Fundos de infraestrutura mudam regras para atrair pequeno investidor; conheça 2 opções disponíveis na B3 a partir de hoje

Gestoras transformam FIDCs, restritos a investidores qualificados, em FI-infra, que podem ser acessados pelo varejo

Mariana Zonta d'Ávila

Linhas de transmissão de energia (Shutterstock)

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SÃO PAULO – Energia elétrica, saneamento e concessões rodoviárias são áreas da infraestrutura que já vinham atraindo investidores individuais, especialmente os mais afortunados. De olho também nos bolsos mais modestos, gestoras de fundos focados nesses segmentos têm promovido mudanças nas regras para permitir o acesso também aos pequenos investidores.

Isso porque o mercado tem ampliado o número de fundos de infraestrutura (FI-Infra) listados em Bolsa, permitindo que o investidor pessoa física participe desses projetos, que costumam oferecer retornos atrativos, acima da inflação, baixa aplicação inicial e isenção de Imposto de Renda sobre o rendimento.

Até agora, havia sete FI-Infra com cotas negociadas na Bolsa. Mas o número vai aumentar na B3 a partir desta quarta-feira (17), com a chegada do IFRA11, da Itaú Asset, e do KDIF11, da Kinea.

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Até o fim do ano, o BDIF11, do BTG Pactual, também deverá compor o grupo. Isso porque o produto está em consulta formal para ampliar seu público-alvo; o resultado da votação deverá ser divulgado no início da próxima semana.

Lançados no mercado como Fundos de Investimento em Direito Creditório (FIDCs), tanto o fundo da Kinea quanto o da Itaú Asset eram restritos – pela classe a que pertenciam – a investidores qualificados. É chamado assim quem tem pelo menos R$ 1 milhão em investimentos financeiros.

Ambos os fundos, contudo, realizaram consultas formais a seus cotistas nos últimos meses e tiveram a aprovação para mudarem de classe. Em vez de FIDCs, passarão a ser fundo de infraestrutura (FI-Infra), o que permitirá a sua distribuição para o público geral.

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No caso destes fundos, também será alterada a frequência de distribuição de rendimentos, de semestral para mensal. A mudança acontece, para ambos os produtos, nesta quarta-feira.

Fundos listados

Aymar Almeida, gestor de fundos de infraestrutura da Kinea, conta que a alteração foi possível por conta da modernização da B3, que passou a permitir, em 2020, que fundos de infraestrutura pudessem ser listados em Bolsa.

Ele conta que o KDIF11 nasceu antes da instrução, mas que, por conta da sua carteira diversificada e com ativos mais defensivos, “sempre soube que o fundo tinha perfil de varejo”.

“O mercado de fundos imobiliários cresceu, são vários fundos hoje listados. O FI-Infra vai seguir uma trajetória parecida”, diz. “É bom crescer, porque permite mais liquidez na Bolsa, mais opções de diversificação e é diferente de um multimercado, por exemplo, que quando cresce o gestor tem mais dificuldade em alocar”.

Atualmente, a carteira do fundo possui 24 debêntures de infraestrutura, com baixo risco de crédito, uma vez que são projetos já em operação e que possuem garantias por trás, segundo Almeida. Ele conta que cerca de 70% das debêntures do fundo têm alta qualidade de crédito, com rating “AAA”. A expectativa é encerrar o ano com 28 papéis na carteira.

Foco na transição energética

Hoje, as maiores oportunidades, segundo o gestor da Kinea, estão no setor elétrico, que é extremamente pulverizado, com diferentes subsetores, como geração, transmissão e distribuição, além das diversas fontes de energia.

Com foco na transição energética, o fundo possui hoje uma exposição de 15% na geração de energia solar e de 15% em projetos de energia eólica. Em fontes hídricas, a exposição está em 1,8%, conta.

“É difícil a energia hídrica agregar mais para o país hoje; é uma fonte cara e tem a questão socioambiental também. Hoje, as oportunidades estão nas fontes renováveis e até na energia térmica”, diz.

O setor de transmissão de energia, por sua vez, tem a maior parcela do portfólio, com 47%, por conta da avaliação de que é um segmento mais defensivo e com melhor risco-retorno.

Ainda que o investidor possa contar com a maior liquidez da Bolsa, não precisando realizar resgates como nos fundos abertos, Almeida afirma que são investimentos recomendados para investidores que pensam no médio prazo, dado que os ativos oscilam de acordo com as taxas de juros reais de médio e longo prazo.

O duration (prazo médio do investimento) do portfólio encontra-se hoje em sete anos, enquanto o spread médio é de 1,31% além da remuneração do título público atrelado à inflação (Tesouro IPCA+) de prazo equivalente.

Em outras palavras, se o investidor olhar com enfoque de curto prazo, pode sair das cotas em um momento desfavorável, dada a característica de retorno do fundo, ressalta.

Cenário de oportunidade

Assim como o fundo da Kinea, o IFRA11, da Itaú Asset, nasceu voltado para o investidor qualificado, mas a avaliação dos gestores é de que hoje o produto já se encontra bem diversificado, a ponto de ser levado ao público varejo.

Atualmente, o fundo de infraestrutura da Itaú Asset possui na carteira debêntures de 17 emissores, com diferentes maturidades dos projetos, nos setores de energia, como geração, além de concessão rodoviária, telecomunicações e fibra ótica.

Ricardo Martins, gestor do fundo, afirma que o produto se propõe a fazer uma gestão bem ativa da carteira. No ano, as novas aquisições somam cerca de R$ 500 milhões, dos R$ 960 milhões em patrimônio líquido do fundo, o que mostra um grande giro do portfólio, destaca.

Além de projetos já em operação, a casa também aposta em regime de “private place”, isto é, de compra de 100% da emissão, focando em ofertas que passam abaixo do radar do mercado. Desta forma, custos de road show, por exemplo, ficam de fora, permitindo um spread maior para o fundo, conta Martins.

“Pelo tamanho do nosso fundo, um dos maiores de infraestrutura, conseguimos participar de operações exclusivas, que o mercado não enxerga, com rentabilidade acima da média”, afirma Sérgio Goldstein, responsável pela área de crédito estruturado da Itaú Asset.

Na avaliação dos gestores, o cenário para oferta de produtos de infraestrutura e emissão de novas dívidas é positivo.

“O Brasil é carente de infraestrutura. Tínhamos um grande financiador, que era o BNDES, que decidiu deixar um pouco mais essa parte para o mercado de capitais, então ainda tem bastante espaço a ser preenchido”, afirma Goldstein.

Segundo ele, é um mercado interessante para o investidor pessoa física, dado o benefício fiscal e taxas atrativas. Ele chama atenção ainda para a maior diversificação via fundos, com valores mais baixos de investimento e maior liquidez, via mercado secundário.

Enquanto a compra individual de debêntures de infraestrutura pelo investidor nas plataformas de instituições financeiras têm valor mínimo da ordem de R$ 1 mil e prazos longos, de sete, dez, quinze anos, os fundos de infraestrutura podem ser adquiridos na Bolsa com aplicação mínima da ordem de R$ 100 e cotização D+2.

Democratização dos investimentos

Patricia Palomo, sócia da gestora de patrimônio Sonata e conselheira da Planejar, avalia que o movimento de mudança do público-alvo, passando a aceitar pessoas físicas, é positivo para a indústria.

“Quanto mais acesso, melhor. Investidores precisam se capacitar para tomarem melhores decisões, mas não podem ser privados de acessar. Vejo com bons olhos toda essa sensibilização de ativos com acesso maior para o investidor de varejo”, diz.

Ela lembra que esse movimento tem sido visto em outros veículos antes restritos, como é o caso dos BDRs, que também eram destinados a investidores qualificados, mas que passaram a permitir a participação de qualquer investidor em novembro de 2020.

“Existe um cuidado que o investidor deve ter na escolha de todos os ativos, e com os FI-Infra não é diferente. Um fundo fechado é distinto de um fundo multimercado ou de ações, em que o investidor está mais acostumado com aplicações e resgates”, afirma.

Isso porque o preço da cota negociada em Bolsa é diferente do valor de mercado – e isso precisa estar claro para o investidor, destaca.

De toda forma, Patricia vê o produto como uma opção interessante de diversificação da carteira – dado que oferece isenção de IR sobre o ganho de capital –, desde que o investidor entenda os riscos associados e tenha espaço na carteira para ter algum tipo de exposição à renda variável.

Aumento de liquidez

Angelo Peçatti, sócio da Guelt Investimentos e responsável pela mesa de renda variável do escritório, destaca que a mudança de público-alvo é importante porque aumenta a liquidez das cotas negociadas na Bolsa.

“O Brasil é o país das oportunidades, se comparar com economias desenvolvidas. Ainda precisamos de muito investimento que passa pela infraestrutura, como a renovação da matriz energética e saneamento básico para a sociedade, então são produtos que tendem a crescer no mercado e a trazer rentabilidade para o investidor”, avalia.

Ele destaca que são investimentos mais resilientes, como energia elétrica, que, se houver uma crise, como a atual, vão continuar operando normalmente. Ele ressalta, contudo, que são investimentos que devem ter como objetivo o médio e longo prazo, e o investidor deve ponderar seu peso na carteira, não podendo ter pressa para obter retorno.

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