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Há 35 anos, ações gringas sobem 14% em média após cortes do Fed; é hora de comprar?

Mercado acredita que o Federal Reserve vai começar a cortar os juros na reunião de setembro

Lucas Gabriel Marins

(Reprodução: Imagem de Tumisu por Pixabay)
(Reprodução: Imagem de Tumisu por Pixabay)

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Quase 90% do mercado aposta que o Federal Reserve (Fed, o banco Central dos Estados Unidos) cortará 0,25 ponto percentual dos juros em setembro, para o intervalo de 4,00% 4,25% ao ano, segundo a ferramenta CME FedWatch. A expectativa ganhou força após o discurso do chair Jerome Powell em Jackson Hole, na semana passada, quando destacou sinais de moderação em emprego e inflação.

Mas o que cortes de juros na maior economia do mundo significam para as ações americanas? A resposta é: depende do contexto. Em períodos de recessão (não é o caso atual), o S&P 500 recuou cerca de 4% nos seis meses seguintes ao início do ciclo, segundo a Evercore ISI, em dados de 1970 a 2024. Já em períodos sem recessão, a alta média foi de 14%.

No intervalo de 1990 até o ano passado, por exemplo, o S&P 500 apresentou retorno médio de 14% nos 12 meses após o início do afrouxamento monetário, de acordo com levantamento compilado por Diego Correia, líder executivo da área de investimentos internacionais da XP, a partir de dados da Bloomberg.

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“Quando analisamos o histórico recente, observamos que em ciclos de corte de juros pelo Federal Reserve, o S&P 500 foi beneficiado, principalmente porque juros mais baixos reduzem o custo de capital, estimulam consumo e investimento, e aumentam o valuation de empresas, especialmente em setores de crescimento”, falou.

Mauricio Garret, chefe da mesa de operações internacionais do Inter, disse que momentos de quedas de juros como esse fortalecem o chamado “animal spirits” na economia, impulsionando a busca por ativos mais arriscados. “Também vemos um aumento via canal de crédito, para consumidores, que passam a investir mais via aquisições de produtos, como imobiliário, carros, viagens e tantos outros”, falou.

Quais setores podem se beneficiar?

Em um cenário de juros menores, especialistas apontam para o setor de consumo discricionário – bens e serviços que não são de primeira necessidade e que crescem quando a renda disponível aumenta. O setor de tecnologia, especialmente ligado à tese de inteligência artificial, e as small caps também podem se destacar.

“As pequenas e médias empresas costumam se beneficiar, dado que costumam também ter um pouco mais de dívida (que ficam menos caras com juros mais baixo)”, falou Bruno Yamashita, analista de alocação e inteligência da Avenue.

Outro segmento que tende a se valorizar é o de REITs – equivalente nos EUA aos fundos imobiliários (FIIs). “É um setor que opera alavancado, com maior percentual de dívida. Então, naturalmente, quando as taxas de juros caem, esse setor tenderia a se beneficiar”, acrescentou Yamashita.

O setor financeiro, por outro lado, pode enfrentar ajustes. Com juros mais baixos, a margem entre captação e empréstimos (spread bancário) tende a se comprimir, reduzindo a rentabilidade até que o volume de crédito compense essa redução, falou Garret. “Porém, os bancos americanos estão extremamente bem capitalizados e devem se beneficiar do aumento no volume de transações de crédito, com juros mais baratos, o que será positivo para o setor”, disse.

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Na contramão também, setores defensivos – como consumo básico (consumer staples) e saúde – tendem a ter desempenho mais fraco em momentos de maior apetite por risco, segundo Maria Irene Jordão, estrategista global da XP.

Riscos no radar

Maria lembrou que não são apenas os juros que afetam as ações nos EUA. Notícias relacionadas à política econômica do governo Trump, especialmente novos anúncios de tarifas e mudanças regulatórias, devem seguir no radar dos mercados.

Além disso, falou, a trajetória dos dados econômicos no curto prazo ainda é desconhecida, considerando impacto ainda incerto da política comercial agressiva de Trump, e pode provocar divergências no caminho esperado de corte de juros pelo Federal Reserve.

“Ainda destacamos a possibilidade de intensificação de intervenções do governo Trump sobre o banco central americano e deterioração fiscal como riscos que podem afetar os juros longos, e minar parte do efeito positivo de cortes da taxa básica de juros”.

Vale investir agora?

Caio Athié Teruel, gestor Patrimonial na Cimo Family Office, disse que a visão estratégica da casa é manter uma alocação estratégica de longo prazo no exterior. “Nesse contexto, ter uma posição estrutural na bolsa americana continua sendo muito relevante. O S&P 500 reflete não apenas o crescimento da economia global, mas também a liderança em inovação e novas tecnologias”.

Correia, da XP, falou que investir no exterior é uma escolha que amplia o horizonte do investidor ao oferecer diversificação geográfica, proteção cambial e acesso a temáticas e ativos indisponíveis no mercado local. “Mas é importante reforçar que cada investidor possui um perfil de tolerância ao risco, o que deve ser considerado no momento de definir um percentual de alocação”, disse.