Como ficam os dividendos de FIIs de “papel” após mais um mês de IPCA em queda? Entenda

Para analistas, FIIs que investem em títulos atrelados ao IPCA seguem atrativos; eventual queda de dividendos pode ser compensada com valorização das cotas

Wellington Carvalho

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O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) voltou a desacelerar em abril, para 0,61%. O percentual está abaixo do 0,71% de março e do 0,84% de fevereiro. Se a tendência observada pela inflação oficial do País representa um alívio para os consumidores, o movimento pode preocupar quem investiu em ativos que adotam o indicador como referência.

No caso dos FIIs de “papel” expostos ao IPCA, os dividendos distribuídos aos cotistas devem acompanhar o indicador – ou seja, devem, de fato, diminuir.

No entanto, de acordo com especialistas ouvidos pelo InfoMoney, a notícia não necessariamente significa prejuízo para os investidores.

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Conhecidos também como fundos de recebíveis, os FIIs de “papel” investem em títulos de renda fixa ligados ao setor imobiliário. Entre os papéis, estão os certificados de recebíveis imobiliários (CRI), instrumentos usados pelas empresas do segmento para captar recursos do mercado.

Na prática, essas companhias “empacotam” receitas futuras que têm para receber – como aluguéis ou parcelas pela venda de apartamentos – em um título, que é vendido aos investidores, como os FIIs.

Os papéis embutem um rendimento mensal prefixado e a correção monetária por um indicador, que normalmente é a taxa do CDI (certificado de depósito interbancário) ou o IPCA. Quando o indexador sobe, a receita do fundo aumenta – assim como o dividendo distribuído aos cotistas. A dinâmica é a mesma quando ocorre queda do índice.

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“Os preços dos CRIs são atrelados a um prêmio de risco mais a variação da inflação. Sendo assim, os rendimentos pagos por esses títulos são os juros prefixados mais a variação da inflação e, com o IPCA mais baixo, consequentemente os rendimentos serão menores”, confirma Thiago Figueiredo, diretor de investimentos do Intrabank.

O cenário ficou bem nítido no terceiro trimestre de 2022, quando o IPCA ficou negativo entre julho e setembro. Reflexo do comportamento do índice, FIIs de “papel” reduziram em até 88% o volume de dividendos no período.

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Figueiredo sinaliza, porém, que não há necessariamente motivo para preocupação dos cotistas que têm FIIs com títulos atrelados ao IPCA no portfólio. Ele explica que a desaceleração do indicador pode indicar que um corte dos juros está mais próximo – o que aumentaria a atratividade dos fundos imobiliários.

“O investidor poderá ter uma redução no seu dividend yield (taxa de retorno com dividendo), mas terá uma valorização nas cotas do fundo devido a marcação a mercado [reflexo da expectativa de corte nos juros]”, explica.

Então ainda vale a pena investir em FIIs focados no IPCA?

Na avaliação de Flávio Pires, analista de FIIs da Santander Corretora, mesmo com a desaceleração do IPCA observada nos últimos meses, os FIIs de “papel” bastante indexados ao indicador de inflação ainda estão atrativos.

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Nos últimos 12 meses, o IPCA acumula alta de 4,18%, acima da meta do Banco Central de 3,25%. O próprio resultado de abril – embora menor do que o dos meses anteriores – veio acima das expectativas do mercado.

“Como vimos nos últimos anos, o indexador se distanciou da meta de forma significativa e repassou um índice acima de 1% em alguns meses”, relembra Pires, que acredita que o atual momento do IPCA, ainda acima da meta, segue representando um bom rendimento aos investidores.

Para ele, os famosos dividendos turbinados dos FIIs de “papel” – influenciados por uma inflação muito alta nos últimos anos – podem ter dado a impressão de que os rendimentos se manteriam para sempre em tal patamar. Mas aquele nível de dividendos não era condizente com a realidade, sugere o analista.

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“Percebemos que, para muitos investidores, quando há uma diminuição de rendimento de um mês para o outro, há a percepção de que estão perdendo o montante que investiram, o que na maioria das vezes não é verdade”, acrescenta Pires.

Além disso, o especialista lembra que, além dos rendimentos dos FIIs de “papel”, é preciso avaliar pontos como o risco de crédito dos devedores, garantias, prazos médios das operações e as taxas embutidas nos papéis.

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Wellington Carvalho

Repórter de fundos imobiliários do InfoMoney. Acompanha as principais informações que influenciam no desempenho dos FIIs e do índice Ifix.