Em dia de aversão a risco local com forte recuo da Bolsa, Ifix termina com leve queda de 0,21%; 39 fundos encerraram 2022 no negativo

Investidores monitoraram aumento do risco fiscal e piora nas projeções para a Selic deste ano e nas estimativas para a inflação em 2023, 2024 e 2025

Mariana Segala Bruna Furlani

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O primeiro pregão do ano foi marcado pela aversão a risco no mercado local. Apesar do mau humor dos agentes financeiros, Ifix, índice que reúne os fundos imobiliários mais negociados na B3, terminou com ligeiro recuo de 0,21% nesta segunda-feira (2), aos 2.861 mil pontos.

O resultado foi bem melhor do que o registrado pelo Ibovespa, que terminou o dia em forte queda de 3,06%, aos 106.376 mil pontos. A contração foi puxada por preocupações fiscais e aparente dissonância de visões entre a equipe econômica e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A razão é que Lula decidiu prorrogar a isenção de tributos federais sobre os combustíveis (PIS/Cofins e Cide). O presidente assinou, na noite de domingo (1º), uma Medida Provisória (MP) que renovou a renúncia fiscal sobre a gasolina por dois meses. Sobre o diesel e o gás de cozinha, o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT), afirmou que a desoneração será por tempo indeterminado.

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As medidas tinham sido adotadas em 2022 pelo atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), e venceriam no sábado (31), véspera da posse presidencial.

A MP contraria a vontade do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), que contava com o retorno de parte da arrecadação logo no início do novo governo (a renúncia fiscal para prorrogar a desoneração durante todo o ano é de R$ 52,9 bilhões).

A queda da Bolsa foi acompanhada pela alta de 1,51% dólar, que encerrou o dia cotado a R$ 5,360. Os juros futuros, por sua vez, apresentaram avanço expressivo na sessão.

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Maiores altas e baixas de 2022

Se fosse preciso apontar uma palavra para definir o ano de 2022, provavelmente a escolha de muitos investidores seria volatilidade. E mesmo em um ano de altos e baixos, os fundos imobiliários de “papel” foram os que mais se destacaram no Ifix, índice que reúne os fundos imobiliários mais negociados na B3.

A liderança dos ganhos ficou para o fundo Ourinvest JPP (OUJP11), que avançou 26,08% nos últimos 12 meses. Outros fundos de papel também renderam bons frutos, como o Riza Akin (RZAK11) e o Valora CRI (VGIR11), com retornos de 23,69% e de 16,23%, respectivamente.

O desempenho dos FIIs em 2022 – inclusive do destaque RZAK11 – ficou aquém do observado em 2021, quando as altas chegaram a 40%.

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Os FIIs de “papel” costumam comprar títulos como certificados de recebíveis imobiliários (CRIs), espécie de pacote de receitas futuras das empresas do setor imobiliário – como aluguéis ou parcelas pela venda de apartamentos, por exemplo – vendido aos investidores.

A perspectiva para os fundos de papel neste ano também é positiva, na avaliação de Maria Fernanda Violatti, analista da XP. Em relatório, a especialista ressalta que tais fundos devem manter o pagamento de dividendos em níveis atrativos neste ano, já que as projeções apontam para um cenário de juros elevados e de manutenção das pressões inflacionárias.

Ela alerta, no entanto, que o investidor precisa estar atento ao risco de crédito dos ativos que integram a carteira dos FIIs. Por essa razão, o ideal é buscar fundos do tipo high grade, ou seja, de menor risco e consequentemente, com potencial de retorno menor.

Além de fundos de papel, FIIs do setor de shoppings e híbridos tiveram um bom desempenho no acumulado do ano. Confira as maiores altas de 2022 na tabela abaixo:

FIIs com maiores altas em 2022

Nome do fundo Código Retorno em 2022 (%)
Ouroinvest JPP (OUJP11) 26,08
Riza Akin (RZAK11) 23,69
Malls Brasil Plural (MALL11) 17,22
TG Ativo Real  (TGAR11) 17,1
Valora CRI  (VGIR11) 16,23

Fonte: TC/Economatica

Por outro lado, fundos híbridos e de lajes comerciais registraram perdas fortes no ano passado, que chegaram até 48% no caso do XP Properties (XPPR11). O FII foi o que mais desvalorizou no ano passado entre os incluídos no Ifix. Confira as maiores quedas de 2022 na tabela abaixo:

FIIs com maiores quedas em 2022

Nome do fundo Código Retorno em 2022 (%)
XP Properties  (XPPR11) -47,74
Rbr Properties  (RBRP11) -29,26
Hospital Nossa Senhora de Lourdes  (NSLU11) -25,25
Rec Renda Imobiliaria  (RECT11) -19,07
Tordesilhas FII  (TORD11) -14,98

Fonte: TC/Economatica

Ifix hoje

Na primeira sessão do ano, o Ifix encerrou com queda de 0,21%, aos 2.861 mil pontos. Não há previsão de pagamento de dividendos por fundos imobiliários hoje.

Maiores altas desta segunda-feira (2):

Ticker Nome Setor Variação (%)
(FIIB11) FII Industrial do Brasil Logísticos 4,95
(ARCT11) Riza Arctium Real Estate Logísticos 4,02
(CVBI11) VBI CRI Recebíveis 3,67
(TGAR11) TG Ativo Real Híbrido 3,5
(XPCI11) XP Credito Imobiliario Recebíveis 2,73

Maiores baixas desta segunda-feira (2):

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Ticker Nome Setor Variação (%)
(RZTR11) Riza Terrax Agronegócio -5,24
(SDIL11) Rio Bravo Renda Logistica Logísticos -4,16
(HGRU11) CSHG Renda Urbana Híbrido -3,83
(KFOF11) Kinea FII FoF -3,44
(PVBI11) VBI Prime Properties Lajes comerciais -3,24

Carteira do Ifix que vigora entre janeiro e abril é divulgada; veja os FIIs que entram na lista

A nova composição do Ifix – índice que reúne os fundos imobiliários mais negociados na B3 – mostra que o indicador será formado por 111 FIIs a partir de janeiro e seguirá a mesma até abril de 2023.

A composição é ligeiramente diferente da apresentada na primeira prévia do Ifix, divulgada no início de dezembro. Entraram oito fundos imobiliários, enquanto quatro saíram.

Entre as novidades previstas para a nova carteira do Ifix estão três fundos de “papel”, que investem prioritariamente em títulos de renda fixa ligados ao setor imobiliário: o CRI Integral Brei (IBCR11), o Rio Bravo Crédito Imobiliário (RBHG11) e o More Recebíveis Imobiliários (MORC11).

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Há ainda dois fundos de logística, dois de lajes corporativas e um híbrido. Confira a lista completa abaixo:

Ticker Fundo Segmento
IBCR11 CRI Integral Brei Títulos e valores mobiliários
LGCP11 LOGCP Inter Logística
RBHG11 Rio Bravo Crédito Imobiliário Títulos e valores mobiliários
RELG11 REC Logística Logística
TEPP11 Tellus Properties Lajes corporativas
[ativo=WHGR11] WHG Real Estate Híbrido
[ativo=HOFC11] Hedge Office Income Lajes corporativas
MORC11 More Recebíveis Imobiliários Títulos e valores mobiliários

Fonte: B3

Esses fundos imobiliários entraram no lugar de outros quatro, que saem: o FIIB11, o SPTW11, o VIFI11 e o RVBI11.

De acordo com a terceira prévia, os FIIs mais representativos do Ifix devem ser dois da gestora Kinea: o KNIP11, com peso de 6,70%, e o KNCR11, com peso de 5,11%.

CARE11, primeiro fundo de cemitérios, promete permanecer no índice, mas com a terceira menor participação, de apenas 0,09%.

A B3 divulga regularmente três prévias das novas composições dos índices: a primeira, no primeiro pregão do último mês de vigência da carteira em vigor; a segunda, no pregão seguinte ao dia 15 do último mês de vigência da carteira em vigor; e a terceira, no penúltimo pregão de vigência da carteira em vigor que ocorreu na última quarta-feira (28).

FII do Santander reduz taxa de administração; Autonomy antecipa dividendos

Confira as últimas informações divulgadas por fundos imobiliários em fatos relevantes:

Taxa de administração menor no SADI11

O fundo Santander Papéis Imobiliários CDI (SADI11) anunciou, na última sexta-feira (30),  que decidiu renunciar a uma parte da taxa da administração – de forma temporária. Assim, entre os dias 1 de janeiro e 30 de junho, o fundo irá cobrar uma taxa de 0,80% ao ano, e não mais de 1% ao ano.

De olho nos dividendos do ativo=AIEC11]

O fundo Autonomy Edifícios Corporativos (AIEC11) alertou, no fim da noite da última quinta-feira (29), que recebeu o aluguel antecipado da Dow Brasil Indústria de Produtos Químicos LTDA, que venceria em janeiro, agora no fim de dezembro.

A receita bruta desse aluguel equivale a aproximadamente R$ 0,58 por cota. Como o fundo deve realizar a distribuição de ao menos 95% dos lucros auferidos no semestre, apurados em base caixa, essa receita – que originalmente seria incluída na distribuição de rendimentos de janeiro de 2023 – deverá entrar no cálculo do pagamento relativo a dezembro de 2022.

Giro Imobiliário: mercado piora as projeções para a Selic deste ano e eleva inflação para 2023, 2024 e 2025

Relatório Focus

Economistas continuaram a aumentar a expectativa para a inflação de 2023, 2024 e 2025 e reduziram a projeção de queda dos juros neste ano, segundo estimativas divulgadas nesta segunda-feira (2) pelo Relatório Focus, do Banco Central.

As mais de 100 instituições financeiras consultadas semanalmente pelo BC também passaram a estimar um Produto Interno Bruto (PIB) levemente superior neste ano, mas inferior em 2025. Para o dólar, a perspectiva ficou estável nos 3 próximos anos.

A expectativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu para 2023 (de 5,23% para 5,31%), 2024 (de 3,60% para 3,65%) e 2025 (de 3,20% para 3,25%).

Além da alta da inflação, o mercado passou a prever que a taxa de juros básica da economia brasileira (Selic) vai cair menos neste ano, dos atuais 13,75% para 12,25% (contra 12,00% na semana passada e 11,75% há 1 mês).

Mariana Segala

Editora-executiva do InfoMoney