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Depois de um 2024 difícil, com anúncios de recuperação judicial de grandes empresas do agronegócio, os Fiagros, Fundos de Investimentos em Cadeias Agroindustriais, estão brilhando este ano, com ganhos de até mais de 50%, como mostra levantamento da Quantum Finance.
A consultoria observa também que, de janeiro a outubro, os dez maiores retornos são exclusivamente de Fiagros de crédito, voltados para a compra de recebíveis do setor, com ganhos entre 29,9% e 51,1%. Os dados indicam que operações estruturadas, Certificados de Recebíveis do Agronegócio e dívidas agrícolas foram os principais vetores de performance em 2025, avalia a Quantum.
| Nome | Ticker | Gestor | Retorno ano |
| XP Créd. Agricola | XPCA11 | XP Asset | 51,1% |
| SFI Investimentos | IAGR11 | SFI Investimentos | 49,8% |
| JGP Crédito | JGPX11 | JGP | 40,2% |
| Capitanea Agro | CPTR11 | Capitânia Invest. | 36,9% |
| FG/AGRO Fiagro | FGAA11 | FG/A Gestora | 33,5% |
| Valora CRA | VGIA11 | Valora Invest. | 33,4% |
| AZ Quest Sole | AAZQ11 | AZ Quest Invest. | 31,4% |
| Riza Agro Fiagro | RZAG11 | Riza Asset | 31,1% |
| Galapagos Recebíveis | GCRA11 | Galapagos Capital | 31,0% |
| Ourinvest Inovation | OIAG11 | Fator Admi. Rec. | 29,9% |
Já olhando apenas para outubro, entram na lista dos melhores desempenhos dois fundos de perfil imobiliário rural, o Suno Fazendas e o Suno Responsabilidade Limitada, ambos da Suno Asset, que têm exposição relevante a terras. Para a Quantum, esse resultado indica um descolamento entre os maiores ganhos de curto e de longo prazo.
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| Fundo | Ticker | Gestora | Variação outubro |
| SUNO FAZENDAS FIAGRO FII | SNFZ11 | Suno Asset | 8,85% |
| AZ QUEST SOLE FIAGRO | AAZQ11 | AZ Quest Investimentos | 3,45% |
| KINEA CRÉDITO AGRO RESP LIMITADA FIAGRO FII | KNCA11 | Kinea Investimentos | 3,35% |
| EXES ARAGUAIA FIAGRO FII | AGRX11 | Exes Gestora de Recursos | 3,14% |
| FYTO RECEBÍVEIS DO AGRONEGÓCIO RESP LIMITADA FIAGRO FII | FTCA11 | Exes Gestora de Recursos | 2,70% |
| OURINVEST INNOVATION RESP LIMITADA FIAGRO FII | OIAG11 | Fator Administração de Recursos | 2,27% |
| LESTE FIAGRO FII | LSAG11 | Leste | 2,14% |
| SUNO RESP LIMITADA FIAGRO FII | SNAG11 | Suno Asset | 2,11% |
| PÁTRIA CRÉDITO RESP LIMITADA FIAGRO FII | PLCA11 | Patria | 1,82% |
| SFI INVESTIMENTOS RESP LIMITADA FIAGRO | IAGR11 | SFI Investimentos | 1,27% |
A forte alta dos Fiagros neste ano tem a ver com a turbulência do ano passado, que deixou muitas carteiras com cotas desvalorizadas e que se recuperaram este ano, afirma Guilherme Grahl, gestor da Valora Investimentos. “Muitos fundos que tiveram quedas fortes em 2024 se ajustaram este ano”, diz.
Segundo Grahl, quase todos os fundos tiveram problemas, mas na maioria o impacto foi pontual. A reação do mercado, porém, foi geral e refletiu o nervosismo dos investidores, o que provocou uma desvalorização mais forte do que o que seria justo nas cotas de todos os Fiagros, mesmo nos que não tinham grande volume de problemas. O fato de o mercado não ser tão líquido também ajudou a amplificar o movimento de queda, avalia Grahl.
No caso do Valora CRA, um fundo de crédito com garantias reais ou líquidas, o ganho de 33,4% no ano até outubro está muito vinculado ao pagamento de juros, explica Grahl. “Temos operações pagando CDI mais 3% ao ano e papéis de qualidade, originados por nós mesmos ou que foram comprados de grandes empresas, como Cargill”, diz.
Crise começou antes
Os problemas estruturais do setor começaram, na verdade, na safra 2023/2024, com a queda dos preços das commodities, e se agravaram com a recuperação judicial da gigante Agrogalaxi, que tinha muito papel comprado por pessoas físicas no mercado. “E quando há um problema com uma empresa grande, isso afeta toda a cadeia”, diz Grahl. Além disso, a alta dos juros pelo Banco Central agravou ainda mais a situação das empresas mais endividadas.
Hoje, porém, a situação está melhor para o setor, com os preços dos produtos estabilizados e os problemas nas empresas do setor absorvidos pelo mercado. E há a expectativa de queda dos juros no próximo ano. “É um ciclo, tivemos picos de preços, depois queda e depois alta dos juros, mas com o tempo os preços voltaram e as margens melhoraram, os pagamentos de dividendos foram retomados e o investidor ficou mais calmo”, explica Grahl. Ele lembra ainda que há empresas com margens operacionais altas, de até 30%, que conseguem aguentar juros mais altos”, diz.
Cenário mais positivo
Para Grahl, o cenário para o ano que vem parece ser mais positivo para o agronegócio e para os Fiagros. “Há ainda alguns problemas se arrastando do passado, mas o cenário é de melhora paulatina, com safra melhor no ano que vem e juros em queda”, diz. A recuperação dos dividendos vai atraindo mais investidores e o mercado deve voltar a uma rotina mais estável. “Já vemos as captações das empresas voltando e isso é um bom sinal”, diz.
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Rendimento atraiu investidores
Muitos Fiagros tiveram eventos de crédito no ano passado e o mercado generalizou o pior cenário, afirma José Daronco, chefe da área de Relações com Investidores da Suno Asset. “Foi como se um fundo tivesse um default de 5% da carteira e a cota caísse 20% na bolsa”, explica. Havia um medo de novos defaults e a incerteza era grande, o que pressionou para baixo as cotas dos fundos. Com o tempo, muitas estruturas do agronegócio foram se acomodando, não vieram novos grandes defaults este ano e prevaleceu o rendimento dessas carteiras, o que estimulou a valorização das cotas. “Tem muito Fiagro de papel rendendo 3%, 4%, até 5% ao ano além do CDI em uma aplicação isenta de imposto de renda”, afirma Daronco.
Ganhos com nova tributação
Além disso, com a nova tributação sobre dividendos do governo, as aplicações isentas, como Fiagros e fundos imobiliários, ficaram ainda mais atrativos para os grandes investidores que recebem muitos dividendos, já que eles não entram no cálculo dos rendimentos tributáveis. “Parte do dinheiro desses investidores já está migrando para esses fundos isentos”, diz.
No caso dos fundos imobiliários da Suno, destaque de ganhos em outubro, Daronco acha que o motivo não foi tanto um ajuste do ano passado pois essas carteiras caíram menos. O que houve foi um movimento forte de compra para todo o mercado e esses fundos também foram beneficiados. “Tem mais gente buscando isenção e os fundos estavam atrativos, com retornos interessantes”, diz.
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Pior ficou para trás
Daqui para frente, Daronco acredita que o potencial de ganho é menor, mas ainda existe. “Até porque o rendimento é interessante, tem Fiagro entregando 1,2%, 1,3% líquido ao mês, o que, comparado com um CDB, dá muita diferença” diz. Além disso, com o CDI ainda alto por algum tempo, o ganho desses fundos, também atrelado ao indexador, continuará atrativo. Sobre a inadimplência, Daronco acha que alguns fundos continuam machucados, mas a maior parte dos Fiagros conseguiu se reestruturar e está entregando bom retorno ao investidor. “O pior já passou, estamos em momento de recuperação e acelerando”, diz.