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O momento ainda está adverso para equity e ofertas ligadas a crédito dominam a agenda da indústria de fundos e o interesse de investidores, mas parte do mercado já dá os primeiros sinais de guinada: com a maior clareza sobre os rumos das economias local e global, grandes alocadores vêm retomando conversas a respeito de aplicações em fundos multimercados.
É o que conta Fábio Cepeda, sócio do Cepeda Advogados, escritório que se destacou na estruturação de assets durante a onda de casas independentes que tomou o mercado nos anos de juros baixos pós-pandemia. Para ele, apesar de algumas incertezas que permanecem no radar, já existem movimentações de investidores de alta gama no sentido de voltar para os multimercados.
“Estamos vendo um ensaio, novas apostas de que está chegando uma janela para multimercados, talvez para ações. Vemos que as casas que alocam em multimercados geridos por terceiros têm uma leitura de que passa a ter essa oportunidade”, diz Cepeda.
A expectativa de recuperação da subclasse de fundos já vem de meses, mas Cepeda aponta que, pela temperatura que sente dos clientes – que vão de fundos e assets a plataformas de distribuição, administradores fiduciários e securitizadoras –, os bolsos maiores já estão percebendo a necessidade de que é preciso iniciar alocação em multis e em fundos de ações, esperando por uma virada lá na frente.
“São fundos multimercados já estabelecidos que voltam a ser tema de discussão de alocação de grandes investidores, buscando se antecipar a um movimento que poderá ficar mais claro para o investidor comum apenas em um ou dois anos”, explica. Segundo ele, embora ainda mais tímidas, já há conversas iniciais também que mostram mais interesse em fundos de private equity e venture capital, olhando para 2025.
Os multimercados vêm apresentando recuperação recentemente, com alguns produtos voltando a superar o CDI. No entanto, a janela de 12 meses, muito observada pelo investidor pessoa física, ainda não está favorável. Em reação, cotistas voltaram a deixar esses produtos, e os multimercados tiveram em setembro o primeiro mês do ano com resgate líquido (retiradas maiores que as aplicações), de R$ 53,8 bilhões.
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A indústria em si também parece não se preparar ainda para uma retomada em breve. Também no mês passado, a renomada gestora Verde Asset reduziu o seu quadro de funcionários em quase 20%, passando de 74 posições para 60, e o setor de moedas e juros passou para o comando de Luis Stuhlberger, que agora responde por 80% do risco do fundo, ante 70% anteriormente. O movimento veio após o fundo Verde bater novamente o CDI, mas não o suficiente para superar a referência da classe no acumulado do ano.
Cepeda admite que, apesar de o mercado começar a tatear a volta para os multimercados, a onda dos produtos de crédito ainda está com tudo, impulsionada por uma combinação de benefício fiscal, com os títulos isentos; a facilidade operacional trazida pelas plataformas, e uma oportunidade para os tomadores. “Tudo isso convergiu de uma maneira muito favorável para essa indústria de emissão de ativos de crédito, além dos fundos de crédito”.
Nesse sentido, o profissional aponta que já há “no forno” operações de Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (FIDCs) voltados para pessoas físicas, algo que já é permitido no País há um ano, mas ainda não foi para a rua. Especialistas ouvidos pela reportagem atribuem o “atraso” a uma combinação de apetite ainda grande de funding institucional para FIDCs, minando o interesse de emissores pelo bolso do investidor comum. Além disso, a adaptação desses fundos à resolução CVM 175, que tem prazo até o fim de novembro, contribui para poluir o calendário.