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É hora das small caps americanas? Analistas veem “recuperação tática”, mas alertam para volatilidade

Após desempenho ruim no ano passado, ações das small caps americanas apresentam preços baixos e boas avaliações. Analistas veem oportunidade no curto prazo

Monique Lima

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Nem só de gigantes da tecnologia vive o mercado americano. Nos últimos meses, um grupo específico de ações vem ganhando a atenção dos analistas: as small caps, empresas de baixa capitalização.

Nos últimos 30 dias, até terça-feira (20), o Russell 2000, principal índice de small caps dos Estados Unidos, registrou uma alta de 3,97% – muito próxima dos ganhos de 4,68% do S&P 500. Em um período maior, de três meses, o S&P se valorizou 11% e o Russell 7%.

Mas algumas companhias em especial tiveram um desempenho muito acima disso. São casos como o da Prometheus Biosciences, que saltou 81,75% só neste ano, ou da TG Therapeutics, com alta de 100% acumulada em 2023 (leia mais sobre essas empresas ao longo da reportagem).

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Assim como no Brasil, as small caps americanas são empresas com baixo valor de mercado, na faixa de US$ 250 milhões a US$ 2 bilhões. Por serem menores, são mais sensíveis à incerteza e às mudanças no cenário econômico, o que aumenta a volatilidade das negociações em bolsa.

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No Bank Of America (BofA), os analistas veem potencial de “recuperação tática” para as ações de baixa capitalização em meio aos posicionamentos pessimistas do mercado. Para eles, grande parte do rali recente foi devido à cobertura de posições vendidas dos meses anteriores. “Os fundos permanecem underweight [perspectiva de desempenho abaixo da média] para small caps, mesmo que fatores técnicos tenham melhorado”, dizem em relatório recente.

Eles avaliam que as ações não foram precificadas para uma crise de crédito decorrente dos altos juros, mas foram para uma recessão moderada no país. “Depois de uma estreita liderança de mercado, vemos um potencial de recuperação de curto prazo em áreas como as small caps. Mas vemos vários riscos de médio prazo, sugerindo a necessidade de ser ágil.”

Segundo Caio Fasanella, head de investimentos da Nomad, a volatilidade representa uma oportunidade para os investidores quando há uma tendência de alta para essas ações. Porém, ele alerta que é uma opção para quem está disposto a correr riscos. “O retorno pode ser maior, mas o risco também é”, diz.

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Após o desempenho ruim de 2022, com queda superior a 20% do índice Russell 2000, Fasanella afirma que as empresas de baixa capitalização estão apresentando avaliações mais atrativas neste ano, considerando o preço dos ativos com base em suas perspectivas de ganhos futuros.

“No caso das small caps, os investidores costumam exigir taxas de desconto mais altas, para refletir o maior risco. A redução dos preços resultou em uma alta de quase 15% do índice no início deste ano”, diz o head da Nomad.

Em relatório da Morningstar divulgado nesta terça-feira (20), o estrategista-chefe David Sekera afirma que as small caps estão sendo negociadas a preços muito mais atraentes do que as ações de grande capitalização. Segundo ele, “pode ser a hora das small caps assumirem a liderança, especialmente quando os temores de recessão estão menores.”

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O Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos cresceu a uma taxa anualizada de 1,3% no primeiro trimestre de 2023, conforme o Departamento de Comércio do país. O resultado ficou acima do consenso Refinitiv, que apontava alta de 1,1%. A expectativa é de que no segundo trimestre também seja verificado um crescimento na casa de 1%.

Dados de consumo e a resiliência do mercado de trabalho estão evitando que a economia dos EUA entre em recessão. Ainda há analistas que apontam para essa possibilidade no segundo trimestre, porém, com uma tendência de desaceleração branda.

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Grandes valores, maiores os riscos

De janeiro até o último dia 15 de junho, a empresa de biotecnologia Prometheus Biosciences teve um salto de 81,75% no preço das suas ações. No período de um ano, a alta foi de impressionantes 700% – saindo de US$ 25,22 para US$ 199,92.

O salto aconteceu após resultados positivos no desenvolvimento de um novo produto para tratamento de doenças inflamatórias. Além disso, em abril deste ano, a farmacêutica Merk anunciou a intenção de comprar a Prometheus com um prêmio de 75% no valor das ações.

Outro exemplo é o da biofarmacêutica TG Therapeutics. Em um ano, o preço das ações saltou 523%, de US$ 3,87 para US$ 24,22. Somente em 2023, o crescimento foi de 100%. Em dezembro, a empresa lançou um medicamento novo para o tratamento de esclerose múltipla – uma doença degenerativa que não tem cura.

O que o rali de small caps como essas tem de interessante também tem de arriscado, segundo Breno Kehler, sócio e assessor de investimentos da Ável. “É crucial uma análise técnica sobre essas empresas. Conhecer seus números financeiros, os produtos que vende e como é a governança. Da mesma forma que um gatilho pode impulsionar os papéis, uma notícia inesperada sobre a empresa ou a economia do país pode fazer tudo ir por água abaixo”, diz.

Fasanella, da Nomad, destaca que o cenário nos Estados Unidos ainda é de aumento dos juros, e que a inflação no país continua alta. “Quando há cenários de juros elevados como o atual, a incerteza sobre os fluxos de caixa e a necessidade de obter retornos mais altos tornam a avaliação da empresa mais complexa e volátil. Isso afeta o preço dessas ações.”

O assessor da Ável afirma que o investimento em small caps não é para perfis conservadores ou moderados. “É um investimento para perfis arriscados. E ainda assim é uma alocação muito pequena da carteira que é indicada para small caps”, diz Kehler.

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Investir em ETFs ou ações?

Fasanella e Kehler indicam os fundos de índices (ETFs) como opção para investir em small caps. O head da Nomad afirma que “é uma opção para se proteger da volatilidade de uma única empresa, além de ser uma diversificação maior para a carteira de investimentos”.

Kehler cita o ETF da Vanguard VIOV como uma boa opção. O VIOV acompanha o índice S&P Small-Cap 600. Seu nível de risco é agressivo e a taxa de administração é de 0,15%. Desde janeiro, o fundo valorizou 3,12%. Em um ano, os ganhos foram de 3,95%.

Outra opção é o ETF da BlackRock iShares Russell 2000 (IWM). Ele acompanha o desempenho do Russell 2000, tem um perfil agressivo e uma taxa de administração de 0,19%. Seu desempenho em 2023 foi positivo em 5,82%. Em um ano, a alta foi de 8,91%.

Entretanto, para o BofA e a Morningstar, a melhor estratégia para investir em small caps atualmente é escolhendo empresas pontuais.

“Dada a infinidade de correntes cruzadas entre mercado e economia, continuamos a favorecer a seleção de ações frente a indexação [ETFs], apoiada pela alta dispersão das avaliações [de empresas] e melhor amplitude dentro de regimes de recessão”, escrevem os analistas do BofA.

As empresas incluídas no Russell 2000 são as escolhas dos analistas do BofA por terem menos dívidas. Segundo eles, “as métricas de alavancagem parecem piores para o S&P 600, que também tem um risco de refinanciamento mais alto”.

A Morningstar listou dez small caps que classifica como subvalorizadas – ou seja, cujos preços atuais estão abaixo do preço considerado “justo”. Em relatório, o estrategista-chefe destaca que todas as empresas possuem uma alta classificação de risco e “para compensar isso, é especialmente importante comprar ações de pequena capitalização a preços bem abaixo de seu valor”, diz o relatório. Confira a lista:

Ticker Empresa Setor Preço atual da ação Diferença entre o preço atual e o preço justo 
HBI Hanesbrands Vestuário US$ 4,72 77%
SABR Sabre Serviços de viagens US$ 3,31 68%
LYFT Lyft Tecnologia US$ 9,75 67%
AMCX AMC Networks Entretenimento US$ 10,71 56%
JWN Nordstrom Lojas de Departamento US$ 18,93 49%
LAD Lithia Motors Concessionária US$ 276,51 49%
CMP Compass Minerals Mineração US$ 34,86 46%
CMA Comerica Finanças US$ 42,31 46%
ABG Asbury Automotive Group Concessionária US$ 224,47 44%
ADNT Adient Autopeças US$ 38,39 44%

Fonte: Morningstar. Data de referência do preço atual: 20/06/2023.