Fundos mudam posições após “tempestade perfeita” com fiscal no Brasil e reviravolta externa; veja apostas

As maiores alterações foram em alocações ligadas a juros. Em carta mensal, a Legacy destacou que reduziu parcialmente exposição aplicada em renda fixa

Bruna Furlani

(Gettty Images)

Publicidade

O ceticismo com a meta do governo de zerar o déficit fiscal do ano que vem sem aumento de arrecadação, aliado a uma piora no cenário externo com o avanço dos juros futuros mais longos nos EUA, impuseram mudanças aos fundos de investimento multimercado em setembro.

As maiores alterações foram em posições ligadas a juros. Em carta mensal, a Legacy destacou que reduziu parcialmente a alocação aplicada (que se beneficia da queda) em renda fixa no mês de setembro.

Segundo a gestora, o deslocamento dos juros nos EUA foi transmitido a praticamente todos os demais países, e poderia afetar economias que já iniciaram o ciclo de afrouxamento monetário, como o Brasil.

Continua depois da publicidade

O efeito prático seria uma redução menor dos juros.

A hipótese de juros de equilíbrio mais altos tende a encontrar eco em economias que seguem com dinâmica de crescimento favorável, a despeito do aperto monetário, como, por exemplo, Brasil e México

Legacy

Na avaliação da gestora, a expectativa de juros mais altos nos Estados Unidos foi impulsionada pelo crescimento do déficit fiscal, a necessidade de recomposição do caixa do Tesouro e a menor propensão de alguns países para acumular os títulos do Tesouro americano (Treasuries).

Por volta das 13h30 (horário de Brasília), os rendimentos oferecidos pelo título americano de dez anos chegavam a 4,788%. Na máxima intradiária desta terça-feira (3), a taxa bateu 4,797%, valores mais altos vistos desde 2007.

Continua depois da publicidade

Para a Legacy, o cenário atual favorece a alocação no aumento da inclinação da curva de juros (maior diferença entre as taxas de curto e longo prazo) dos EUA. Na carta mensal, a gestora sinalizou que deve montar novamente a posição.

Impacto vindo de fora

A piora no cenário externo pesou contra o fundo Legacy Capital B FIM, que fechou o mês com perdas de 1,03%, abaixo do CDI, que encerrou em 0,97%. Segundo a gestora, posições que se beneficiam de queda de juros foram os principais responsáveis pelo baixo desempenho.

Já a Occam destacou que a percepção de que os juros permanecerão elevados por mais tempo no mundo, somada à postura mais dura do Federal Reserve (Fed, banco central americano), amplificaram o movimento altista nas taxas.

Continua depois da publicidade

“Por conta dessa dinâmica, encerramos as posições em curvaturas de juros que tiveram bons resultados e zeramos as exposições aplicadas em juros nos países desenvolvidos”, ponderou a gestora.

Leia mais:
Galapagos aumenta lista de aquisições e sela compra da gestora Frontier Capital

Já no livro de moedas, a Occam informa que trocou a venda de euro por posições vendidas (que se beneficiam da desvalorização) em libra esterlina e real – mantendo a visão mais positiva em relação ao dólar americano.

Continua depois da publicidade

Dentro da Ibiuna também houve alterações. A gestora informou que reduziu o risco de posições no exterior e que concentrou o portfólio em alocações que se beneficiam de quedas de juros em países emergentes com maior perspectiva de queda de taxas, ou de precificação do início do ciclo de relaxamento monetário neste último trimestre.

O fundo Ibiuna Hedge também foi penalizado em setembro pela mudança de projeções no comportamento dos juros em países emergentes, mais especificamente por posições que apostavam no recuo dos juros nominal e real (descontada a inflação) no Brasil. No mês, o produto encerrou com perdas de 0,87%.

Para além dos juros, outro fator colocado como risco no cenário externo por algumas casas está ligado à alta nos preços de petróleo. Na avaliação da Legacy, a continuação da elevação dos preços da commodity teria que ser vista sob duas perspectivas.

Continua depois da publicidade

Por um lado, a alta dificultaria o trabalho dos bancos centrais, à medida em que poderiam aumentar as expectativas de inflação. Por outro lado, poderia contribuir para intensificar a desaceleração da atividade econômica, ao impor uma redução ainda maior na renda disponível dos consumidores, acrescenta a Legacy.

Fragilidade do cenário fiscal exige trocas

Uma piora no cenário fiscal brasileiro também impôs mudanças nas posições locais dentro da Occam. Em carta mensal, a casa disse que encerrou as alocações em curvatura de juros.

“Nosso risco em Brasil segue reduzido, e com um viés levemente negativo”, alertou a gestora.

Sobre a Bolsa, a Occam destacou que o setor elétrico ganhou relevância na carteira e que virou o segmento de maior peso, seguido pelo financeiro não-bancário e por energia.

Leia mais:
Credz suspende pagamento de dívida e pode colocar debêntures em risco às vésperas de M&A

Na ponta oposta, a gestora afirmou que o setor de consumo é o segmento em que a casa está com uma visão mais abaixo da média de mercado (underweight).

Já entre os multimercados da Occam, apenas o Institucional II FIC FIM foi capaz de superar o CDI neste mês, ao entregar um retorno de 1,00%.