Fundos de crédito dão volta por cima e captam R$ 31 bi líquidos no 1º tri

Valor equivale a quase um quarto da captação líquida obtida por todos os fundos de renda fixa no período, e indica recuperação do segmento

Bruna Furlani

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Após viverem certo “cataclismo” no ano passado com eventos de Americanas, Light e outras companhias, fundos que alocam em ativos de crédito deram a volta por cima e vêm ganhando cada vez mais apelo entre investidores.

Prova disso é que as captações líquidas (depósitos menos resgates) em fundos de renda fixa com crédito na carteira chegaram a R$ 31 bilhões no acumulado do primeiro trimestre, o que corresponde a quase um quarto (24%) dos depósitos líquidos feitos em fundos de renda fixa, que bateram R$ 131,7 bilhões entre janeiro e março deste ano. A classe foi a de maior destaque em termos de entradas líquidas nos três primeiros meses do ano.

Os dados foram levantados pelo InfoMoney com base em números divulgados pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) nesta semana. Para o cálculo, foram consideradas as quatro subclasses de fundos de renda fixa que alocam em crédito. O volume alocado em fundos de crédito também foi maior do que o visto entre outubro e dezembro do ano passado, quando houve entradas líquidas de R$ 27,5 bilhões.

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No acumulado do primeiro trimestre, a liderança em termos de depósitos líquidos ficou por conta dos fundos de renda fixa duração livre crédito livre, que viram o volume líquido chegar a R$ 29,4 bilhões no período.

Um dos fatores que podem ter ajudado nas captações são os retornos oferecidos pelos produtos, com destaque para os fundos renda fixa duração média crédito livre, que obtiveram ganhos médios de 3,33% nos três primeiros meses do ano, contra um CDI acumulado de 2,62% no mesmo período.

Apenas a subclasse fundo de renda fixa duração alta crédito livre terminou os três primeiros meses do ano com retornos médios abaixo do CDI, no valor de 2,54%. Todos os números utilizados acima levam em conta dados da Anbima.

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Em carta mensal, a equipe da Occam afirmou que o mercado de crédito viveu um expressivo fechamento (recuo) dos spreads (juros adicionais que um ativo de crédito oferece em relação aos dos títulos públicos) oferecidos pelos títulos ao longo de março.

Esse movimento de recuo, porém, não é novo e vem se estendendo desde o fim do ano passado, o que tem ajudado a incrementar a rentabilidade dos fundos com crédito na carteira desde então.

Para a Occam, uma conjuntura de fatores tem favorecido o mercado de crédito privado. Um dos pontos mencionados pela gestora é que a Selic irá cair, mas a expectativa do mercado é que ela se mantenha acima de 9% ao fim do ciclo, o que permitiria que os fundos mantivessem uma boa rentabilidade ao longo de todo o prazo, ainda que menor do que a vista nos últimos meses.

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Os especialistas da casa também chamam atenção para o fluxo de captação para a classe, que seguiu forte e que foi acentuado por medidas regulatórias recentes impostas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), que restringiram as emissões de Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs), Letras de Crédito Imobiliário (LCIs), além de Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRAs) e Imobiliário (CRIs).

“Há ainda um certo otimismo em relação à economia local que, além de acentuar a busca por ativos de risco, tem como consequência uma melhoria nos fundamentos financeiros das empresas brasileiras”, resumiu a equipe de análise da gestora em carta.

Fundos têm mais captações do que resgates

Além de um trimestre mais positivo para fundos de renda fixa que alocam em crédito, fundos de investimento em geral voltaram a ter um primeiro trimestre de mais entradas do que saídas, com as captações líquidas chegando a R$ 105,0 bilhões — número bem melhor do que as saídas líquidas de R$ 73,4 bilhões registradas nos três primeiros meses do ano passado.

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Em termos de captações líquidas, os fundos de renda fixa foram o grande destaque no primeiro trimestre, seguido por fundos de previdência, com entradas líquidas de R$ 11,1 bilhões, e por fundos que alocam em participações (FIPs), que tiveram depósitos líquidos de R$ 7,7 bilhões.

Por outro lado, fundos multimercados lideraram os resgates líquidos, que ficaram em R$ 28,2 bilhões no primeiro trimestre, número que reduziu na comparação com trimestre imediatamente anterior, em que as saídas líquidas bateram R$ 109,9 bilhões.

Fundos que alocam em direitos creditórios (FIDCs) apareceram na sequência, com saídas líquidas de R$ 12,7 bilhões, seguidos por ETFs (fundos de índices), com resgates líquidos de R$ 2,4 bilhões, fundos de ações (-2,1 bilhões) e fundos cambiais (-173,8 milhões).