Fundos quantitativos chegam a render 38% em 2020, com volatilidade do coronavírus como aliada

Gestão da carteira desses produtos é feita a partir do uso de algoritmos; momentos de crise tendem a realçar eficiência dos modelos

Ana Paula Ribeiro

(Crédito: Shutterstock)

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SAO PAULO – Coletar o maior número possível de dados econômicos, transformá-los em informações e, com base nelas, decidir em quais ativos aplicar. Essa é a ciência que está por trás dos fundos quantitativos, que fazem a gestão da carteira a partir do uso de algoritmos (complexos modelos matemáticos).

Foi também o uso dessa ciência que permitiu que boa parte dessas carteiras tivesse desempenhos positivos e, em alguns casos, expressivos durante a forte volatilidade causada pela pandemia do coronavírus, caminhando para encerrar um ano tão complicado no “azul”.

Mas o que esses fundos diferem de um em que as opções estão nas mãos de um gestor? Basicamente, eles têm uma capacidade de processamento de informações muito maior do que qualquer humano e as decisões são tomadas com base em parâmetros pré-estabelecidos, sem interferência de preferências ou emoções.

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“Trabalhamos em buscar um algoritmo que, em um momento de maior adversidade, fará o fundo perder pouco. Quando o momento for favorável, que seja possível ganhar muito”, diz Rodrigo Maranhão, sócio e gestor da Kadima Asset, uma das gestoras mais tradicionais no Brasil na modelagem de fundos quantitativos (também conhecidos como sistemáticos).

Maranhão explica que isso ocorre porque, em geral, esses fundos são descorrelacionados dos principais referenciais da indústria de investimentos, ou seja, eles não seguem a mesma tendência.

O Kadima II, o mais antigo da gestora, registra ganho de 3,5% no ano. Ele é classificado como um multimercado, assim como a maior parte dos fundos quantitativos, por buscarem alternativas de investimento em diferentes mercados.

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A título de comparação, o IHFA, índice que mede o desempenho dos multimercados de gestão ativa, acumula no ano um ganho de 4,65%.

Maranhão destaca que esses fundos tendem a apresentar melhor desempenho em momentos de alta volatilidade, mas que não é apenas um produto que será uma “bala de prata” para o investidor.

“Não existe um produto mágico em que será possível ganhar dinheiro para sempre. Isso é charlatanismo. O que existe são produtos que vão performar bem em melhores cenários”, afirma, destacando a importância da diversificação.

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Como os fundos quantitativos desempenham melhor em momentos de maior volatilidade, tiveram ganhos mais expressivos na primeira metade do ano, quando o mundo foi atingido pela pandemia do coronavírus.

Pedro Simonetti, gestor da Giant Steps, divide os mercados em dois momentos. Aquele em que os fundamentos prevalecem e as estratégias de investimento fazem sentido, e em outro regime, quando todas as premissas caem por terra, a volatilidade aumenta e os gestores e investidores não conseguem mais operar apenas olhando para os fundamentos.

“O coronavírus mostrou isso. Entre o Carnaval e março, pelos fundamentos, muitos ativos estavam baratos, mas ainda assim as ordens de venda se sobressaíram e todos os ativos caíram com força”, assinala.

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É nesse momento que os algoritmos podem se destacar. Segundo Simonetti, os dois principais fundos da Giant, o Darius e o Zarathustra, funcionam como radares dos mercados de câmbio, juros, commodities e Bolsa, e buscam identificar quando algum desses ativos será dominado por pânico (elevando as vendas) ou euforia (com um forte movimento de compra) e, então, montar as posições de investimento com antecedência.

“No início do ano, o mercado estava todo no ‘bull market’. Nos primeiros dias do coronavírus, os algoritmos identificaram o padrão e começaram a reduzir as posições em ações e a comprar dólar”, diz.

Para ele, o que o uso de algoritmos faz é potencializar a capacidade do gestor, já que ele sozinho não possui uma capacidade de análise tão grande, e o sucesso, ou derrocada, de um fundo quantitativo está baseado na qualidade das premissas que são colocadas nos algoritmos.

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“Tudo é feito com uma série de ‘se isso acontecer’ e quem cria isso são pessoas”, explicou – no caso da Giant, essa equipe de gestores acumula 45 medalhas em competições de matemática.

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Simonetti acredita que esse tipo de fundo serve para proteger e complementar a carteira de um investidor e que a alocação vai depender de seu perfil. Um mais conservador não deveria ter mais de 5% em um fundo quantitativo. O mais moderado, cerca de 10%, e aquele agressivo, o que justamente está exposto a mais perda, 20%.

“Funcionamos como uma fábrica. Cada um faz uma parte. É um processo de criação de ideias massificado”, resume.

No momento, essa fábrica de ideias aponta para a recuperação da economia global e, por isso, as maiores exposições estão no exterior. No Zarathustra e no Darius, metade da alocação está em ativos no exterior e, no Sigma, 80%.

Fração da carteira do investidor

Vitor Noronha, planejador financeiro CFP e fundador da K1 Capital Humano, lembra que fundos quantitativos não são uma categoria, mas, sim, uma forma de fazer a alocação de maneira automatizada, ficando menos dependente das interferências do gestor.

“São fundos que operam automatizados e dependem menos da interação humana. Quando olhamos os resultados, eles são fundos mais descorrelacionados da indústria”, explica.

Apesar dessa descorrelação, Noronha não vê o produto como um instrumento clássico de proteção da carteira. E embora acredite que esses fundos estão em uma tendência de crescimento no Brasil, o fato de terem um histórico de resultados mais curto faz com que a exposição a eles deva ser mais limitada.

“Esses fundos no Brasil ainda vão precisar se provar ao longo dos anos”, diz, acrescentando que a participação na carteira do cliente vai depender do nível de risco a que cada um está disposto a correr, mas que o ideal é que não passe de 10% ou 15%.

Na avaliação da planejadora financeira CFP Letícia Camargo, não é possível falar em exposição máxima a um fundo quantitativo, porque a alocação vai depender da categoria em que o produto está inserido (ações ou multimercados) e também da volatilidade.

“Mas são boas opções de diversificação. O papel do gestor nessas carteiras é o de estabelecer as premissas, mas toda a decisão de investimento será feita pelos algoritmos, sem interferência humana”, pontua.

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Ana Paula Ribeiro

Jornalista colaboradora do InfoMoney