Empírica suspende resgates de fundo com mais de 3 mil cotistas após dificuldade para vender ativos

Em apenas três dias, os pedidos de saque somaram R$ 300 milhões, o equivalente a 50% do patrimônio do fundo

Bruna Furlani Lucinda Pinto

(Getty Images)

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De um lado, uma onda inesperada de ordens de saque do fundo e, de outro, o mercado secundário de produtos de crédito ainda frágil. Foi esse cenário que justificou a decisão de fechar o Empírica Lótus, um de seus dois produtos voltados para investidores com mais de R$ 1 milhão em aplicações financeiras na última terça-feira (29). Ao todo, mais de 3 mil cotistas devem ser afetados com a medida.

Em apenas três dias, os pedidos de saque somaram R$ 300 milhões, o equivalente a 50% do patrimônio do fundo. Para evitar uma venda a qualquer preço dos ativos que compõem a carteira e pensando em proteger os cotistas que permaneceram, a opção foi fechar o fundo para resgate, explica Leonardo Calixto, CEO da gestora. “Toda a venda é feita de forma cautelosa, pensando no investidor que fica”, afirmou, em entrevista ao IM Business.

O Empírica Lótus é um fundo multimercado que compra cotas de fundos – basicamente Fidcs (fundos de investimento em direito creditório). Seu risco está concentrado, portanto, em renda fixa. Trata-se de um fundo D+90, regra necessária para atender a um produto que investe em ativos de menor liquidez, como é o caso de Fidcs e outros ativos de crédito. Ainda assim, essa proteção não foi suficiente, dado o grande volume de resgates. “Vendemos muita coisa, mas não havia condições adequadas de mercado para prosseguir e optamos pelo fechamento do fundo”, diz Calixto.

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Essa dificuldade em transformar os ativos em liquidez se explica, sem dúvida, pelo prazo em que tudo aconteceu. “Durante a pandemia, esse mesmo fundo teve resgates que somaram 40% do patrimônio e o fundo passou ileso, porque foi um movimento mais gradual”, afirma Calixto. Mas a situação do mercado secundário, ainda não completamente recuperado após os eventos que drenaram o fluxo voltado para ativos de crédito, ajuda a explicar a dificuldade em se fazer frente aos resgates. “O mercado de crédito está retomando a atividade, mas o apetite não voltou completamente”, diz o executivo. Por fim, Calixto observa que o fato dos Fidcs não serem marcados a mercado é um agravante nesse tipo de evento. “Nós teríamos um mercado secundário melhor se os ativos estivessem mais aderentes à realidade.”

Embora o ritmo ainda esteja mais fraco, de acordo com dados da Uqbar compilados a pedido do InfoMoney, o número de negócios no mercado secundário de Fidcs vem aumentando nos últimos meses, passando de 2,8 mil em maio para 4,4 mil em julho, o que representa um montante de R$ 1,14 bilhão e R$ 1,36 bilhão, nessa ordem. Os dados são da B3.

Atualmente, a maior parte da carteira do Lótus está alocada em ativos com melhor classificação de risco: AAA, AA ou A. Mas há também uma parcela posicionada em ativos com grau especulativo, como BBB (16%), e outra que não possui grau especulativo (33%), segundo informações da lâmina do produto.

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Após o fechamento do fundo, o BTG tem prazo de até 4 de setembro para convocar a assembleia dos cotistas, que deve ocorrer no dia 20 do mesmo mês, diz Calixto. Nesse evento, será apresentado o plano de ação.  O grupo decidirá se os pagamentos aos cotistas que tiverem pedido o resgate até o dia da assembleia ocorrerão em ordem cronológica ou em regime pro-rata. Mas a ideia é que seja respeitado o regime de caixa, ou seja, que somente sejam entregues os recursos à medida que o fundo conseguir levantar a liquidez necessária. O pagamento deve começar em outubro. Somente quando todos os pedidos tiverem sido atendidos é que o fundo será reaberto.

Na visão da Empírica, essa dinâmica negativa que impactou o Lótus foi provocada puramente por um efeito contágio. Isso porque, em junho, a Empírica também fechou o fundo Empírica Lótus IPCA, seu segundo produto voltado para o investidor pessoa física. “Não havia nenhum problema de liquidez no Empírica Lótus. Está muito claro que houve o contágio”, diz.

O Empírica Lótus IPCA é um fundo com as mesmas características do Empírica Lótus,  tem o índice de preços como benchmark (taxa de referência) e sofreu também uma onda de resgates ao longo do primeiro semestre deste ano. Segundo Calixto, a deflação observada no fim de 2022 acabou afetando o retorno ao investidor: embora o fundo mostrasse um bom desempenho em relação a seu benchmark, rendendo 17% acima do IPCA, o ganho em relação ao CDI era equivalente a 80%. Esse quadro acabou afugentando o investidor.

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Além do problema com a deflação, o produto foi afetado negativamente por ruídos sobre o FIDC Energia Solar, ativo que integra a carteira do Empírica Lótus IPCA e do Empírica Lótus. No caso do segundo, a casa informou que o ativo representa atualmente 0,10% da carteira.

Ao todo, foram solicitados R$ 560 milhões em resgates no Empírica Lótus IPCA, o que fez o patrimônio encolher para R$ 400 milhões. No dia 17 de junho, em assembleia, os cotistas definiram o plano de ação, que prevê o pagamento dos recursos a partir de setembro.

A decisão de fechar um fundo de investimentos para resgate nunca é simples. Embora seja a medida mais adequada, pensando em proteger o cotista que permanece, existe sempre o risco desse caminho gerar insegurança em outros investidores. Especialmente em um momento como o atual, em que uma série de más notícias afetou o mercado de crédito, como as perdas com os papéis da Americanas e da Light.