Estatais federais têm dividendos recordes, mas poucas permanecem entre favoritas em 2023; veja quais

Proventos distribuídos somaram R$ 189 bilhões, quase o dobro em relação a 2021

Katherine Rivas

(Getty Images)

O ano de 2022 foi marcado por um recorde histórico no lucro e nos dividendos das empresas estatais federais, aponta levantamento do TradeMap.

Juntas, as estatais federais somaram lucro líquido de R$ 179,672 bilhões de janeiro a setembro de 2022, distribuindo proventos no total de R$ 189,508 bilhões.

Foram consideradas na amostra apenas companhias com participação da União Federal no seu capital social, tais como BB Seguridade (BBSE3), Banco do Brasil (BBAS3), Petrobras (PETR4), Caixa Seguridade (CXSE3), Banco da Amazônia (BAZA3), Nord Brasil (BNBR3), Telebras (TELB3) e Eletrobras (ELET3) – que, embora desestatizada, ainda tem 33,05% das ações ordinárias nas mãos do governo.

O levantamento levou em conta os dividendos efetivamente desembolsados pelas empresas estatais, sendo tanto pagamentos referentes aos resultados de 2022 quanto adiantamento de lucros futuros, em alguns casos.

Einar Rivero, head comercial do TradeMap e autor do levantamento, explica que só será possível ter o resultado do ano fechado quando as companhias apresentarem as demonstrações financeiras do quarto trimestre. Contudo, já há sinais de que 2022 será o melhor ano desde 2016, com o lucro líquido das estatais federais podendo superar os R$ 200 bilhões.

O volume dos dividendos também deve ser o maior da história, destaca Rivero. Não entraram na conta os dividendos relativos ao terceiro trimestre de 2022, em parte pagos pela Petrobras em 21 de novembro e e em parte previstos para 19 de janeiro, de R$ 3,35 por ação ou R$ 43 bilhões. “Isso leva o volume dos dividendos distribuídos em 2022 para mais de R$ 233 bilhões”, destaca.

Observando apenas nove meses de 2022, a Petrobras concentra o maior volume da amostra, com lucro líquido de R$ 144,9 bilhões e dividendos de R$ 173,4 bilhões. De todas as estatais consideradas no levantamento, a petrolífera foi a única que entregou mais dividendos aos seus acionistas do que lucrou no ano passado, por conta da antecipação de proventos.

Se comparado com os dividendos distribuídos em 2021, um ano também caraterizado por fortes distribuições e antecipações, os proventos das estatais federais mais do que dobraram. Já em relação a 2016, os proventos distribuídos aumentaram quase 28 vezes.

Embora a fotografia de 2022 seja positiva, o cenário de 2023 é nebuloso para as estatais federais, segundo analistas consultados pelo InfoMoney. Mesmo com taxas de retorno em dividendos (dividend yield) ainda altas, muitos já desistiram de recomendar Petrobras e Banco do Brasil. Já BB Seguridade ganhou espaço diante dos juros elevados e do menor risco de interferência.

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Hora do adeus à Petrobras nas carteiras de dividendos?

Muitos analistas já retiraram ou pretendem retirar a Petrobras das carteiras recomendadas de dividendos para 2023.

A XP, por exemplo, fez esse movimento ainda em dezembro de 2022. Destacou que, apesar do desconto das ações e de acreditar no potencial de crescimento da empresa nos próximos anos, as incertezas políticas e possíveis interferências pesam mais. Recentemente, a corretora projetava um dividend yield de 49% para as ações PETR4 e PETR3 em 2023.

Outra que deve retirar a Petrobras da carteira recomendada em 2023 é a Guide. “Não vale a pena ser sócio de uma empresa que não tem como objetivo gerar valor ao acionista”, destaca Mateus Haag, analista de equity da Guide. A projeção é de um dividend yield de 22% no próximo ano.

Considerando que a Petrobras pode ter um payout de 25% do lucro líquido em 2023, Júlio Borba, analista da Benndorf Research, espera um dividend yield de 10% para a Petrobras, com destaque para as ações preferenciais. Contudo, não recomenda a empresa nas carteiras de renda passiva. “Os dividendos devem cair consideravelmente nos próximos quatro anos. Mas acho que o preço está suficientemente atrativo para quem busca valorização no longuíssimo prazo”.

A Levante passa longe da Petrobras há tempos. Flávio Conde, analista da casa, projeta que caso o lucro líquido da petrolífera recue 10%, os dividendos somariam R$ 2,64 por ação em 2023, um dividend yield de 11,8%. Num cenário de queda de 20% no lucro, o retorno seria de 7,7%, ou R$ 1,73 por ação.

O único otimista entre os analistas ouvidos pelo InfoMoney é Luan Alves, head de equity da VG Research. A casa recomenda compra de Petrobras desde 2020, e manteve o papel mesmo quando superou o preço-teto e o valor justo. “Temos ainda uma boa perspectiva para os dividendos da Petrobras em 2023. Após a queda de mais de 40% desde o pico recente, ela voltou ao radar”, destaca. Ele projeta dividend yield de 11% em 2023– desde que a política de preços e os níveis do câmbio e da cotação do petróleo se mantenham.

“Os avanços feitos na gestão da companhia entre 2017 e 2022 a tornaram uma empresa de alta lucratividade e rentabilidade. Por isso, por pior que seja a próxima gestão, parte destes avanços permanecerão. De todo modo, nossa visão é de longo prazo. Para 20 ou 30 anos, a empresa continua e continuará a ser um bom negócio”, destaca Alves.

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BB Seguridade: a nova favorita das carteiras

Com juros ainda elevados, o cenário é considerado promissor para BB Seguridade – que, embora seja uma estatal, não carrega os mesmos riscos de interferência que o Banco do Brasil (BBAS3) ou a Petrobras (PETR4), segundo analistas.

A companhia tem alguns benefícios por ser o braço de seguros do Banco do Brasil, sua plataforma de distribuição. “Cada agência, internet ou plataforma em que o banco está presente pode vender os seguros da BB Seguridade, o que é uma ótima vantagem competitiva”, destaca Guilherme Tiglia, sócio e analista da Nord Research.

A fartura das empresas de seguros se justifica no chamado float financeiro: mensalmente, as empresas arrecadam os “prêmios” – os valores pagos pelos clientes que adquirem seguros – e os mantêm investidos, geralmente em papéis de renda fixa ou em ativos de alta liquidez. As seguradores só precisarão gastar esses valores se o seguro for acionado, em caso de sinistro. Até lá, o dinheiro permanece rendendo juros.

A empresa tem ganho operacional se, em um determinado período, entre prêmios arrecadados e gastos com sinistros, houver sobra – ou float excedente. Como os valores rendem por estarem investidos, há também ganho financeiro. É por este motivo que quando a Selic sobe, a lucratividade das seguradoras é maior – e os seus dividendos aumentam.

Sergio Biz, sócio e analista do GuiaInvest, destaca que a BB Seguridade distribui dividendos recorrentes e consistentes. A empresa faz pagamentos semestrais, sempre em fevereiro e agosto. Recentemente, anunciou que deve destinar 95% do lucro (payout) de 2022 para dividendos. Em agosto de 2022, chegou a remunerar os seus acionistas com dividendos de R$ 1,036 por ação, mas as expectativas do mercado estão no aumento da remuneração já agora em fevereiro de 2023, referente aos resultados do segundo semestre de 2022.

Com a companhia destinando quase todo o seu lucro para dividendos, Biz prevê bons ganhos em 2023, puxados pelo resultado operacional na área de seguros e corretagem. Ele projeta  um dividend yield de 9,5%, com preço-teto de R$ 27,50. “A única desvantagem que o investidor enfrentaria agora é pagar caro pela ação”, diz.

Recentemente, analistas do JP Morgan destacaram que a companhia tem potencial de crescimento de dois dígitos no lucro e um payout de cerca de 90% nos próximos anos.

Na Nord, o dividend yield  projetado é de 9%, com preço-teto de R$ 32. Segundo Tiglia, além de ter ótimas perspectivas operacionais, crescimento dos prêmios e redução da sinistralidade, a BB Seguridade segue beneficiada pela alta dos juros. “Com perfil defensivo, negociando a 11 vezes seu lucro, a recomendação é comprar BB Seguridade”, reforça. A Ouro Preto Investimentos espera um dividend yield de 8,5%, com preço-teto de R$ 40.

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Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.