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Apesar de representar algo em torno de 25% do PIB brasileiro, o gigante agronegócio brasileiro ainda tem uma participação de nanico no mercado de capitais nacional. Um recente boletim do setor publicado pela CVM mostrou um valor agregado de pouco mais de R$ 534 bilhões até março de 2025, ante um volume total que chegou a R$ 16 trilhões. Além de espelhar a histórica falta de diversificação de ativos, o dado comparativo também aponta para oportunidades. E elas existem.
Esse foi um dos principais temas discutidos no painel de Agronegócios do Onde Investir 2026, evento anual do InfoMoney criado para apontar os melhores caminhos onde os investidores pode aplicar seus recursos no ano que está chegando.
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Os convidados do debate Leonardo Alencar, head de agro da XP, e Paulo Mesquita, sócio e gestor do núcleo de agro da Riza. Na condução da conversa estavam os jornalistas Roberto de Lira, do InfoMoney, e Luiz Henrique Mendes, sócio e editor do site especializado The AgriBizz e integrante da bancada do programa Raiz do Negócio.
Os debatedores concordaram que o ano de 2025 foi desafiador, mas destacaram que o segmento do agronegócio é muito variado e que houve bons e maus momentos, variando de setor para setor dentro da cadeia. E que isso deve se repetir em 2026.
Mas o que pesou mais entre os fatores de volatilidade no ano? Para Leonardo Alencar, o “susto de variável não esperada” com grande impacto e que ainda não está resolvido é a questão das tarifas aplicadas pelo governo de Donald Trump.
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“Na hora que [Trump] estabelece tarifas retaliatórias para um país específico, isso interfere no fluxo direto e no fluxo indireto. Quando começou a pegar matérias-primas agrícolas, no caso da soja com a China, e eventualmente depois carne bovina, pescado e café com o Brasil, isso é um nível de complexidade muito grande para resolver”, argumenta.
Para ele, outras questões também interferiram, como a subida da taxa Selic para 15% — que acelerou problemas de crédito — mas ele aponta que isso já estava no radar de quem observa o cenário fiscal brasileiro.
Já questões políticas, como a ameaça de taxação de títulos isentos – que preocupou o mercado de Fiagros – contavam com a defesa da banca do agronegócio no Congresso, o que sempre mantinha a esperança de bloqueio, como aconteceu.
Para Paulo Mesquita, o setor tinha a sensação de que a nova taxação não ia passar. Mas lembra que só a ameaça já foi suficiente para mexe com os ânimos do investidor, especialmente aquele que conta com toda a informação.
Ele diz que, embora isso tenha mexido um pouco com os papéis, também pesou a questão da inadimplência do setor. Assim, ele diz ter visto uma “mistura” de sentimentos entre a possibilidade de taxação e a performance do setor. “Os sustos que o agro deu no mercado em 2025 trouxeram uma volatilidade ruim. Aí os papéis ficaram bem abaixo do que deveria”, diz.
Sobre o alto número de emissões nos últimos meses do ano, o sócio da Riza atribuiu boa parte dela ao atual patamar de juros. “A corrida veio porque os papéis isentos em si, num cenário de juros de 15% ao ano, são atrativos ‘anyway’.” “Eu acho que não foi uma corrida, não acho que vai que tenha ressaca. Eu acho que esses papéis vão continuar muito fortes em 2026, essa é a minha visão.”
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Alguns muito bem, outros nem tanto
Difícil falar de 2025 no agro sem citar a saúde financeira do setor. A sequência de grandes anúncios de recuperação judicial de empresas desde 2023 assustou aqueles que não acompanham esse mercado com profundidade. E a divulgação do alto nível de inadimplência no crédito agrícola pelo Banco do Brasil deixou muita gente com um pé atrás.
Mas o head de agro da XP diz que tudo deve ser pesado e ponderado. “O agro é muito maior que isso, ele tem cadeias lá dentro. Não é uma única coisa. Quando a gente separa o agro em todas as suas cadeias, tem muitas saudáveis que a gente sabe que melhoraram em 2025, mas algumas estão com um cenário um pouco mais nebuloso”, explica.
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“Existe uma conta interessante: hoje, proprietário de terra que não está alavancado, está ganhando dinheiro. O proprietário de soja que não é proprietário da terra, que é arrendatário, está perdendo dinheiro. Se é alavancado, está perdendo dinheiro. Então, são dois cenários muito diferentes para o produtor de soja” delimita Alencar, que não vê muita possibilidade de esse produtor se desalavancar em 206.
Outro segmento que ainda vai sofrer no ano que vem, segundo o especialista da XP, e a cana-de-açúcar, após os produtores terem atravessado um ano ruim em termos de clima e com produtividade menor. Isso num contexto de alta no etanol de milho. Alencar destaca que a produção de cana deve ser um pouco maior no ano que vem, mas alerta que não é só o Brasil que está aumentando a produção. Outros players estão aproveitando para elevar a produção de açúcar o que deve manter os preços baixos.
Mas se grãos e cana ainda vão sofrer um pouco no ano que vem, quem pode se dar bem? Para Alencar, o ano é de cenário favorável para o setor de proteína. “Todo o investimento de pecuária deve crescer no próximo ano. E não é uma dinâmica territorial, não vai ter expansão de pastagem no país. Continua reduzindo a área de pastagem, mas os produtores – e muitos agricultores entraram em pecuária nos últimos anos – conseguiram diversificar e vão capturar essa melhora no cenário de proteína animal”, afirma.
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“Estão mais eficientes”, concorda Mesquita. Ele explica que a dinâmica da pecuária mudou, passando da fase totalmente intensiva para uma semi-intensiva e até de semiconfinamento. “A perspectiva dos pecuaristas com os quais a gente convive é que 2026 e deve ser um ano muito bom para eles. A gente está num ciclo de abate de bovinos, etc, e a perspectiva de crescimento e de valorização da arroba [do boi] no ano que vem é muito é muito grande”, afirma.
Onde e como investir?
Com essa perspectiva de um ano bom para a proteína animal, como investir nesse setor? A Bolsa, o lógico é pensar em ações do setor, mas isso deve ser ponderado, sugere Alencar, porque os grandes grupos se internacionalizaram fizeram grandes investimentos, e a sua performance pode espelhar outras realidade. “Por exemplo, JBS não é um player nacional mais, ele é muito mais dos EUA. E aí, você tem que considerar o cenário de ciclo das proteínas nos Estados Unidos”, detalha, lembrando que a própria MBRF já é diferente, em bora a Minerva seja um pouco mais exposta a Brasil.
Ele afirma que, para 2026, talvez seja mais interessante aumentar a exposição à produção de proteína do que aos processadores. “Eventualmente, quem tem cria, cria vai aumentar margem em 2026. Mesmo na engorda, vai aumentar margem para 2026. Agora, se aumenta o preço do boi e você não tiver a contraparte no preço da carne, você pode ter uma pressão de margens nos frigoríficos. E expectativa é que a margem de 2026 possa ser menor que 2025.”
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Para Mesquita, ao olhar além das ações do setor de proteína, é bom observar os produtos financeiros ainda tão sendo desenhados. Ele acredita que os produtos vão ficar um pouco mais complexos e vão poder abranger uma espectro maior do agronegócio e trazer nisso maior facilidade para o investidor, saindo da limitação às ações na Bolsa ou a um fundo de papel ou de terra.
“O agro ainda é muito pouco representado no mercado de capitais. Agora é que você tem possibilidade de desenvolver produtos para que o investidor possa colocar o seu dinheiro em cada um dos setores de uma maneira diferente. Você vai poder ter um Fiagro, por exemplo, que coinveste em confinamento, se você quiser. É plausível ter isso”, comenta.
Terra é bom investimento?
E o investidor, consegue investir em terra? Mesquita diz que não existem tantas possibilidades, mas que é possível. O fundo Terrax, da Riza, é um FII do agronegócio, elaborado quando ainda nem existiam os Fiagros. Esse produto simula uma dívida, mas que aporta você está investido na terra, com um uma característica de sale & leaseback [operação na qual o proprietário vende um imóvel e, em seguida, o aluga de volta].
O especialista da Riza destaca que o fundo garante um bom retorno ao longo do tempo. E tem uma outra parte do fundo que é a valorização imobiliária – a agente compra, transforma terra, vende, etc. Continua sendo um bom business – no cenário atual, eu digo que é um ótimo business. Como o setor de soja, de produção de grãos em si não vem bem nos últimos três anos, muita gente está desmobilizando capital para poder continuar na atividade. Mas ele pondera que investir em terra é um negócio que retorna a longo prazo. Leonardo
Para Alencar da XP, também é preciso ser considerados que o mercado de terra não é um mercado líquido e que é de difícil mensuração do valor no curto prazo. Pode acontecer uma situação de venda de uma fazenda na, com alta produtividade e irrigação. Ou um alienação de outra fazenda no Mato Grosso de um produtor que pediu recuperação judicial e a terra foi a leilão. São duas situações diferentes, com precificações distintas.
“Então, você tem poucas informações, é um mercado pouco líquido. Isso atrapalha bastante para ter uma clareza do que é valor real, tanto nos momentos de alta como nos momentos de baixa. Normalmente, a gente observa que o preço da terra fica indexado à inflação, às vezes menos que isso ao longo de um grande período de tempo. Quando vem o super ciclo de commodities, aí ele reprecifica”, destaca.