Gestor tem estratégia defensiva para eleições – mas já ganhou 72% em um mês com a mesma tática

Desde que foi aberto, em março de 2015, o Forpus FIA rendeu 121%, contra 50% do Ibovespa no mesmo período. No ano, a alta é de 3,23%, contra queda de 4,76% do principal índice da B3; conheça o fundo

Diego Lazzaris Borges

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SÃO PAULO – Defender a carteira das turbulências pré-eleitorais e utilizar instrumentos financeiros para potencializar os ganhos após o pleito. Esta é a estratégia da Forpus Capital, uma gestora especializada em ações que possui R$ 75 milhões sob sua administração. No cenário atual de incertezas e volatilidade, com câmbio absolutamente instável, o fundo joga na defensiva e compra papéis que apostam na alta do dólar e eventualmente em uma alta dos juros – e uma consequente piora do crédito. “Nos protegemos de um possível evento favorável comprando opções com vencimentos após a eleição”, explica Francisco Giffoni Meirelles de Andrade, sócio-fundador e gestor da Forpus.

Avesso aos holofotes e com perfil bastante discreto – apesar dos mais de 1,90 m de altura, – Chico, como é chamado pelos amigos mais próximos, destoa dos profissionais do mercado financeiro do eixo Faria Lima – Leblon. Happy hours que costumam ficar repletos de analistas e gestores nos bares moderninhos do Itaim não contam com a presença do fundador da Forpus – ele prefere se manter imerso nas análises do fundo e raramente aparece em eventos sociais.

De uma sala bem decorada no terceiro andar em um edifício da Faria Lima ele dedica todo seu tempo a blindar os investimentos do Forpus FIA dos prováveis solavancos que devem acontecer nos próximos meses. “Vou dar um exemplo. Digamos que a bolsa caia 50% até as eleições e depois suba 300%. O fundo não pode cair estes 50%. Por isso precisamos tomar muito cuidado com o curto prazo”, destaca.

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O fato de haver uma data marcada para um evento tão importante – o dia das eleições – facilita o trabalho de proteção da carteira com a utilização de opções, que também possuem data de vencimento – chamado de strike. “Quando você sabe a data em que algo tão importante vai acontecer consegue comprar as opções específicas para fazer o hedge”, explica. Entre as opções de compra com vencimento pós eleições estão calls de Sabesp e Cemig, que podem se beneficiar de vitórias de Antonio Anastasia e João Dória em Minas Gerais e São Paulo, respectivamente.

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Atualmente, entre 2% e 4% do PL é composto por opções. Essa estratégia, inclusive, foi responsável por um retorno de nada menos que 72% do fundo em um único mês. Em março de 2016, o gestor tinha na carteira opções de compra de várias estatais (usadas como hedge) quando o ex-deputado Delcídio Amaral decidiu fazer acordo de delação premiada em que complicava a vida de Dilma e Lula. O mercado, claro, ficou otimista com uma possível queda da então presidente e encheu o carrinho de ações estatais, jogando o preço das calls lá para cima. O resultado foi esta “porrada” histórica nas cotas do fundo.

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Desde que foi aberto, em março de 2015, o Forpus FIA rendeu 121%, contra 50% do Ibovespa no mesmo período. No ano, a alta é de 3,23%, contra queda de 4,76% do principal índice da B3*.

*Os dados são até o final de junho/18

Presidente melhor do que se espera

Mas se ao mirar nos próximos meses os olhos do gestor enxergam forte neblina, no longo prazo o céu se torna bem mais claro. “Estamos bastante pessimistas com o curtíssimo prazo, mas muito otimistas para depois das eleições. Achamos que qualquer candidato que ganhe tornará a situação do país muito melhor do que as pessoas pensam por aí”, pondera.

A explicação é relativamente simples. Enquanto a situação atual é de extremo desconforto e desaprovação da população com o governo, após as eleições isso automaticamente deve mudar. “O Temer tem só 4% de aprovação. Já o presidente que for eleito terá no dia seguinte pelo menos 50% de aprovação (já que ao menos seus eleitores estarão satisfeitos). Então será criado um ambiente político muito mais positivo e legítimo para fazer as reformas no congresso”, explica.

Essas reformas, inclusive, são o principal entrave para que o país de fato volte a andar.  “A inflação já caiu. Os juros estão lá embaixo. O que não está resolvido é a parte política. E as reformas terão de ser feitas, por qualquer candidato que for eleito, senão ele não conseguirá governar. Por isso nosso otimismo no longo prazo”, afirma Andrade.

Carteira defensiva

As perspectivas negativas de curto prazo refletem na carteira do Forpus FIA. Papéis da Fibria e Suzano, por exemplo, estão presentes no portfólio. No acordo de fusão das duas companhias ficou definido que para cada ação da Fibria será pago R$ 52,50 em dinheiro mais 0,4611 ações da Suzano. Como esses R$ 52,50 serão corrigidos pelo acumulado do CDI de março até a conclusão do negócio, o mercado enxerga o upside das ações da Fibria com 80% de retorno do CDI e os outros 20% de variação dos papéis da Suzano. “Então a ação é basicamente uma renda fixa com um pouco de renda variável. Por isso é um papel interessante e se os juros subirem fica melhor ainda”, diz. Além disso, as ações se beneficiam com a alta do dólar.

Ações de empresas de plano de saúde como Notre Dame, além de indústrias, como Metal Leve, Tupy e Ioschpe Maxion, também fazem parte da estratégia comprada no fundo – eles operam atualmente com 130% do net (saldo líquido) em posições long (compradas) e 30% em short (vendidas).

No setor de varejo a única grande aposta está nas ações da Magazine Luiza.  “Eu acho que é um papel que está com múltiplos baratos, levando em conta que agora a companhia mudou e é basicamente do business de tecnologia, com bastante crescimento previsto”, diz Andrade.

Já na lista dos papéis a evitar estão as estatais e o setor bancário, que pode se prejudicar de uma possível alta de juros e consequente diminuição de crédito.

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Diego Lazzaris Borges

Coordenador de conteúdo educacional do InfoMoney, ganhou 3 vezes o prêmio de jornalismo da Abecip