Lista de FIIs com dividendo zero sobe para 3 em abril, enquanto 11 ainda pagam acima da Selic em 12 meses

Fundos de "papel" são o destaque do período, tirando proveito do patamar elevado de juros

Ana Paula Ribeiro

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Há dois fenômenos distintos ocorrendo no segmento de fundos imobiliários. De um lado, cresceu a lista de FIIs com zero dividendo para distribuir em abril. De outro, um grupo de fundos mantêm as distribuições firmes e fortes, com retorno superando a Selic – a taxa básica de juros – nos últimos 12 meses.

O pagamento recorrente de dividendos é um dos motivos que leva o investidor a colocar recursos nos FIIs. Por essa razão, o aumento do número de carteiras sem distribuir dividendos é uma má notícia para o segmento.

Em abril, três fundos dos 111 fundos que fazem parte Ifix (índice dos FIIs mais negociados na B3) não pagaram dividendos. No mês passado, foram dois. Além do Brazilian Graveyard (CARE11), que normalmente não distribui rendimentos, e do Tordesilhas EI TORD11, que já não havia depositado em março, junta-se a essa lista o REC Logística RELG11.

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De acordo com documento divulgado pelo RELG11 no início do mês, a medida teve como objetivo “proteger a saúde financeira e viabilizar opções para o cumprimento das obrigações da carteira”. Na prática, o fundo decidiu reter os dividendos para ajudar a quitar a compra do imóvel REC Logística Camaçari, na Bahia, que foi adquirido pela carteira a prazo.

“O custo da dívida ficou muito caro com a elevação dos juros e a desvalorização das cotas dos fundos imobiliários na Bolsa inviabilizou a realização de novas emissões (captação de recursos)”, explicou Moise Politi, gestor do RELG11, em comunicada na época. Ele disse ainda que o fundo tenta negociar outros ativos da carteira, mas admitiu que o mercado não está favorável para tal.

Pela lei, os fundos imobiliários são obrigados a distribuir 95% do lucro apenas a cada seis meses, embora a grande maioria das carteiras repasse os recursos mensalmente.

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O TORD11, que pelo segundo mês consecutivo não faz a distribuição de seu resultado, é um fundo de desenvolvimento alegando preocupação com a inadimplência. E o CARE11, primeiro fundo do segmento de cemitérios, chegou a ficar cinco anos sem pagar proventos, até julho de 2020, após a venda de um dos ativos do portfólio. O último repasse da carteira ocorreu em setembro de 2021.

FIIs com dividendos acima da Selic

Na ponta oposta à dos FIIs que não distribuíram dividendos em abril está um grupo de 11 fundos que registraram um dividend yield (taxa de retorno com dividendos) acima de 13,75% ao ano no acumulado dos últimos 12 meses.

Dentre eles, os fundos de “papel” seguem sendo o destaque, com dez deles entregando retorno superior ao da Selic. A carteira que liderou os ganhos nesse mês é o Riza Akin RZAK11, com uma distribuição equivalente a 17,85% nos 12 meses encerrados em abril.

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O que justifica esse desempenho é justamente um dos temas que está no foco do debate econômico no País: o alto patamar dos juros.

FIIs de “papel” investem em títulos de renda fixa, como os certificados de recebíveis imobiliários (CRIs), que pagam um rendimento muitas vezes indexado à taxa do CDI (certificado de depósito interbancário) ou ao IPCA.

O CDI segue de perto os movimentos da Selic, que está em 13,75% ao ano atualmente. Com isso, os rendimentos dos FIIs com essas características acompanham a elevação da taxa básica de juros, o que reflete na distribuição dos dividendos.

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Praticamente todos FIIs campeões em dividendos são de “papel”, também conhecidos como fundos de recebíveis. A exceção é o TG Ativo Real TGAR11, classificado como um fundo de desenvolvimento, pois seus recursos são destinados a propriedades em construção – em geral, um investimento considerado de maior risco e, por isso, com maior potencial de retorno.

No entanto, o fato de terem em sua maior parte as receitas corrigidas pelo CDI ou IPCA não exime os fundos de “papel” de riscos.

Os CRIs que fazem parte dessas carteiras envolvem as receitas futuras de alguma operação do setor imobiliário (recebíveis de financiamento, de aluguel ou da venda de unidades habitacionais, por exemplo). Se há um aumento de inadimplência nesses pagamentos, o fundo será penalizado.

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Um exemplo recente envolve os fundos que compraram CRIs das empresas que fazem parte da Gramado Parks, grupo de quatro empresas das quais três entraram em recuperação judicial neste mês.

Uma dessas carteiras é o Devant (DEVA11), que em março informou ter 70,8% da carteira de recebíveis adimplente. Em fevereiro, esse percentual era de 94,3%. Se há menos recebíveis sendo pagos em dia, menor será o quanto o fundo poderá distribuir em dividendos aos cotistas.

Os fundos de “papel” também estão entre os que pagaram os maiores dividendos em abril. Além disso, três carteiras não pagaram proventos no mês, ante apenas uma em março.

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Confira os FIIs que mais pagaram dividendos nos últimos 12 meses:

Ticker Fundo Setor Retorno com dividendos – 12 meses (%)
RZAK11 Riza Akin Títulos e Val. Mob. 17,85
OUJP11 Ourinvest Jpp Títulos e Val. Mob. 16,21
CACR11 Cartesia Recebíveis Imobiliários Títulos e Val. Mob. 16,16
MORC11 More Recebiveis Imobiliarios Títulos e Val. Mob. 16,00
URPR11 Urca Prime Renda Títulos e Val. Mob. 15,88
RBHG11 Rio Bravo Crédito Imobiliário Títulos e Val. Mob. 15,49
NCHB11 NCH Brasil Receb. Imobiliários Títulos e Val. Mob. 15,20
PORD11 Polo Cred Imobiliário Títulos e Val. Mob. 15,19
ARRI11 Atrio Reit Recebiveis Títulos e Val. Mob. 14,95
VGIR11 Valora Cri CDI Títulos e Val. Mob. 14,81
TGAR11 FII Tg Ativo Real Desenvolvimento 14,79

Fonte: Economatica

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RZAK11, o maior pagador de dividendos em 12 meses

O Riza Akin RZAK11 possui 44.967 cotistas e um patrimônio de cerca  de R$ 820 milhões. A maior parte dos recursos (85,9%) está alocada em CRIs.  O restante está alocado em cotas de FIIs de papel.

A estratégia do fundo é ter uma gestão ativa, com pulverizaçaõ e diversificação de ativos e indexadores. A alocação é dividida em seis “núcleos”: Renda Fixa, Direct Lending, Securitização e Carteiras, Agronegócio, Venture Debt e Real Estate.

Em relação aos indexadores, 56,4% do patrimônio é indexados ao CDI e 42,4% ao IPCA. Apenas uma pequena fatia de 1,2% é pré-fixada.

“Em nossa opinião, o portfólio segue aproveitando plenamente seu carrego, com capturas pontuais de ganho de capital em operações de venda ou de recebimentos de ganhos extraordinários em alguns momentos. Dessa forma, o fundo permanecerá com carrego e rendimento aderentes ao seu retorno-alvo”, segundo o último relatório do fundo.

Em abril, o RZAK11 distribuiu R$ 1,11 por cota, o equivalente a um dividend yield de 1,17%, chegando a 17,85% no acumulado de 12 meses.

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FIIs que mais pagaram dividendos em abril

No mês de abril, o fundo com o melhor dividend yield foi o REC Recebíveis Imobiliários RECR11, que apresentou um retorno de 1,63% no mês. O dividendo por cota foi de R$ 1,2563. Na sequência, aparecem o Riza Arctium Real Estate (RZAT11) e o Habitat II (HABT11), com retornos de 1,57% e 1,45%, respectivamente.

O RECR11 e o HABT11 são fundos de “papel”. Já o Riza Arctium é um fundo híbrido, ou seja, investe em mais de uma classe de ativos. Confira a lista completa:

Ticker Fundo Setor Retorno com dividendos – abril 2023 (%)
RECR11 Rec Recebíveis Imobiliários Títulos e Val. Mob. 1,63
RZAT11 Riza Arctium Real Estate Híbrido 1,57
HABT11 Habitat II Títulos e Val. Mob. 1,45
URPR11 Urca Prime Renda Títulos e Val. Mob. 1,42
VGIP11 Valora CRI Índice de Preço Títulos e Val. Mob. 1,38
VCJR11 Vectis Juros Real Títulos e Val. Mob. 1,37
CACR11 Cartesia Recebíveis Imobiliários Títulos e Val. Mob. 1,37
OUJP11 Ourinvest JPP Títulos e Val. Mob. 1,34
KNHY11 Kinea High Yield CRI Títulos e Val. Mob. 1,32
VGIR11 Valora CRI CDI Títulos e Val. Mob. 1,29

Fonte: Economatica 

O RECR11 tem 183.264 investidores e um patrimônio de R$ 2,5 bilhões. O fundo investe predominantemente em CRIs. Segundo o último relatório gerencial, a carteira aplica em 93 operações de CRIs e possui cotas de três FIIs.

Em abril, o fundo distribuiu R$ 33,2 milhões em rendimentos, o que equivale a R$ 1,2563 por cota, o que equivale a um didend yield de 1,63%.

Ana Paula Ribeiro

Jornalista colaboradora do InfoMoney