Decoração, arte ou investimento? O mercado de tapetes persas que valem até R$ 500 mil

Queda no número de artesãos causa escassez de oferta e obras são vistas como itens de decoração e investimento ao mesmo tempo

Leonardo Guimarães

(Foto: Divulgação / Chão Persa Raridades)
(Foto: Divulgação / Chão Persa Raridades)

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Você compraria um tapete de R$ 2 mil? Ou que tal outro que custa meio milhão de reais? Para alguns, pode soar estranho que haja uma forte demanda por peças com esses preços a ponto de fazer uma loja de tapetes persas vender entre 50 e 60 exemplares todo mês. Mas quem já conhece esse mercado sabe que a demanda – e o preço – deve aumentar daqui para frente. 

“Atendemos cerca de 100 pessoas por dia que querem tirar dúvidas ou têm interesse em conhecer os preços”, diz Alexandre Rodrigues, fundador da Chão Persa Raridades. Há cerca de um ano, o advogado disponibilizou parte “relevante” de seu acervo para dar o pontapé inicial à loja. Agora, ele tem dificuldade em encontrar tapetes persas disponíveis no mercado: “estou há um mês buscando incansavelmente peças e não consigo comprar”. 

Por que comprar um tapete persa? 

O empresário explica que os tapetes persas devem ser encarados como obras de arte: “são produções manuais, cada peça tem uma configuração própria e tem parte do intelecto do artesão expresso naquela obra”. 

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Outro fator importante para quem compra é a valorização dos tapetes. O número de artesãos vem diminuindo a cada ano, o que diminui a oferta desses produtos e causa apreciação no valor das peças. “Há uma tentativa de manter a tapeçaria ativa com a mecanização, mas isso apenas enfatiza o trabalho manual, já que as máquinas não chegam perto da qualidade”. 

Rodrigues afirma que metade dos clientes procuram a Chão Persa Raridades para comprar os tapetes persas apenas como um item de decoração, enquanto a outra metade enxerga os itens como ativos de investimento. No primeiro grupo, “as pessoas começam a conviver com os tapetes e percebem que eles não se alteram, que passam os dias e a lã continua alta, o que mostra que, além de adornos, eles podem ser investimentos que não perdem valor se mantidos corretamente”. 

Alguns tapetes ficam expostos na parede, como quadros assinados por pintores, mas a grande maioria é usada no chão. A manutenção dos itens também movimenta o mercado: Rodrigues precisou contratar dois especialistas em manutenção, reparo e limpeza de tapetes, além de comprar máquinas que batem os tapetes e custam até R$ 100 mil, mas esse serviço tem uma grande barreira logística, já que depende de transportadoras, o que aumenta custo e risco. 

Liquidez no mercado de tapetes

Como todo investimento, há a preocupação com a liquidez. Afinal, o investidor quer saber em quanto tempo consegue transformar o ativo em dinheiro em caso de necessidade. Alexandre Rodrigues garante que a venda é rápida: “é muito fácil encontrar compradores online ou até mesmo em lojas de antiguidades; além disso, todos os grandes comerciantes de obras de artes são praticamente compradores permanentes”. 

Ele conta que, recentemente, se interessou por uma peça e pediu ao vendedor algum tempo para fazer um depósito de entrada, mas a peça foi vendida logo depois: “não temos mais tempo para raciocinar, a escassez vem dificultando muito”. 

Quem avalia os tapetes? 

Há alguns fatores que fazem um tapete persa valer R$ 100 mil ou R$ 300 mil. Mas o principal deles é a região onde foi produzido. Tabriz, Isfahan, Kashan são exemplos de cidades iranianas com tradição na produção de tapetes persas. Cada região tem uma metodologia de confecção que ajuda a classificar a qualidade das obras. 

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“Os Isfahan são como as Ferraris dos tapetes persas, são nobres e finos, feitos apenas com a lã da barriga do carneiro, que tem uma idade mínima e máxima exigida e um tingimento específico, enquanto os Hamadan, por exemplo, são mais tribais – o carneiro é tosado de maneira uniforme, mas não há peças de baixa qualidade”, explica Rodrigues. 

Anunciado por R$ 300 mil, o Tapete Persa Isfahan Serafian em Seda faz parte do acervo da Chão Persa Raridades. Ele foi produzido pela “renomada família Serafian, cujo nome se tornou sinônimo de perfeição em Isfahan”, segundo a loja. “É uma verdadeira obra de arte têxtil colecionável, destinada a atravessar gerações como herança cultural e patrimônio artístico”. (Foto: Divulgação)

A precificação dos tapetes persas também passa pelo estado. As franjas são analisadas com rigor e precisam estar em bom estado. Rasgos e manchas fazem as peças perderem valor. “A partir dessas características, o mercado vai ditando quanto vale cada tapete”. 

Nos últimos anos, porém, o empresário afirma que mesmo tapetes “extremamente danificados” e que levam cerca de dois anos para serem restaurados vêm sendo comercializados. “Existem dois grupos que compram esses itens, o primeiro é o que gosta de tapetes com as marcas do tempo e o outro é composto por pessoas que sabem da escassez de oferta”. 

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Como funciona a tributação? 

Se há ganho de capital com a venda de um tapete, o Imposto de Renda é cobrado em cima da diferença entre o valor de venda e de aquisição, com alíquotas que variam entre 15% e 22,5%, conforme o montante ganho, explica Luisa Macário, advogada tributarista e sócia do escritório Macário Menezes Advogados. Se o ganho com as vendas for de até R$ 35 mil em um mês, o ganho de capital é isento de IR.

Macário diz que, mesmo antes da venda, o bem deve ser incluído na Declaração de Imposto de Renda Pessoa Física (DIRPF), no grupo “Bens Móveis – Obras de arte, antiguidades e objetos de coleção”, pelo valor de aquisição. “Esse valor não deve ser atualizado nas declarações seguintes, sendo o imposto devido apenas no momento da alienação, quando há lucro”. 

Se um consumidor compra um tapete persa por R$ 30 mil e vende o item por R$ 200 mil posteriormente, o ganho de R$ 170 mil estaria sujeito a 15% de IR, segundo a advogada. 

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“Se o tapete tiver caráter artístico, histórico ou for assinado por artista reconhecido, pode ser tratado como obra de arte para fins de classificação patrimonial, mas isso não altera a regra tributária sobre o ganho de capital. Em coleções mais relevantes, é recomendável considerar estruturas patrimoniais específicas (como holdings) para fins de organização e planejamento sucessório”, diz Luisa Macário.