Gestores multimercados revelam estratégias para investir em ano eleitoral

Equipes de fundos multimercados deve ser multidisciplinar para identificar oportunidades em momentos voláteis  

Paula Zogbi

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SÃO PAULO – Volatilidade é a palavra mais usada no mercado financeiro brasileiro em 2018. Eleições, crise e guerra comercial são alguns dos fatores que transformam, direta ou indiretamente, a rotina do investidor em uma montanha-russa nestes meses. Mas volatilidade também é oportunidade, e é em cima desta turbulência que gestores multimercados devem trabalhar para oferecer o máximo retorno possível aos cotistas mesmo quando o cenário parece caótico.

Durante painel na 8ª Expert XP 2018, maior evento de investimentos do mundo, os gestores Luis Eduardo Portella, da Novus Capital, Júlio Fernandes, da XP Gestão e Gustavo Daibert, da Bahia Asset Management ensinaram a investidores, agentes autônomos e outros players do mercado financeiro suas estratégias para blindar os fundos dos efeitos negativos e aumentar a rentabilidade neste momento.

Em primeiro lugar, é essencial investir em uma equipe multidisciplinar para não deixar passarem oportunidades específicas. Portella, fundador da Novus, explica que esta tem sido sua grande aposta na jovem asset, que já nasceu com patrimônio de R$ 1,6 bilhão em ativos sob gestão.

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Como contornar o risco

No mercado nacional, boa parte dos gestores afirma apostar, por ora, em estratégias que blindam a carteira através da possibilidade de manutenção de posições vendidas. “Muita gente fala que devido às eleições fugiriam pros mercados internacionais”, diz Fernandes, da XP. “A gente tem que tomar cuidado, porque estar difícil no Brasil não significa necessariamente que surgirão oportunidades la fora. Lá é tão difícil quanto aqui”, diz. Como estratégia descorrelacionada dos resultados eleitorais, ele cita o Long & Short, que consiste em operações com posições simultâneas de compra e venda de ações possibilitando neutralidade na bolsa e, ao mesmo tempo, a busca pela rentabilidade através da performance da ponta ativa.

Para quem prefere apostar em ações da maneira mais tradicional, o foco mais interessante agora pode ser em exportadoras ou outras empresas com grande exposição ao mercado internacional. Na Bahia Asset, a posição principal é a mineradora Vale, cujo desempenho promete mostrar resiliência com a tendência de alta do minério e pouco comprometimento da receita para os próximos meses. Outro diferencial importante do papel é liquidez.

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“Nossa maior estratégia hoje é liquidez”, diz o gestor Gustavo Daibert. Ele garante que sua estratégia é não apostar em nenhuma ação de baixo nível de negociação na bolsa até que as eleições terminem. “Eu preciso poder mudar de ideia, preciso desse vetor a meu favor”, justifica. Tudo isso porque, graças ao forte braço de pesquisas com consultorias da asset, o gestor tem uma certeza sobre o futuro eleitoral do país: “não há informações suficientes disponíveis no mercado para tomar decisões de longo prazo”.

Mercados estrangeiros

Multimercados têm a vantagem de não precisar aplicar todos os recursos no mercado nacional. Normalmente, os gestores mantêm uma parcela pré-estabelecida fora do país, que pode ser explorada com maior ou menor importância dependendo do momento econômico. No caso do fundo da XP, a posição fora do Brasil é limitada a 25% do risco.

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Tanto Portella como os demais gestores que participaram do painel destacaram uma grande aposta para este momento: juros norte-americanos. Consistentemente, o Federal Reserve vem aumentando as taxas gradualmente desde 2015 – ainda que na última reunião tenham mantido o valor, a discussão dos membros do banco central já falaram sobre altas futuras.

Fatores macroeconômicos diversos, como os dados de emprego, também levam a crer que a alta está próxima. O gestor da Novus classifica este ativo como “muito confortável” neste momento, enquanto Fernandes, da XP Gestão, afirma estar aproveitando desta movimentação desde setembro de 2017.

No início do ano, os gestores perceberam também em moeda estrangeira um potencial relevante. O dólar vem se valorizando frente ao real graças ao cenário eleitoral, mas também vem forte na comparação com a Europa, cujo ritmo de crescimento não conseguiu acompanhar o dos Estados Unidos. Ainda em moedas, Portella diz que há grande potencial de valorização do peso mexicano para o curto prazo – tendência observada por sua equipe alocada em América Latina.

Nossos vizinhos, aliás, são observados por ambas as gestoras. “Assim como o Brasil, os outros países da América Latina são ineficientes, com liquidez baixa e distorções de preço”, diz Fernandes, da XP. “Se a gente replicar o que faz no Brasil para estes países, com pesquisa, fazendo um bom trabalho, tem um diferencial”, complementa. Um economista de sua equipe acaba de voltar da Colômbia e descobrir, por exemplo, que há oportunidade de investimento no mercado de juros do país.

Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney