Goldberg: seria ‘extraordinário’ negócio entre Verde e Lumina; Stuhlberger está ‘animadérrimo’ com trabalho

Lumina quer comprar fatia do Credit Suisse na casa fundada por Luís Stuhlberger; se negócio for concretizado, gestoras manteriam atuação independente

Ana Paula Ribeiro

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A Lumina Capital Management vê sua atuação como complementar à da Verde Asset Management e, por isso, quer ter uma participação na gestora fundada por Luis Stuhlberger. Essa sociedade viria pela compra de uma parcela da fatia detida na gestora pelo Credit Suisse, mas Daniel Goldberg, sócio e CIO da Lumina, ressalta que caso o negócio seja concretizado, as duas casas continuarão com gestões independentes.

“Pela nossa lógica, [o interesse] é para ter uma atuação complementar, mas as duas companhias continuaram completamente independentes”, disse durante participação no podcast Stock Pickers.

E o que seria essa complementaridade? Goldberg vê a Verde como uma das casas com melhor leitura do cenário macroeconômico, em especial sobre o Brasil, conseguindo entregar bons retornos no longo prazo e liquidez.

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“Se olhar o que o Luís e a equipe produziram ao longo de 30 anos, ajustado pelo risco, é um track record [histórico] pouco visto lá fora”, afirmou.

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O fundo Verde, principal carteira da Verde Asset, tem um retorno superior a 2.000% da taxa do CDI (indicador de referência para a performance dos fundos multimercados) desde que iniciou a sua operação, em 1997.

O Credit Suisse possui 25% da Verde e venderia uma parte disso à Lumina. No entanto, o prosseguimento das negociações esbarrou em uma operação maior: o Credit Suisse passou por uma crise de confiança e acabou sendo vendido ao UBS no final de março.

O interesse da Lumina, no entanto, se mantém.

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“A Lumina se tornaria ou vai se tornar sócia minoritária estratégica da Verde. Seria espetacular se isso acontecesse. Estava tudo bem encaminhado. Só não falo que a gente precisa combinar com os suíços porque ainda são suíços. A gente está aguardando para ver como essa história se encaminha”, contou.

Goldberg afirmou ainda que mantém conversas diárias com Stuhlberger, reafirmando que caso um negócio seja concretizado haverá independência entre as duas casas.

“Não temos um deal, mas nunca faríamos um negócio se a gente achasse que o Luís fosse se aposentar. Ele está animadérrimo. A gente conversa todo os dias sobre investimentos, tanto os nossos como os deles. Ele vai continuar tocando o Verde e a Verde por anos. E o nosso papel é ser sócio minoritário estratégico para tornar a vida do Luís melhor.”

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O diretor da Lumina destaca a “cultura da cota” no Brasil, em que o investidor quer saber o desempenho do fundo em um curto espaço de tempo, quando o ideal era ver o que os gestores conseguem entregar no longo prazo, ajustado ao risco.

Restrição de crédito

Especialista em crédito, Goldberg vê um cenário de restrição de crédito intenso no Brasil que vai além da recuperação judicial da Americanas e o aumento desses casos no Brasil.

“Há uma constrição de crédito importante para a pessoa jurídica. O dado de fevereiro do Banco Central já mostra uma concessão 10% para baixo. Os dados de março vão mostrar uma constrição maior. Os bancos pisaram no breque”, diz.

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Para ele, as empresas vão passar por situações de liquidez e as que não estão caminhando para a insolvência e aí que a Lumina pode atuar.

“A gente resolve problemas com o capital. Às vezes em situações públicas, como oferta de ações ou emissão de debêntures, mas muito mais vezes em negócios privados, para empresas que precisam resolver um desafio muito específico”, explicou.

Esses desafios podem ser os ocorridos tanto nos momentos de crise como de bonança. No caso de crise, é o aporte dado a empresas que precisam de capital para reforçar o caixa para atravessar um momento ruim, mas não querem vender um ativo que será precificado de forma equivocada pelo momento de mercado. Já na bonança, pode ser um crédito para uma aquisição de uma concorrente. Nos dois casos, são uma espécie de empréstimo ponte.

Como essas operações podem ficar descasadas, o fundo também opera com outras operações, como avaliar os títulos de crédito que por situações conjunturais apresentem chances de ganhos. Como exemplo, citou o caso de bonds de uma empresa de energia no Chile, que perderam cerca de 50% de seu valor devido a questões regulatórias e uma crise hídrica.

“É uma situação de deslocamento e o mercado não é eficiente para refletir esses preços, então a gente gosta de comprar esses títulos em que o mercado demora a reconhecer esse efeito”, diz.

Ele ressalta que as empresas estão pagando mais caro para rolar a dívida e não estão conseguindo dinheiro novo. O custo do crédito, que é mais elevado, também é um fator de risco no mercado brasileiro em um cenário de restrição de crédito.

“A dinâmica que você vai ver na evolução do mercado de crédito no Brasil vai ser mais complicada”, disse, já ressaltando que embora as companhias do Ibovespa sejam pouco alavancadas, elas representam um universo pequeno das empresas no Brasil.

Já sobre o exterior, a avaliação é que a situação nos Estados Unidos não é de uma crise de insolvência que vá levar a uma crise bancária.

Ana Paula Ribeiro

Jornalista colaboradora do InfoMoney