“Estou só dando uma olhadinha”: remuneração no mercado financeiro (e como ela afeta seu patrimônio)

Deveríamos pagar taxas de administração e performance com gosto para poder contratar excelentes profissionais para administrar nossos investimentos

Lucas Collazo

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Caros(as) leitores(as),

Quantas vezes você entrou numa loja, um(a) vendedor(a) te abordou e você disfarçou com o bom e velho: “Obrigado, estou só dando uma olhadinha”.

Geralmente, é uma reposta automática. A sensação de que alguém vai sugerir algo, com base em motivações desconhecidas, é desconfortável.

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O brasileiro costuma ser desconfiado. Sabemos que a venda de produtos e serviços rendem comissão, e por isso sempre parece que estão tentando nos “empurrar” algo.

Quando o assunto são os serviços, é ainda pior. Não queremos pagar nada nunca. Qualquer assinatura ou prestação é vista como algo ruim.

É mais fácil vender um produto que embuta um serviço como bônus – mesmo que seja o centro da ocasião de consumo – do que o serviço sozinho.

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Por isso, barbearias cada vez mais vendem “experiências”, no lugar de apenas um corte de cabelo. As companhias aéreas criam clubes de benefício e disponibilizam produtos a bordo, para que o cliente enxergue algum valor além do transporte. E por aí vai.

No mercado financeiro, acontece coisa parecida: sempre acreditamos que as taxas dos fundos de investimento são caras demais, que a remuneração dos assessores de investimento vai enviesar as recomendações e que os analistas só fazem relatórios de compra sobre ativos de empresas que estão em negociação com o banco de investimento da casa.

A verdade no fim do dia é: nenhuma indústria (incluindo a sua) trabalha de graça. Todos querem maximizar ganhos e reduzir custos.

Algumas instituições sabem conduzir esse pilar sem afetar o foco no cliente. Outras não equilibram essas grandezas tão bem, e acabam ficando pelo caminho.

É claro que sempre pode ser melhor. Tenho críticas severas sobre transparência nas estruturas de custo de algumas operações. Mas é fácil jogar pedras para o lado da oferta – sendo que nós, a demanda, não trazemos o apetite adequado para a mesa.

Os assessores de investimento possuem liberdade no modelo de remuneração. Você pode escolher o comissionamento, sistema em que o profissional é remunerado conforme a proposta de rebate de cada ativo e operação; ou pelo serviço de consultoria financeira, em que o profissional recebe uma taxa anual em cima do patrimônio do cliente que está sob sua responsabilidade.

Adivinhem? O segundo modelo é incipiente no Brasil. E por quê?

Porque preferimos receber a assessoria “de graça” para comprar ativos financeiros, do que pagar pelo serviço de assessoramento.

Preferimos investir diretamente em ações a pagar as “taxas caras dos fundos”. Obviamente, as taxas podem estar desajustadas em alguns casos, até por isso a concorrência faz tão bem ao consumidor. Ela leva o mercado a se corrigir em busca de entregar o melhor por menos para o cliente.

No fim do dia, o que precisamos entender realmente é: o mercado financeiro não trabalha de graça. Existem milhares de profissionais que dedicam suas vidas para entender melhor esse mundo maluco e perseguir os melhores retornos com o maior controle de risco para seus clientes.

Paga-se mais caro pelo que é extremamente bem feito. Assim como qualquer outro serviço ou produto ofertado por aí.

Nós deveríamos pagar taxas de administração e performance com gosto. Deveríamos querer contratar excelentes assessorias e consultorias de investimento para administrar nosso patrimônio.

Não é melhor ter acesso a bons hospitais? Contratar um plano de saúde mais completo? Cuidamos da saúde para viver mais. Então deveríamos nos preocupar em cuidar do dinheiro para viver melhor.

Dito isso, contratar bons prestadores de serviço e escolher pagar bem em modelos que sejam alinhados com seus objetivos deveria ser importante. Buscar formas gratuitas de conseguir ganhos milagrosos sem “sentir no bolso” sempre vai custar mais caro no final.

Quando algum assessor entrar em contato, em vez de responder “obrigado, estou só dando uma olhadinha”, peça uma explicação de como o serviço funciona e quanto custa de fato. Entenda quem é a casa por trás daquele profissional – e pague bem se for um bom serviço.

Lucas Collazo

Host e conselheiro no fundo do Stock Pickers | Especialista em alocação e fundos de investimento no InfoMoney