em 2008. “As bolhas geralmente começam com algo novo e revolucionário que desperta imaginação e entusiasmo, mas quando esse entusiasmo atinge proporções irracionais, os resultados para os investidores costumam ser dolorosos.”

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Apesar do tom cauteloso, Marks pondera que nem toda bolha destrói valor. Algumas, diz ele, aceleram o progresso tecnológico. “Burbujas baseadas em avanços reais — como as ferrovias, a eletricidade e a internet — criaram as bases de um futuro mais próspero, mesmo com perdas no caminho”, escreveu.

A carta destaca ainda o uso crescente de dívida para financiar a corrida por capacidade de IA, o que pode ampliar riscos. “A alavancagem potencializa ganhos, mas também perdas”, alertou, lembrando que parte dos investimentos atuais está sendo feita por meio de instrumentos fora de balanço, semelhantes aos que agravaram crises anteriores.

Marks conclui que a inteligência artificial pode ser “uma das maiores tecnologias transformadoras de todos os tempos”, mas que o equilíbrio entre prudência e participação é essencial. “Ninguém deve ir com tudo, sem reconhecer o risco de ruína se as coisas derem errado. Mas ninguém deve ficar totalmente de fora e correr o risco de perder um dos maiores avanços tecnológicos da história”, afirmou.

Paulo Barros

Jornalista, editor de Hard News no InfoMoney. Escreve principalmente sobre economia e investimentos, além de internacional (correspondente baseado em Lisboa)