Em alta entre os investidores, aspectos ESG não geram retorno adicional aos portfólios, mostra estudo do BofA

Investimentos ESG ganham tração na América Latina, mas falta de dados ainda dificulta análise, destaca banco americano

Mariana Zonta d'Ávila

(Karsten Würth/Unsplash)

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SÃO PAULO – Com os investidores cada vez mais atentos às práticas sociais, ambientais e de governança ao alocar seus recursos, empresas com melhores princípios ESG tendem a ganhar mais espaço nas carteiras.

No entanto, ainda que apresentem melhores fundamentos e contribuam para mitigar o risco do portfólio, maiores níveis ESG não implicam necessariamente retornos mais elevados. É o que mostra estudo do Bank of America (BofA).

Em relatório divulgado nesta semana, o banco americano aponta que, nos últimos cinco anos, os índices ESG não apresentaram desempenho acima do registrado em relação aos demais índices de ações.

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No caso do Brasil, o banco americano cita que empresas com maior risco ESG (pior perfil) apresentaram, desde 2016, desempenho superior às de menor risco, enquanto a volatilidade foi praticamente a mesma.

O fato de que o rali de 2018 a 2019 foi liderado por companhias de materiais e estatais que têm, no geral, maiores riscos ESG, foi apontado pela equipe do BofA como uma provável razão que contribuiu para o resultado apresentado.

No documento, os especialistas do banco americano explicam ainda que, mais do que seguir critérios socioambientais, a geração de alfa está sujeita a uma variedade de múltiplos fatores tais como entradas de recursos, fundamentos das empresas, catalisadores de crescimento e, mais importante, valuation, que tende a ser já mais elevado em companhias com melhores critérios ESG, assinala o banco.

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De todo modo, o foco dos investidores, destaca o BofA, deve estar nos fundamentos das empresas e não no alfa em potencial. Além disso, os critérios ESG são, na visão dos especialistas, a melhor forma de obter sinalizações quanto ao risco do investimento, bem como fatores de qualidade. “É importante, contudo, não pagar mais caro para ‘boas’ empresas”, reforçam os analistas.

Melhores da Bolsa sob a ótica ESG

Segundo o BofA, no Brasil, as empresas com melhor perfil ESG têm, em média, menor volatilidade nos lucros – isso é verdadeiro, contudo, para setores com maior valor de mercado, como companhias financeiras, de materiais, energia e consumo.

A tabela abaixo destaca diversos nomes dos setores financeiro, consumo discricionário e de bens de consumo. Os segmentos de materiais e energia, que representam grande parte dos índices de ações da América Latina, não aparecem na lista.

Foram consideradas empresas que possuem ratings BBB ou acima, no MSCI ESG, que estão no top 40% da Refinitiv, ou que estejam nos últimos 40% do Sustainalytics ESG Risk.

Mercado ainda em estágio inicial

Fundos ESG no Brasil ainda são pequenos, mas os fluxos têm crescido. Segundo dados da Economatica levantados pelo BofA, fundos brasileiros categorizados como ESG possuem R$ 7 bilhões em ativos sob gestão, o que representa menos de 1% do total sob gestão da indústria local de fundos de ações.

As entradas aceleraram desde 2019, quando o mercado somava R$ 5 bilhões, mas ainda são pequenas quando comparadas à captação de fundos de ações, da ordem de R$ 190 bilhões no intervalo.

Em março, os ativos sob gestão dos mais de 1,9 mil fundos ESG monitorados pelo BofA no mundo atingiram recorde de US$ 1,3 trilhão, mais do que o dobro do registrado há um ano e três vezes mais do que o apresentado em 2019.

De acordo com o levantamento do BofA, 78% dos investidores latino americanos consultados consideram os critérios ESG ao tomarem decisões de investimento, seja adotando critérios qualitativos ou desenvolvendo índices internamente.

O mercado, contudo, ainda carece de dados, o que dificulta uma análise mais aprofundada e certeira das melhores empresas, avalia o banco.

O BofA destaca que empresas terceirizadas, como Refinitiv, MSCI e Sustainalytics, resumem uma série de critérios sociais, ambientais e de governança em notas. Enquanto isso reduz análises subjetivas, tende a penalizar empresas com poucas informações, escreve o banco.

“Na América Latina, isso significa lidar com dados faltantes e uma maior exposição a vieses, uma vez que as notas ESG tendem a ser melhores para empresas grandes e internacionais”, avalia o BofA.

Ainda que seja importante para a análise ESG que as empresas divulguem o maior número de dados possível, o BofA afirma que isso ainda não pode ser aplicado na América Latina, pelo fato de os investimentos em ESG estarem ainda em estágio inicial.

“Do lado positivo, a América Latina pode ter bastante espaço para melhorar seus níveis de informações com o crescimento dos padrões ESG na região”, escreve o banco americano.

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