ETFs de dividendos como DIVO11 não distribuem dividendos; então, para que servem?

Fundos de índices disponíveis no País reinvestem os proventos e são indicados para o médio e longo prazo

Márcio Anaya

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Estratégias de investimentos focadas em dividendos costumam ter como pano de fundo o desejo de obter uma renda constante e recorrente – representada exatamente pelas parcelas do lucro que as empresas distribuem aos seus acionistas. Essa lógica, no entanto, não se aplica aos ETFs (fundos de índices que têm as cotas negociadas na B3) de dividendos.

Tais ETFs replicam índices compostos por empresas consideradas boas pagadoras de proventos. Porém, eles mesmos não repassam diretamente aos investidores os dividendos que recebem das companhias investidas. Se não geram renda, para que servem então?

Na prática, a estratégia por trás de um ETF de dividendos é investir em boas pagadoras de proventos, com foco no médio e longo prazo, engordando o patrimônio com os recursos recebidos – e não de olho em uma renda periódica. Eles reinvestem os lucros recebidos ao invés de distribuí-los aos cotistas – o que não tem sido um empecilho para a evolução desses produtos.

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“Ao não distribuir os dividendos e juros sobre capital próprio das empresas investidas, o fundo não precisa recolher IR [Imposto de Renda]”, explica Renato Eid, superintendente de estratégia beta e integração ESG da Itaú Asset, gestora do DIVO11, ETF cujo nome completo é It Now IDIV. Seu objetivo é replicar a carteira do índice de dividendos da B3 (IDIV). “E como não existe a tributação, o efeito composto do recebimento dos proventos torna-se um fator benéfico para o cotista do ETF em um horizonte mais longo”.

Segundo ele, a lógica do produto é atender aquele investidor que gosta de dividendos, mas não necessita de um rendimento regular – para cobrir seus gastos, por exemplo. Entre outros critérios, a metodologia do IDIV prevê a seleção de empresas do bloco das 33% melhores posicionadas em termos de dividend yield (taxa de retornos com dividendos), em uma janela de 36 meses.

“Veja que não existe certo ou errado”, afirma Eid, sobre o fato de o ETF não distribuir os proventos recebidos. Trata-se de uma característica do produto. Cabe ao investidor escolher a estratégia que melhor se encaixe nos seus objetivos.

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Eid argumenta que, em se tratando de ETFs, é preciso refletir sobre a facilidade de se ter uma carteira diversificada, com empresas de retorno elevado via dividendos e enxergar valor no reinvestimento dos proventos. “É um benefício muito poderoso”.

Um relatório preparado pela gestora Hartford Funds, com dados próprios e da Morningstar, reforça a tese do executivo da Itaú Asset. Intitulado O poder dos dividendos, o estudo aponta que 84% do retorno total do índice S&P 500 em um intervalo recente de 50 anos, de 1970 a 2020, pode ser atribuído aos dividendos reinvestidos e ao efeito positivo desse acúmulo.

O dinheiro se perde?

“Quando o ETF reinveste o dividendo, não significa que o cotista perdeu aquele dinheiro, uma dúvida bastante comum”, reforça Daniel Lobo, estrategista de ETFs da BlackRock no Brasil. “Ao contrário, é um recurso que irá contribuir para a valorização do fundo”.

Na opinião de Lobo, deixar que os proventos aumentem o patrimônio faz com que o investidor só tenha que pagar Imposto de Renda (de 15%) caso queira sacar recursos do ETF, o que representa uma estrutura mais eficiente do ponto de vista tributário.

Há dez anos no mercado, o DIVO11 contabilizava 17,5 mil cotistas no dia 15 de fevereiro – um aumento de 45,7% em relação ao fechamento de 2021. No mesmo intervalo comparativo, o patrimônio líquido atingiu R$ 554,5 milhões, com incremento de 28,9%.

Outro ETF do tipo disponível no País é o BB ETF S&P Dividendos Brasil (BBSD11), existente há sete anos e que replica o índice S&P Dividendos Brasil. Ele acompanha o desempenho das 30 companhias que consistentemente elevaram ou mantiveram estáveis seus dividendos a cada ano, por pelo menos três anos.

Considerando também os dados relativos a 15 de fevereiro, o número de cotistas do BBSD11 estava 2,1 mil, com alta de 11% em relação ao fim do ano passado. Em igual período, o patrimônio líquido avançou 6%, para R$ 17,7 milhões.

As informações constam em relatórios periódicos dos fundos disponíveis no site da B3.

Em relação ao desempenho, os números acumulados neste ano mostram o DIVO11 com alta de cerca de 7%, enquanto o BBSD11 avança mais de 8,70%, considerando o período até a tarde desta quinta-feira (3). O Ibovespa, por sua vez, sobe cerca de 10%.

Seria possível para os ETFs brasileiros distribuir proventos?

Questionado sobre a viabilidade operacional de se montar no Brasil um ETF que distribua dividendos, como acontece com produtos semelhantes no exterior, o executivo da Itaú Asset é direto: “Sim, é possível.”

Eid, no entanto, não dá pistas sobre possibilidade ou não de que um produto assim possa ser lançado. Ele afirma apenas que, sendo pioneiro no mercado de ETFs no Brasil, o Itaú busca estar atento a novas estratégias.

Lobo, da BlackRock, acredita que tal discussão passa por uma análise mais ampla do mercado de ETFs no Brasil. “Será que existe espaço para vários produtos de dividendos por aqui?”, questiona. “Creio que o alcance é limitado, considerando ser um mercado ainda em desenvolvimento.”

Segundo ele, a evolução dos negócios com ETFs no país pode estimular o surgimento de índices diferentes, que olhem os dividendos de maneiras distintas, permitindo uma variação nas estratégias de aplicação. Só assim faria sentido pensar em novidades no segmento, diz o estrategista.

Márcio Anaya

Jornalista colaborador do InfoMoney