Os melhores fundos de ações e multimercados de março – e o que preocupa os gestores

Carteiras com forte exposição ao câmbio e a ativos no exterior responderam pelos principais desempenhos do mês passado. Desaceleração da economia americana está no radar dos gestores.

Beatriz Cutait

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SÃO PAULO – Depois dos sustos de fevereiro e março, o investidor brasileiro tenta preservar a calma nos primeiros dias de abril, em meio a um ambiente de tensões políticas permanentes e sem prazo para acabar. Ainda que as preocupações com a reforma da Previdência e suas consequências sobre a confiança e a retomada da economia brasileira persistam, os dias têm sido um pouco menos pesados no mercado financeiro, o que tem ajudado a Bolsa a voltar a subir.

Passado um período de maior volatilidade, que levou o Ibovespa a romper os sonhados 100 mil pontos no mesmo mês em que registrou leve queda, o índice sobe 2,05%, em abril, e acumula valorização de 10,8%, em 2019.

E quem são e o que pensam os gestores que têm conseguido se destacar neste ano, em um ambiente de nervos tão à flor da pele?

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Levantamento elaborado pela equipe da XP com base em dados da Economatica revelou que fundos multimercados e de ações com exposição a ativos no exterior e BDRs e focados em estratégias quantitativas estão entre os destaques de alta de março e, em muitos casos, do ano.

E não foi à toa, já que as bolsas americanas continuam a surpreender os investidores, com um forte desempenho no primeiro trimestre. No período, o índice S&P 500 teve alta de 13%, a melhor trajetória em um primeiro trimestre desde 1998.

Dentre os melhores fundos multimercados de março, destaque para Safra S&P FI Multimercado (6,45%), Bradesco FI Multimercado Global Investimento no Exterior Balanced (5,26%), Itaú Feeder Active Asset Allocation Moderate Multimercado Investimento no Exterior FI (5,07%), Kadima High Vol FI Multimercado (5,01%) e M Square Global Equity Managers Institucional Ficf (4,87%).

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Na classe de ações, os melhores desempenhos partiram dos fundos Western Asset FIA BDR Nível I (6,91%), Safra Consumo Americano Fc FIA BDR Nível I (6,37%), Caixa FIA BDR Nível I (6,19%), Dynamo Global FIC FIA Investimento no Exterior (6,02%) e Bradesco FICFIA BDR Nível I (3,89%).

O Ibovespa, referencial dos fundos de ações, teve leve queda de 0,18% em março, enquanto o CDI, principal benchmark dos fundos multimercados, teve variação de 0,47%. 

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O curioso do mês passado e do primeiro trimestre de maneira geral é que fundos com uma característica de proteção do portfólio, com maior diversificação de ativos e bons desempenhos justamente quando a média do mercado vai mal é que têm liderado os rankings, como você observa a seguir.

Confira a seguir os 10 melhores fundos de ações e multimercados de abril, observando ainda seu desempenho em 2019, nos últimos 12 meses e em 36 meses. Retorno passado não é garantia de rentabilidade futura, mas é interessante analisar o desempenho histórico dos fundos para observar sua consistência.

Para a análise, foram considerados fundos não exclusivos com patrimônio líquido superior a R$ 100 milhões e mais de 99 cotistas, no fim de março. No caso dos fundos de ações, foram ainda excluídos os setoriais e monoações. 

Os melhores fundos de ações

Fundos de ações Março 2019 12 meses 36 meses
Western Asset FIA Bdr Nivel I 6,91% 13,82% 29,72% 49,38%
Safra Consumo Americano Fc FIA Bdr Nivel 6,37% 14,06% 31,68% 68,56%
Caixa FIA Bdr Nivel I 6,19% 12,90% 27,08% 47,20%
Dynamo Global FIC FIA Ie 6,02% 16,45% 24,03% 23,50%
Bradesco FICFIA Bdr Nivel I 3,89% 9,53% 17,56% 35,06%
Vic Global Rv Fc FIA Ie 3,40% 12,05% 18,07% 40,28%
Hayp FIA 2,67% 14,18% 28,75% 222,89%
Equitas Selection Fc FIA 1,91% 8,52% 22,11% 122,79%
Atmos Ações FICFIA 1,60% 9,88% 27,78% 82,78%
Vista FIA 1,57% 11,58% 30,86% 129,28%
IBOVESPA -0,18% 8,56% 11,77% 86,52%


Os melhores fundos multimercado

Fundos multimercados Março 2019 12 meses 36 meses
Safra S&P FI Mult 6,45% 15,78% 29,13% 57,24%
Bradesco FI Mult Global Ie Balanced 5,26% 6,69% 19,98%
Itau Feed Act Asset Allo Mod Mult Ie FI 5,07% 7,39% 20,98% 20,36%
Kadima High Vol FI Mult 5,01% 1,76% 15,04% 39,73%
M Square Global Equity Managers Institucional Ficf 4,87 14,52% 24,39% 52,35%
Sant Select FIC Global Equities Mult Ie 4,06% 10,37% 16,27% 34,48%
Santander Selecao Long Biased Mult Fc FI 3,34%
Kadima II FICFI Mult 2,85% 1,58% 10,88% 33,19%
Murano FICFI Mult 2,19% -1,70% 12,41% 32,60%
Itau Private Mult S&P500 Brl FICFI 1,98% 13,58% 11,40%
CDI 0,47% 1,51% 6,34% 31,25%

Fonte: XP Investimentos, com base em dados da Economatica.

Com 100% do patrimônio alocado em BDRs, o fundo da Western Asset tem se beneficiado do bom desempenho das ações americanas e da alta do dólar.

Segundo Marcelo Guterman, especialista de Investimentos da Western no Brasil, hoje 25% da alocação do fundo está em empresas de tecnologia. Um dos principais desafios da gestora é justamente a baixa oferta de BDRs no Brasil, o que faz com que a gestão tenha que ser mais ativa.

Ainda que o fundo da Western venha colhendo frutos do câmbio e do mercado americano, as perspectivas são incertas. “Vemos a bolsa bem precificada. Ela não está absurdamente cara, embora não esteja barata. Tem fatores que podem pesar, como a percepção de desaceleração da atividade econômica”, diz Guterman.

Do lado do câmbio, a ajuda também deverá ser interrompida. Com o Fed, o banco central americano, parando de subir os juros e a reforma da Previdência aprovada, a expectativa é de que o movimento de valorização do dólar perca força, segundo o especialista. Justamente pelo risco cambial e de ações no exterior que o fundo de BDR deve ser visto como uma ponta de diversificação no portfólio do investidor.

A visão é compartilhada pela equipe da Bram (Bradesco Asset Management). “A probabilidade de a recessão americana vir aumenta a cada trimestre. Dito isso, a perspectiva segue forte, otimista, mas estamos sempre de olho no nível de atividade lá fora, que pode voltar a cair”, aponta Marcelo Nantes, superintende de renda variável da Bram.

A gestão do fundo de BDRs também é ativa, o que permite a adoção de estratégias defensivas, mas não há como escapar de uma inversão de rumo da economia americana, reforça Roberto Shinkai, gestor dos fundos internacionais da Bram.

“É o final do ciclo? Sim. Depois de dez anos, é claro que vamos ver uma desaceleração, mas ela pode acontecer de forma abrupta ou não. A gente tem que monitorar os dados, que hoje estão positivos”, diz Shinkai, para quem o investidor deve ter sempre uma parcela do patrimônio alocada em ativos no exterior.

O fundo multimercado do Bradesco também aparece no ranking de março, com uma exposição de 100% no mercado internacional, em renda fixa e variável.

Volatilidade como aliada

Além de uma gestão focada no exterior ter rendido bons frutos neste início de ano, a volatilidade foi aliada de fundos multimercados com estratégia quantitativa, como os da Kadima.

Neles, nenhuma decisão de investimento é feita com base nas perspectivas para o cenário macroeconômico, mas por meio de algoritmos. São modelos matemáticos e estatísticos que definem a alocação.

E qual é o principais gatilho para o seu desempenho? A volatilidade, explica Rodrigo Maranhão, diretor de gestão da Kadima. Por isso que o mês de março foi tão benéfico para o fundo da casa.

Períodos marcantes, como o da crise internacional, em 2008, do impeachment, em 2016, e o “Joesley Day”, em maio de 2017, são amostras do bom desempenho do fundo em meio ao aumento da volatilidade.

E a perspectiva é de que a instabilidade deste ano permaneça acentuada. “Motivos não faltam para acreditar que vai continuar tendo volatilidade no mercado, para o bem e para o mal. Nem é preciso falar do mercado nacional, mas, mesmo lá fora, tem uma chance muito maior de a volatilidade ficar em um nível elevado”, diz Maranhão.

A lógica, contudo, é a mesma dos fundos de BDRs e com grande alocação internacional: os fundos da Kadima devem ser vistos como um mecanismo de diversificação da carteira. Ainda mais neste momento.

Captação dos fundos

No primeiro trimestre deste ano, os fundos de investimento tiveram captação líquida de R$ 47,8 bilhões, uma queda de 18,2% sobre o mesmo período de 2018. Os dados, da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), revelaram menor procura pelos fundos multimercados e crescimento do interesse pelas carteiras de ações.

Enquanto a captação dos multimercados caiu quase 65% de janeiro a março, para R$ 12,4 bilhões, os fundos de ações tiveram ingressos líquidos de R$ 12 bilhões, um aumento de 21,2% na base anual. 

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Beatriz Cutait

Editora de investimentos do InfoMoney e planejadora financeira com certificação CFP, responsável pela cobertura do universo de investimentos financeiros, com foco em pessoa física.