Do IPO à OPA: o que leva as empresas a optarem por fechar seu capital?

De acordo com especialistas, existem diversos motivos, que giram sempre em torno do interesse dos controladores

Diego Lazzaris Borges

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SÃO PAULO – Abrir o capital de uma empresa não é um procedimento simples. É preciso se adequar a uma série de exigências dos órgãos reguladores, adotar práticas de governança corporativa, além de manter os balanços e todas as informações ao mercado sempre em dia.

Depois de conseguir passar por todas essas exigências, o que leva uma empresa a decidir fechar o capital na Bolsa de Valores?

De acordo com especialistas, existem diversos motivos, que giram sempre em torno do interesse dos controladores. No caso mais recente, o Itaú Unibanco anunciou a OPA (Oferta Pública de Aquisição) das ações de sua controlada, a Redecard, alegando que isso reduziria os conflitos de interesse entre as emissões de cartões do banco e os serviços oferecidos pela operadora da rede.

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Este foi o motivo do Itaú Unibanco, mas existem outras razões que podem levar uma companhia a recomprar as ações do free float (em circulação no mercado). “Um deles é o fato do controlador achar que as ações estão muito baratas ou com muito pouca liquidez, por exemplo”, afirma o gerente-geral do INI (Instituto Nacional de Investidores), Paulo Portinho.

Ele lembra que existe uma série de custos para manter uma empresa com capital aberto, que pode não valer a pena, caso as ações não tenham o desempenho esperado. “A empresa gasta muito para manter uma área de RI (Relações com Investidores), para fazer e divulgar os balanços trimestrais e prestar toda a informação exigida pelo mercado”, aponta Portinho.

O especialista em finanças da MoneyFit, André Massaro, concorda com ele. “Esses custos são muito elevados”, diz.

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Capitalização e elevado grau de disclosure
O professor do Ibmec-MG, Alexandre Galvão, lembra que o principal motivo para que uma empresa vá à bolsa de valores é o de se capitalizar, ou seja, conseguir mais dinheiro atraindo mais sócios (os acionistas minoritários) para financiar seus projetos de expansão.

Entretanto, se o controlador for uma empresa de grande porte ou multinacional, que tem fácil acesso à capitalização em mercado, pode ser mais vantajoso fechar o capital de uma controlada que não tenha tanta expressão na bolsa de valores. “Às vezes, faz mais sentido para aquela empresa captar recursos de outras formas”, afirma Galvão.

Outro ponto que pode pesar na decisão de fechamento de capital é o fato de que as empresas listadas na Bolsa de Valores precisam ter um maior grau de disclosure (revelação de informações ao mercado). “A empresa pode preferir adotar uma estratégia de divulgar menos informações, até mesmo por conta do tipo de negócio em que ela atua”, afirma Portinho.

O que o investidor deve fazer
De acordo com os especialistas, para os investidores que possuem ações da empresa que anunciou a OPA, o melhor a ser feito é participar da oferta e vender seus ativos. “Não vale a pena ficar com as ações de uma empresa de capital fechado”, afirma Massaro, da MoneyFit.

O professor do Ibmec concorda. “O investidor pode até se organizar e se manifestar coletivamente contra o preço da oferta, por exemplo, mas o ideal é participar desta oferta”, afirma Galvão. “Depois disso, ele vai ter sérios problemas com a liquidez do papel”, alerta o professor.

O gerente do INI lembra que, para aqueles investidores de curto prazo, que pensam mais na oscilação momentânea do papel, um anúncio de OPA pode representar a chance de ganhos rápidos. “Normalmente, quando a empresa anuncia que irá recomprar as ações, o preço dos papéis costuma subir”, ressalta.

De fato, as ações da Redecard dispararam 10,49% na terça-feira (7), dia do anúncio da OPA, e avançaram mais 2,82% no pregão desta quarta-feira (8).

Mas, para os investidores de longo prazo, o anúncio não é tão bom assim. “Se você confia no crescimento da empresa e estava posicionado esperando se aposentar com aquelas ações, acaba sendo uma grande frustração”, aponta.

Menos empresas na bolsa
De acordo com dados da BM&FBovespa, nos últimos dois anos, 46 empresas cancelaram seus registros de companhia aberta. Entre as OPAs mais recentes está a do UOL, empresa controlada pela Folhapar, que cancelou o registro no início deste ano.

Entretanto, este número ainda não inclui a OPA da Redecard, anunciada nesta semana, nem a da Confab, divulgada no início deste ano. “Quem perde com isso é o mercado nacional. Para aquele investidor que tem uma visão global é frustrante, pois ele vê que o mercado não está fazendo o papel dele. Ao invés de entrarem na bolsa, as empresas estão saindo”, critica Portinho.

Diego Lazzaris Borges

Coordenador de conteúdo educacional do InfoMoney, ganhou 3 vezes o prêmio de jornalismo da Abecip