À procura de ouro: fundos brasileiros estão se aproveitando da disparada do preço do metal

Gestoras como SPX, Truxt, Novus, Gauss e Kapitalo estão com alocação em ouro, em ambiente de juros baixos, maiores incertezas e de compras por grandes bancos centrais da moeda

Beatriz Cutait

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SÃO PAULO – Uma combinação de incertezas com relação aos rumos da economia mundial – entre elas, a guerra comercial entre Estados Unidos e China e uma nova rodada de afrouxamento monetário feita pelos bancos centrais mundo afora – voltou a colocar um ativo em evidência: o ouro.

Commodity a qual investidores recorrem especialmente em momentos de maior insegurança, o ouro vem sendo mais procurado por investidores. No Brasil, gestoras como SPX, Truxt, Novus, Gauss e Kapitalo colocaram o metal nas carteiras de seus fundos – e vêm ganhando com isso. 

O contrato futuro de ouro mais líquido negociado no mercado americano já acumula valorização de 26,4% nos últimos 12 meses, cotado acima dos US$ 1.500 a onça troy, com alta de 17,5% apenas neste ano (uma onça troy equivale a cerca de 31 gramas).

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Por trás da disparada do ouro está um movimento comprador por parte de bancos centrais de grandes economias, como China e Rússia, e até de países menores, como Polônia, além do aumento do fluxo de recursos para ETFs (fundos de índices com cotas negociadas em Bolsa) atrelados à commodity.

Há, sim, uma busca por hedge, mas o ouro também é colocado em uma categoria de retorno atrativo, beneficiado pelas taxas de juros em níveis historicamente baixos, que têm desafiado investidores a garantirem bons retornos em suas aplicações financeiras. Há hoje por volta de US$ 15 trilhões aplicados em títulos com retornos abaixo de zero, e o mercado financeiro está sendo forçado a reavaliar seus portfólios em busca de rentabilidade.

Embora nenhuma das casas consultadas trabalhe com um cenário de recessão, todas deixam claro que estão atentas à nova configuração da economia mundial, aos sinais de alerta recentes e de olho na busca de investidores por produtos alternativos, em um ambiente de juros muito baixos.

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O tom favorável para a moeda ganhou ainda mais destaque a partir de uma publicação do lendário investidor Ray Dalio, fundador da Bridgewater Associates, que administra um dos maiores hedge funds do mundo. No artigo “Paradigm Shifts” (Mudanças de Paradigma, em português), publicado em julho, Dalio defendeu a exposição ao ouro, ressaltando que adicionar o ativo aos portfólios é uma forma de, ao mesmo tempo, reduzir o risco das carteiras e melhorar o retorno esperado.

A alocação também é defendida por gestores brasileiros.

“O ouro tende a se valorizar quando as moedas perdem valor, o que pode acontecer por pressão inflacionária, que não é o caso, ou por conta do afrouxamento da política monetária. O movimento de corte de juros contribui para a perda de atratividade do carrego da moeda, e tende a beneficiar commodities como ouro”, diz Matheus Abuchaim, gestor do portfólio internacional da Gauss.

Ele destaca otimismo com o ciclo de expansão mundial, mas reforça maior cautela com os alertas dados nos últimos tempos. “Estamos comprados em bolsa e em ouro, que protege a carteira em um sinal de migração para a recessão”, diz Abuchaim, reforçando que este não é seu cenário base.

Bull market de ouro?

Com R$ 12 bilhões sob gestão, a Truxt Investimentos tem, desde o início do ano uma alocação em ouro em seu fundo macro. A exposição à moeda está hoje em torno de 5% e pode chegar a 10%. Segundo Rafael Gaspar, gestor da estratégia macro focado em mercados internacionais, a alta da moeda neste ano foi pequena perto do que pode estar por vir.

“O racional da posição é como se tivesse aplicado em juro real. Este pode vir a ser um grande ‘bull market’”, diz, ressaltando o volume de US$ 15 trilhões aplicados hoje no mundo em taxas negativas. “A curva nominal na Suíça e na Alemanha já está com taxa negativa. Esse ambiente traz uma chance muito grande para o ouro, até porque também estamos num cenário de polarização global de risco político. Nesse ambiente de incerteza, o ouro sempre sobe”, ressalta Gaspar.

As manobras de Donald Trump contra a economia chinesa podem enfraquecer o dólar e estimular ainda mais a demanda pelo ouro. A moeda é tida como uma das poucas alternativas para juros reais hoje, com um ambiente de retornos mais baixos e de maior aversão a risco, reforça José Tovar, CEO da Truxt.

Há, contudo, uma preocupação com relação à velocidade da valorização da moeda. “O ouro subiu 16% no ano, dá um pouco de medo. A gente fica dosando o tamanho da exposição de acordo com movimentos de curto prazo”, diz Tovar.

Ouro como hedge

A percepção de um ciclo de piora nas economias globais, que levaria a um maior afrouxamento monetário pelos bancos central, foi o que deu suporte para a Novus Capital começar a montar posição em ouro, por volta do início do ano. “Com os juros cada vez mais para próximo de zero em algumas economias e, em outras, já negativos, você vai chegar a um ponto em que as pessoas não vão mais querer ter determinadas moedas”, diz Ricardo Kazan, sócio e gestor da Novus Capital. “É uma apropriação da poupança.”

Em sua avaliação, o mundo está se aproximando de um limite em termos de estímulos monetários a serem dados e há, inclusive, um questionamento sobre se os instrumentos a serem adotados pelos bancos centrais terão eficácia e qual será o impacto deles mais à frente.

Por isso, o ouro é tido como um hedge da carteira, com alocação de 10% a 15% no fundo Novus Macro, percentual que já chegou a 30% no ano. “O ouro cumpre mais o papel de hedge que o dólar, que é relativo, sempre contra alguma moeda, o que torna mais difícil ter uma opinião. O ouro não tem contra quem se desvalorizar”, ressalta Kazan.

A Kapitalo também já reduziu a exposição ao ouro em seu multimercado Kapitalo K10, de cerca de 20% para 10%. Mais cauteloso, Bruno Cordeiro, diretor e gestor de carteiras da casa, diz que duas decisões de política monetária ficaram aquém do idealizado, nos Estados Unidos e na Europa. Os preços atuais da commodity também já indicam que o call ficou mais consensual, o que pode diminuir o espaço para valorização adicional.

De toda forma, mais uma vez as compras de ouro pelos bancos centrais são apontadas como um elemento a favor da moeda, exercendo um suporte de médio prazo. Hoje a Kapitalo tem posição comprada em ouro, iene e dólar como porto seguro para a carteira, com a avaliação de um ambiente externo desfavorável.

Recessão

A Truxt não trabalha com um cenário de recessão nos Estados Unidos, mas diz estar com o “alerta ligado”. “Essa guerra comercial vai virar uma guerra de tecnologia e essa espada vai ficar no nosso pescoço por muito tempo. Estamos bem defensivos lá fora”, afirma Gaspar, citando ainda uma posição mais tática, vendida no índice americano S&P 500.

Embora analise o cenário de desaceleração global, Kazan, da Novus, destaca que a economia americana segue em um patamar relativamente positivo. A dúvida é justamente se os Estados Unidos vão se acoplar ao ciclo de desaquecimento mundial ou vão manter uma história independente. “Não estou conseguindo ver o que vai fazer a economia externa se acelerar, vejo mais motivos para uma piora”, observa.

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Beatriz Cutait

Editora de investimentos do InfoMoney e planejadora financeira com certificação CFP, responsável pela cobertura do universo de investimentos financeiros, com foco em pessoa física.