Juros caem mais com arcabouço e Tesouro Prefixado rende até 17% em 5 meses; já é hora de vender?

Ganhos com "marcação a mercado" já são expressivos, mas taxas podem recuar ainda mais quando BC sinalizar redução da Selic, dizem especialistas

Leonardo Guimarães

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Qualquer investidor faz aplicações visando cumprir a máxima de comprar na baixa e vender na alta. Na renda fixa, não é diferente – por mais que isso pareça não combinar muito com as características de ativos considerados conservadores.

Com a queda recente da remuneração dos ativos prefixados – aqueles que oferecem juros predefinidos desde o momento da aplicação – investidores que aproveitaram para comprá-los quando os juros estavam mais altos se perguntam se agora é um bom momento para vender os papéis, mesmo antes do vencimento, e lucrar com a chamada “marcação a mercado”.

Enquanto o Banco Central ainda elevava a taxa básica de juros (Selic), no segundo semestre do ano passado, as taxas dos prefixados acompanhavam o movimento e subiam. No Tesouro Direto, por exemplo, o título público prefixado com vencimento em 2026 chegou a entregar rentabilidade de 13,86% ao ano em 19 de dezembro – e não voltou mais a esse mesmo patamar desde então.

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Nesta quarta-feira (24), o mesmo título entregava rentabilidade anual de 11,21%, a menor taxa desde abril do ano passado. Com a aprovação do novo arcabouço fiscal na Câmara dos Deputados na noite desta terça (23), o mercado espera que o ambiente fique propício para o início do ciclo de cortes na Selic.

Por isso, quem comprou o título com uma taxa de quase 14% ao ano tem nas mãos um papel valioso, já que não há perspectiva de que os juros dos títulos do Tesouro Direto voltem a esse nível tão cedo.

Tanto é assim que o preço desses papéis aumentou do fim de 2022 para cá. Se tivesse comprado R$ 10 mil em Tesouro Prefixado 2026 no dia 19 de dezembro (máxima no ano passado) e vendido os papéis na manhã hoje, um investidor obteria um retorno bruto de R$ 1.241,50 – ou 12,41% em cinco meses.

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O Tesouro Prefixado 2029 entregaria um retorno ainda maior: R$ 1.729,60, ou 17,3% no período. Em 19 de dezembro, o título oferecia juros anuais de 13,68% na compra. Os cálculos, feitos a pedido do InfoMoney, são de Alexandre Yamamoto, analista de renda fixa da Levante.

Significa que, graças à “marcação a mercado”, os investidores poderiam conseguir ganho bruto entre 12,4% e 17,3% em apenas cinco meses com os títulos prefixados do Tesouro Direto, quando a taxa contratada originalmente variava entre 13,68% e 13,86% – ao ano.

Veja quanto um investidor que comprou R$ 10 mil em títulos públicos prefixados no período de juros mais altos poderia ganhar ao vendê-los hoje:

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Título Taxa oferecida em 19/12/22 Taxa oferecida em 24/05/23 Valor de venda em 24/05/23 Rentabilidade bruta no período (19/12/22 a 24/05/23)
Tesouro Prefixado 2026 13,86% ao ano 11,19% ao ano R$ 11.241,50 12,41%
Tesouro Prefixado 2029 13,68% ao ano 11,57% ao ano R$ 11.729,60 17,29%
Tesouro Prefixado 2033 13,53% ao ano 11,60% ao ano R$ 11.020,50 10,20%

Fonte: Alexandre Yamamoto, analista de renda fixa da Levante Investimentos

Vale lembrar que “marcar a mercado” é o mesmo que atualizar o valor de um ativo financeiro de acordo com as condições pelas quais ele é negociado a cada dia. No caso dos papéis de renda fixa, vários fatores podem provocar flutuação de valor, e o principal são as taxas de juros.

Grosso modo, quando a expectativa do mercado é de que os juros subam, o valor dos títulos públicos comprados por taxas mais baixas tende a cair. Da mesma forma, quando os agentes financeiros acreditam que os juros vão descer – como é o caso agora – a tendência é de que os preços dos papéis aumente.

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A dinâmica dos títulos públicos vale para os privados. Quem comprou papéis, como as debêntures, pagando mais do que a remuneração oferecida hoje também tem a chance de vender para lucrar com a “marcação a mercado”.

Vale a pena vender prefixados agora?

Para especialistas ouvidos pelo InfoMoney, pode valer. A aprovação do texto-base do arcabouço na Câmara ocorreu ontem, mas o fator que mais contribuiu com a queda nas taxas dos prefixados no médio prazo foi a expectativa de corte na Selic, considerada bem precificada. No entanto, como o mercado ainda não tem certeza de a queda começará, as taxas dos títulos prefixados se mantêm em patamares mais baixos, aumentando o possível ágio para quem comprou há alguns meses.

“O mercado não está retirando as quedas na Selic das precificações, só está empurrando para frente”, explica Luis Barone, sócio e gestor da Galapagos Capital.

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Porém, na busca pelo maior lucro possível, o investidor pode esperar taxas ainda mais baixas nos prefixados para vender os títulos. A estratégia é mais arriscada, mas tem um gatilho bem definido: uma sinalização clara de queda na Selic pelo Banco Central. Quando isso acontecer, os juros devem recuar e os prefixados mais rentáveis serão ainda mais valiosos.

Yamamoto, da Levante, considera que esperar por uma sinalização do BC é apenas “um ajuste fino” e que os ganhos não seriam tão maiores para justificar segurar a venda. Ele, porém, admite: “Acho que ainda tem mais espaço para cair”.

O investidor também pode se perguntar se é melhor carregar o título até o vencimento – afinal, as taxas de papéis públicos prefixados não devem voltar aos 14% logo. Barone afirma que não há uma resposta única e definitiva, e o investidor “precisa acompanhar com frequência seu portfólio para avaliar, ele mesmo, se vale a pena carregar o título”.

O que comprar depois?

Quem agarrar a chance de lucrar vendendo prefixados antes do vencimento terá recursos em mãos e pode optar por reinvestir o dinheiro. Nesse caso, Yamamoto recomenda entrar em títulos atrelados ao IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) – caso do Tesouro IPCA+ no Tesouro Direto.

“Apesar da queda nas taxas, o juro real continua muito alto, é importante para proteger a carteira da inflação”, afirma.

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Barone recomenda que a carteira não tenha mais de 10% em prefixados. Para essa parcela, o gestor recomenda ativos com vencimento entre 2025 e 2027, sendo que os papéis mais curtos têm mais exposição à queda de juros, enquanto os mais longos desse recorte “se sujeitam a outros fatores”.