Comprar, vender ou manter: como gestores estão se posicionando na Bolsa nesta volta de feriado

Queda da Bolsa era esperada e é considerada uma correção natural de preços; cautela prevalece entre os profissionais

Beatriz Cutait

SÃO PAULO – Em meio a um esperado tom de maior nervosismo nos mercados nesta quarta-feira, em reação à queda das bolsas internacionais durante os últimos dois dias, gestores brasileiros apresentam maior cautela com suas posições.

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Em conversas com o InfoMoney, nenhum profissional disse enxergar, por ora, motivos para vendas exageradas na Bolsa, apesar das incertezas. Eles enxergam o movimento deste pregão como parte natural de uma correção, embalada, naturalmente, pelo crescimento dos casos de coronavírus fora da China.

Há quem prefira não alterar o portfólio, enquanto outros aproveitam o contexto para realocar parte das posições e uma parcela prefere destinar parte do caixa às compras. Os movimentos, contudo, se colocam como pontuais, sem alterações estruturais dos portfólios.

O último o caso é o da Mauá Capital, que está aproveitando a queda generalizada de preços para aumentar as posições em ações como Magazine Luiza, Via Varejo, NotreDame Intermédica e Natura.

“Estamos comprando um pouco, mas não é uma mudança estrutural. Estamos reforçando posições que já estavam em carteira”, diz Renato Ometto, sócio e gestor do fundo de ações.

O fundo tinha cerca de 5% de caixa e está destinando pouco menos da metade às compras. Ometto reforça, contudo, que deve manter as proteções do portfólio, montadas via opções de venda (put) de Ibovespa.

“É muito cedo para falar de consequências do coronavírus. Até semana passada, era dada pouca importância a essa questão. Tudo está meio no escuro e, para o Brasil, pesa um pouco mais o lado técnico.”

Ao destacar que empresas vinculadas a commodities sofrem mais dada a maior correlação com o mercado externo, o gestor ressaltou que pretende manter as posições nas ações de Petrobras e Suzano. Por enquanto, afirma Ometto, não dá para avaliar com precisão o efeito do vírus sobre o crescimento mundial.

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Wagner Salaverry, sócio responsável pela gestão da renda variável da Quantitas, está aproveitando o contexto para fazer mudanças no portfólio, estudando a venda de papéis da Petrobras e compra de ações mais ligadas ao mercado interno, como Guararapes, Riachuelo e Randon.

“O momento é difícil. Tomar decisões nessa hora e sair vendendo e fazendo caixa é uma atitude mais drástica”, diz.

Teste de paciência para o investidor

A expectativa é de que os mercados tenham um bom período de incertezas pela frente, ressalta Salaverry, o que vai demandar dos investidores de Bolsa maior paciência. “Não muda a sensação de recuperação da economia e das empresas; só vai ficar mais demorado para acontecer”, destaca o gestor.

Na visão de José Tovar, CEO da Truxt Investimentos, a queda dos mercados é fruto de uma combinação de fatores, com o mercado acionário americano em patamares de preços elevados, a confirmação da percepção de que o coronavírus não seria contido na Ásia e o fortalecimento do pré-candidato democrata à presidência americana Bernie Sanders.

“Quando o mercado está esticado, qualquer coisa vira certo pânico. E a bola da vez é o vírus”, diz Tovar, ressaltando que o movimento é tido como “normal” e um bom teste para o mercado doméstico. “Agora vamos ver se o investidor brasileiro de Bolsa tem mais horizonte de longo prazo.”

Embora a estratégia de ações tenda a sofrer o impacto da queda da Bolsa hoje, Tovar afirma que o fundo macro da Truxt zerou as posições em ações antes do carnaval e que o long bias vinha diminuindo a posição comprada, que chegou a 90% este ano, para um patamar entre 40% e 50% da carteira. “Estamos um pouco menos animados com o mercado que a média”, assinala.

A parte de hedge ainda pode conter uma parte dos danos, seja via exposição a ouro, com posição vendida no índice americano S&P 500 ou com posição tomada em juros.

Com maior foco no longo prazo, uma parte dos gestores assinala que o momento demanda um monitoramento, sem necessidade de mudanças imediatas.

“O momento é de incerteza em função de um evento passageiro. Já estávamos bem comprados antes e não estamos fazendo nada”, diz Luis Felipe Teixeira do Amaral, fundador e gestor da Equitas, ressaltando enxergar com naturalidade ajustes de 10% a 15% em contextos como o atual.

Também com foco no longo prazo, a Brasil Capital adota postura semelhante. “Para que nosso posicionamento sofra uma alteração absurda, as perspectivas têm que se alterar de forma muito relevante. Dado o grande foco dos nossos investimentos em empresas mais ligadas ao mercado interno, não devemos fazer nenhuma alteração no portfólio”, diz André Ribeiro, sócio gestor da casa.

O fundo de ações da Brasil Capital tem 7% de caixa e, segundo Ribeiro, será feita uma análise caso a caso das ações para que alguma compra faça sentido. Empresas cíclicas globais começam a ficar em patamares de preços “bastante interessantes”, assinala, diante de estímulos a serem adotados pelos governos.

“O cenário só ratifica os juros baixos por um longo período de tempo. Para empresas do mercado interno, é super benigno em temos de crescimento de lucro. No caso das que mais sofrem, como de commodities, precisamos entender como vai ser a reação dos governos para que a atividade volte ao patamar anterior.”

Ribeiro avalia ainda como oportuna a recente divulgação da carta anual do megainvestidor Warren Buffett, reforçando o foco no longo prazo. “O momento demanda cuidado e é possível aproveitar algumas distorções quando elas surgem.”

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Beatriz Cutait

Editora de investimentos do InfoMoney e planejadora financeira com certificação CFP, responsável pela cobertura do universo de investimentos financeiros, com foco em pessoa física.