Moderadamente otimista, Stuhlberger não vê motivo para ser catastrófico no curto prazo

Gestor do renomado fundo Verde enxerga tendência de melhora da economia brasileira e PIB com potencial para surpreender positivamente

Beatriz Cutait

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SÃO PAULO – Conhecido por seu pessimismo, Luis Stuhlberger, gestor do lendário fundo Verde, animou os participantes de sua palestra neste sábado, na Expert XP 2019, realizada em São Paulo. Ele demonstrou uma visão construtiva com o Brasil, se disse “cautelosamente otimista”, citando oportunidades na Bolsa e até em parte dos juros, além de ressaltar uma surpresa positiva com a primeira indicação de aprovação da reforma da Previdência na Câmara dos Deputados e descartar uma recessão de curto prazo nos Estados Unidos.

“A gente está moderadamente otimista, não vê no curto prazo nenhum motivo para ser catastrófico”, afirmou o gestor, em referência ao cenário brasileiro e ao externo.

Para Stuhlberger, a tendência é de melhora da economia, com uma mudança de humor que se reflita em investimentos. Na parte política, o gestor se mostrou surpreso com o empenho recente do Congresso na tramitação previdenciária e o caminho para que a economia alcance R$ 1 trilhão.

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“Saímos de um cenário de explosão fiscal para finalmente entrar numa rota final de país de responsabilidade. A reforma ainda não aconteceu, mas, assumindo que ela saia dessa forma [com a economia na casa do trilhão de reais], a gente está extremamente otimista, dado que se fez algo de magnitude muito acima do que se esperava”, afirmou o gestor, para quem a reforma da Previdência é a mais difícil de todas.

As expectativas menos otimistas do mercado financeiro e os dados mais fracos de atividade não estão atrapalhando o horizonte traçado pela casa, já que, pela primeira vez, o país vive a reforma e um juro “civilizado e baixo para os padrões históricos”, apontou o gestor. “O Brasil está crescendo pouco, mas pelo menos agora nosso crescimento não vai ser a base de esteroides. Agora a gente vai crescer com as nossas próprias forças, e não usando artifícios econômicos.”

Com uma visão mais tranquila para seus próprios padrões, Stuhlberger comentou sobre a descrença do mercado com a economia. “Normalmente ser contrarian não é uma coisa boa”, afirmou, ressaltando que, no geral, o consenso está certo, mas que, na questão do crescimento do PIB, o Brasil poderá surpreender positivamente.

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Alocação do Verde

Ao falar da alocação do fundo multimercado, Stuhlberger abriu as observações pela Bolsa, na qual enxerga maior potencial de crescimento nas empresas que vão além do setor financeiro e de commodities. Esse “resto” das companhias, como o gestor se referiu, compreende um universo de 70 a 80 empresas e, ainda que esteja com uma relação preço/lucro mais alta, elas poderão apresentar resultados mais atrativos com o tempo. Por isso, boa parte da carteira está investida nesse grupo, tido como nem caro ou barato.

“Bancos reagiram bem, commodities voltaram, mas essas outras empresas estão com uma lucratividade muito abaixo dos padrões históricos. A margem Ebitda delas está abaixo da média em 2% a 3%”, afirmou.

Na renda fixa, embora grande parte do movimento de fechamento da curva de juros já tenha acontecido, com a redução significativa dos prêmios, papéis indexados à inflação (NTN-Bs) de longo prazo guardam ainda oportunidades.

Por fim, o mercado cambial foi apontado pelo gestor como o mais complicado. Stulhberger enxerga uma tendência de enfraquecimento do dólar perante as moedas globais, o que poderia abrir espaço para a valorização da divisa brasileira, mas vê a cotação de R$ 3,80 como um preço justo. A parte cambial não ocupa uma posição relevante no fundo hoje.

NTN-Bs e ações (Ibovespa e papéis de empresas específicas com grande potencial de crescimento) respondem pelos principais ativos da carteira.

Mercado internacional

O gestor do Verde também apresentou uma visão moderada sobre o ambiente internacional e indicou não trabalhar com um cenário de recessão no curto prazo, com um tom diferente do de outros gestores renomados do mercado, que também expuseram suas visões na Expert mais cedo.

Segundo Stuhlberger, o PIB potencial dos países ricos não é maior que 2,5%, em meio a economias em desaceleração, uso de artificialidades pelos bancos centrais, envelhecimento da população e um ambiente deflacionista. E a tendência é esse quadro se manter por “muito tempo”. “Estamos vendo a mesma coisa que aconteceu no Japão acontecendo na Europa.”

Os Estados Unidos, contudo, são o grande outlier, ainda que haja incertezas pela frente “O cenário é de crescimento baixo e taxas de juros baixas, mas não quer dizer que vai ter uma recessão nos Estados Unidos ano que vem”, afirmou.

O déficit fiscal americano começa a ficar perigoso, mas o gestor do Verde vê possíveis interferências do governo e do Fed (o banco central do país) para conter o problema.

Já a guerra comercial entre os EUA e a China são fonte de preocupação e o confronto ainda pode gerar algumas consequências sobre o mercado, o que é um dos motivos pelos quais o fundo Verde zerou a exposição a ações globais.

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Beatriz Cutait

Editora de investimentos do InfoMoney e planejadora financeira com certificação CFP, responsável pela cobertura do universo de investimentos financeiros, com foco em pessoa física.