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O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu, em sua última reunião do ano, manter a Taxa Selic em 15% ao ano. A decisão, que era amplamente esperada pelo mercado, marca a quarta manutenção consecutiva da taxa no maior patamar dos últimos 20 anos. No entanto, o comunicado do BC foi interpretado por analistas como “hawkish” (duro), frustrando a expectativa de um sinal mais claro sobre o início do ciclo de cortes em 2026.
A incerteza sobre o timing do corte de juros somada às eleições e fatores fiscais cria um cenário de otimismo controlado, que exige dos investidores uma postura mais cautelosa e seletividade na compra de ativos, segundo especialistas ouvidos pelo InfoMoney.
O que esperar da Bolsa?
Isabella Hass, analista de mercado internacional da W1 Capital, diz que o mercado segue precificando expectativas, mesmo com a Selic parada. “Enquanto não houver sinal claro de início de cortes, a Bolsa tende a ficar mais lateral, com sensibilidade maior a qualquer dado macro”.
Não perca a oportunidade!
Além de uma precificação mais cética de ações de setores cíclicos, os investidores ainda precisam considerar a força da renda fixa tirando parte da atratividade da Bolsa, segundo Daniel Zyskowski, sócio e private banker na InvestSmart XP. “Se o próprio Tesouro Selic paga em torno de 15% ao ano, os investidores não sentem necessidade de se expor ao risco”.
Aos 159 mil pontos, o Ibovespa se distanciou do recorde de fechamento de 164.455 pontos alcançado no último dia 4. Para Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos, a correção representa uma oportunidade de alocação “seletiva e gradual”, sem a necessidade de movimentos agressivos.”Entradas faseadas em empresas com balanço sólido, geração de caixa estável e sensibilidade positiva a um ciclo de juros em queda fazem sentido”.
Recentemente, a Bolsa desabou mais de 4% e teve a maior queda em um dia desde fevereiro de 2021 em movimento desencadeado pelo anúncio de que o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) foi escolhido pelo pai para ser candidato a presidente da República em 2026. Para Mario Mariante, analista-chefe da Planner Investimentos, o evento foi um anúncio de que a política deve continuar influenciando “fortemente” o rumo da Bolsa: “qualquer dose de otimismo precisa estar respaldada por bons fundamentos; em alguns momentos, observam-se movimentos especulativos”.
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Uma correção mais forte, para perto de 150 mil pontos ainda pode ser “saudável para reduzir excessos do ralli de fim de ano”, avalia Marcos Praça, diretor de análise da Zero Markets Brasil. Ele diz que “é difícil ter uma previsibilidade (sobre o rumo das ações) no momento, visto que o mercado está apresentando forte reação a especulações políticas”.
Onde investir?
Setores cíclicos, como varejo, construção civil, são citados como oportunidades agora, enquanto ainda há incertezas sobre a data de início do ciclo de cortes, mas consenso de que o movimento virá. As empresas desses segmentos “continuam com múltiplos descontados e têm potencial de alta se os cortes se confirmarem”, segundo Chinchila.
Zyskowski concorda e diz que esses setores não acompanharam a alta do Ibovespa, acrescentando ainda ações de tecnologia: “conforme o dinheiro vai ficando mais caro, suas margens tendem a diminuir”, o que explica uma reprecificação quando a Selic for cortada.
Max Bohm, estrategista de ações da Nomo ainda acrescenta que “a Selic mais baixa facilita acesso a crédito e reduz despesas financeiras, então cases mais alavancados acabam tendo sobra de lucro operacional, e isso favorece esses tipos de ações”.
Num cenário de juros altos por mais tempo, bancos, empresas de energia e grandes exportadoras estão entre as preferências de Isabela Hass. “São setores que seguram melhor o humor do mercado”.
Por outro lado, o sinal de alerta do investidor deve acender ao encontrar empresas muito alavancadas, altamente dependentes de rolagem de dívida de curto prazo ou que precisam de expansão imediata de crédito, já que os juros altos comprimem margens, diz Régis Chinchila. Ele ainda recomenda cautela com papéis que se valorizaram sem gatilhos operacionais claros.
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Com as eleições se aproximando, Zyskowski recomenda cuidado com papéis que possam sofrer influência política, como as estatais. No entanto, ele pondera que “o principal ponto de atenção deve estar no peso de cada papel, de cada setor e a sua correlação com o restante do portfólio, para não correr o risco de ficar sobrealocado”.