Retorno de 300% da Selic chama atenção para o Venture Capital: vale o risco?

Saída animadora de startup da Barn Investimentos chega em momento oportuno para abrir os olhos do investidor mais corajoso a este mercado altamente arriscado

Paula Zogbi

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SÃO PAULO – Dezesseis vezes o capital investido. Este foi o tamanho do retorno que a Strider, startup de monitoramento de pragas para o agronegócio, conseguiu com o apoio do fundo de venture capital (VC) Barn Investimentos. Segundo a empresa, os investidores estão recebendo tudo o que aplicaram nos últimos 4 anos, com um ganho líquido equivalente a mais de 300% da taxa Selic no período. Foi a primeira saída positiva da Barn, que devolveu a seus investidores nada menos que quatro vezes o valor aportado 4 anos atrás, quando o capital de risco ainda era incipiente no Brasil. Agora, o fundo aposta no otimismo criado por histórias como esta para ganhar a tração que precisa e decolar de uma vez por todas.

Para o sócio-fundador do fundo, Flavio Zaclis, começar a ter saídas relevantes é condição importante para popularizar a ideia deste mercado. “Quando tivermos mais Striders, mais 99s, mostrando para quem está disposto a colocar dinheiro que dá para acreditar neste setor, o investidor começa a olhar mais para o venture capital”, diz.

Contribuirá para a escalada desta ideia a queda da rentabilidade da renda fixa atrelada à Selic. “Quando você tinha taxas de juros altíssimas era muito difícil [encontrar quem estivesse disposto a arriscar no Venture Capital]. Era um custo de oportunidade muito alto [deixar a renda fixa pelo VC]”, opina. Mas, sob sua ótica, um eventual boom do VC no Brasil só deve vir após as eleições. “É um investimento que demanda prazo. Estabilidade política e econômica são importantes para quem vai investir um dinheiro sem poder retirar pelos próximos 7 anos”, calcula ele.

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AInda assim, há iniciativas ainda mais ousadas chegando. No início deste mês, o fundo do Vale do Silício Social Capital abriu no Brasil sua plataforma de Capital-as-a-Service (CaaS) para startups brasileiras do tipo early stage que buscam investimento e insights para seus negócios. O sistema dessa utiliza análise de dados e machine learning para selecionar empresas escaláveis de forma semi-automatizada. Qualquer empresa “que utilize tecnologia para resolver problemas reais em mercados onde o acesso a investimentos é mais restrito” pode ser avaliada – ela receberá recomendações e benchmarks mesmo que não seja escolhida para captar investimentos.

O tamanho do risco

Investir R$ 1.000 e resgatar R$ 4.000 em 4 anos definitivamente não é a regra para quem aplica dinheiro em startups – no Brasil ou no mundo. A própria Barn, que pode ser considerada um case fora da caixa, já passou por seus momentos de decepção, conforme conta Zaclis. “Toda casa tem várias perdas de investimento”, diz. “A empresa que deixou nosso primeiro veículo foi a Arkped, nosso investimento que não deu certo”, relata.

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Justamente por isso, a e.Bricks Ventures, fundo de VC criado em 2013 por Pedro Melzer em sociedade com nomes de peso, como a família Szajman, se fecha em investidores altamente qualificados e exige aporte mínimo de R$ 5 milhões. “A gente acha fundamental o investidor não brincar nessa classe de ativo”, diz o empreendedor. Além da disponibilidade financeira, o investidor entra também com experiência de mercado para agregar valor ao negócio investido. “A gente gosta de uma gestão muito personalizada”, explica.

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Para Pedro, o essencial no mercado de venture capital, principalmente o brasileiro, é o pragmatismo de entender a improbabilidade de vendas gigantescas, bilionárias, no mercado nacional. “Preciso entregar com certeza 30% de TIR [taxa interna de retorno], idealmente 40% ou 50%”, diz.

Até agora, a melhor taxa de retorno entregue pela e.Bricks veio com a venda do aplicativo App Aprova para a Somos Educação: 51%, comemorados internamente. “Por que eu consegui 51%? Não foi porque a empresa foi vendida por bilhões, mas porque eu entrei muito bem posicionado nela”, explica. “Não é preciso ter uma saída bilionária para ter ganhos excepcionais”, comenta, acrescentando: “não é porque se pode ter bilhões em retorno que você pode perder a disciplina na hora do investimento”.

O que pensa quem investe?

Investidora pela Barn, Carolina* está ciente do risco que corre – tanto que sua carteira mantém 75% em renda fixa. Ela apostou no VC pela diversificação. “Estava disposta a correr mais risco, mas com possibilidades de retorno que nenhum dos outros investimentos da carteira me oferecia”, explica ela, que sabia onde estava se metendo desde o início. “Eu já conhecia um pouco da vida (e morte) de startups no Brasil, tendo sido empreendedora durante alguns anos”, relata. O essencial, para ela, é confiar na gestão do fundo e na seleção dos ativos.

Para começo de conversa, entre investidores e gestores destes fundos é consenso que funciona melhor no Brasil aquilo que é desenhado especificamente para o mercado brasileiro. Coincidentemente ou não, porém, tanto a Barn como a e.Bricks nasceram de mentes que já se aventuraram em terras estrangeiras e conhecem o Vale do Silício: Pedro estudou na Kellog’s trabalhou na Apple, em Cupertino, e Flavio estudou nos Estados Unidos até 2001, quando veio para o Brasil trabalhar com private equity. Ambos acreditam que a experiência comparativa foi importante para entender como trabalhar melhor com startups brasileiras.

No caso de Flavio, trabalhar em um mercado ainda embrionário de private equity (investimento em empresa já bem desenvolvida no mercado), desde 2001, o ajudou ainda mais a compreender o erro de replicar o que se faz fora do país. “Eu participei da transformação de um fundo que tinha uma mentalidade americana para um modelo ajustado”, conta. “O Brasil é culturalmente diferente: os desafios fiscais, trabalhistas, preços, é tudo diferente”.

Pedro corrobora. “Temos que pensar de um jeito diferente: somos um país extremamente relevante, de 200 milhões de pessoas e extremamente ineficiente. Não estou no Vale do Silício, mas se eu encontrar uma pessoa com causa nobre, conhecimento de mercado acima da média de sua indústria e entende de recrutamento e treinamento, ele provavelmente vai conseguir entregar um ganho de eficiência em diferentes cadeias de valor”, resume o empreendedor.

*A investidora pediu anonimato por segurança

Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney