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Seguro residencial dispara nos EUA e aumenta custo de casa lá fora. A culpa? É do clima

Número de imóveis destruídos por ano pode chegar a 34 mil nas próximas décadas, segundo First Street Foundation

Ana Paula Ribeiro

(Getty Images)

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Previsto por cientistas, o aumento da frequência de desastres naturais por conta das mudanças climáticas já não é percebido apenas no noticiário de previsão do tempo: nos Estados Unidos, também traz um efeito concreto na disparada de preços de seguros residenciais, em problema observado de longe pelo brasileiro visando comprar casa no exterior.

Os preços dos seguros de imóveis nos Estados Unidos crescem, em média, 20%, neste ano, como consequência da maior severidade de incêndios, ciclones e enchentes. E o prognóstico não é animador.

A First Street Foundation, associação que estuda os riscos relacionados a mudanças climáticas, estima em 17 mil as propriedades que são destruídas anualmente devido às condições climáticas atuais. Mas, com a intensificação dos eventos extremos, a expectativa é que, em menos de três décadas, esse número dobre para 34 mil por ano.

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Em danos econômicos, o impacto elevaria as perdas de atuais US$ 14 bilhões para US$ 24 bilhões ao ano – só no ano passado, estima-se que o furacão Ian, que atingiu a Flórida e a Carolina do Sul, tenha gerado prejuízo de US$ 53 bilhões.

Dessa forma, o brasileiro que pretende comprar imóvel nos EUA, seja para morar ou investir, precisa estar preparado para assumir uma despesa crescente com seguro residencial, que muitas vezes é obrigatória para quem vai financiar um imóvel.

Tipos de seguro

Segundo Tiago Prado, presidente da corretora de seguros BRZ Insurance, cerca de 65% das propriedades americanas exigem seguro na hora de financiar. Além das coberturas básicas, a depender da região a apólice também deve contar com proteção para alagamento, incêndio ou terremotos.

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E a obrigação não é só no momento da contratação do financiamento: a apólice deve ser renovada anualmente.

Para quem vai morar nos Estados Unidos a trabalho ou estudos e aluga um imóvel, existe também a opção de seguros para inquilino. Prado explica que eles são importantes mesmo que o imóvel alugado tenha um seguro. Afinal, essa cobertura garante que em caso de uma enchente, por exemplo, o locatário garanta o ressarcimento dos bens perdidos e o pagamento de um aluguel temporário.

“Muitas vezes o brasileiro e outros latinos não entendem essa importância, o imigrante não tem o conhecimento”, diz, ao falar da atuação da corretora na região do estado de Massachusetts, que concentra parte da população brasileira nos Estados Unidos.

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Aumento dos custos

Parte do problema com os seguros se deve pela menor participação das seguradoras em algumas regiões. No mercado americano, as apólices são reguladas, fazendo com que os reajustes não ocorram de forma livre, com comissões variam por regiões que fazem a aprovação. O cenário cria um desafio acessório, que se alimenta da divergência entre os reguladores e as empresas de seguro.

Em linhas gerais, os reguladores querem que o risco que seja levado em conta para precificar os seguros deva ser baseado na curva histórica dos sinistros. As seguradoras acham que isso não é suficiente, uma vez que as mudanças climáticas ruíram com a capacidade de previsão dos eventos extremos.

Com isso, na Califórnia, algumas grandes seguradoras se retiraram do mercado. Segundo dados da First Street Foundation aponta que as não renovações de apólices com cobertura para incêndio no estado cresceram 800%. Com isso, os proprietários precisam apelar para o Estado, que precisa preencher a lacuna deixada no mercado.

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Esse desalinhamento da indústria de seguros é um laboratório para o resto do mundo. A frequência e severidade dos eventos climáticos já afetam o preço dos seguros e também fazem as seguradoras agir com maior cautela, recusando novas apólices ou renovações [de determinadas áreas].

Tiago Prado, presidente da BRZ Insurance

Cultura do seguro

Leonardo Freitas, CEO da consultoria de imigração Hayman-Woodward também vê uma tendência de alta para os seguros. Para ele, embora os brasileiros tradicionalmente não vejam o seguro residencial como um hábito no Brasil, eles acabam, nos EUA, entendendo a necessidade dessa contratação.

“Com novas ocorrências [de eventos climáticos extremos], a tendência é o valor do seguro subir. É um mercado que oscila muito”, diz.

Na avaliação de Semíramis Biasoli, secretária-executiva do Fundo Brasileiro de Educação Ambiental (FunBEA), a preocupação em relação aos eventos climáticos extremos é real. Com dados históricos servindo pouco para os estudos de previsibilidade desses eventos, o caminho para solução envolveria o aumento dos custos das seguradoras para cobrir as perdas.

“Os seguros trabalham com a lógica preventiva para ter resultados maiores que os riscos. [Atualmente] há uma maior intensidade e periodicidade desses eventos, o risco das mudanças climáticas já chegou no cotidiano“, lamenta.

Ana Paula Ribeiro

Jornalista colaboradora do InfoMoney