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A última reunião do ano do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) terminou com mais uma decisão já esperada. A autarquia decidiu manter a Selic em 15% ao ano. O foco do mercado está, agora, em 2026, quando um ciclo de corte de juros é esperado.
A decisão desta quarta-feira (10) tem impacto direto nos investimentos de renda fixa e variável. Nos títulos públicos, o Tesouro Selic segue entre as indicações, enquanto investidores ainda podem capturar bons retornos em ações de empresas posicionadas em setores cíclicos, dependentes de juros mais baixos.
Já nos fundos de investimento, Fiagros, FI-Infras e fundos de ações estão entre os destaques. Entre os FIIs, os fundos de papel, que compram Certificados de Recebíveis Imobiliários, os CRIS, e outros papéis do setor, continuam como as melhores opções.
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Confira as recomendações de especialistas em cada classe de investimento após a manutenção da Selic:
Títulos públicos
Com a estabilidade da Selic, nada muda no rendimento dos ativos pós-fixados, mas o mercado já está focado no início do ciclo de corte de juros. Mesmo com juros menores, a renda fixa seguirá forte e analisar um ativo apenas por sua rentabilidade é um erro, diz Guilherme Almeida, head de renda fixa da Suno Research. Ele explica que é preciso considerar gestão de risco e liquidez.
Nesse contexto, o Tesouro Selic continua sendo a principal alternativa para a construção de reservas de emergência e oportunidade.
Nos ativos que sofrem marcação a mercado, há oportunidades em prefixados com vencimento em dois a três anos e em títulos de inflação com vencimento próximo a cinco anos, que contam com taxas reais “muito atrativas”, segundo Bruno Perri, sócio-findador da Forum Investimentos.
Crédito Privado
Os prêmios das debêntures tiveram recuperação neste fim de ano: após um spread de 1,7% além do CDI em outubro, os títulos têm prêmio de 2,4% em dezembro, segundo o Idex-CDI Geral, da JGP. Já os spreads das debêntures de infraestrutura saíram do negativo em novembro.
Diante da recuperação, Josias Bento, sócio da GT Capital, diz que as debêntures incentivadas estão entre os ativos mais indicados no crédito privado: “os spreads ainda são interessantes, pois você trava taxas reais atrativas e tem isenção de Imposto de Renda, aumentando o retorno líquido”.
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Rafael Winalda, especialista em renda fixa do Inter, diz que o banco vem evitando o agronegócio, que “vem passando por muitas dificuldades”. Por isso, a casa “elevou a régua” para recomendar algum papel do setor.
Ações
A Bolsa passa por correção desde o último recorde, de 164.455 pontos, mas especialistas seguem otimistas com as ações nesta reta final de 2025: “entendo ser uma oportunidade de reforçar posição; temos um cenário construtivo para o Ibovespa em 2026, suportado pela queda da Selic e pelo valuation ainda atrativo da Bolsa”, afirma Max Bohm, estrategista de ações da Nomos.
Até a próxima reunião do Copom, em janeiro, fatores como eleições, anúncios de dividendos extraordinários antes da reforma do Imposto de Renda e fluxo internacional devem influenciar o mercado acionário brasileiro, segundo Daniel Zyskowski, sócio e private banker na InvestSmart XP. Ações ligadas ao varejo, construção civil e tecnologia ainda não acompanharam a alta do Ibovespa e podem representar oportunidades aos investidores que têm espaço para para rebalanceamentos, segundo o especialista.
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Por outro lado, os investidores devem evitar empresas muito alavancadas, dependentes de rolagem de dívidas de curto prazo ou que precisam de expansão imediata de crédito, segundo Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos: “juros elevados comprimem margens”. Ele ainda recomenda cautela com papéis que subiram sem gatilhos operacionais claros.
Fundos de investimento
No contexto da Renda Fixa, Lais Costa, analista da Empiricus Research, afirma que a manutenção da Selic em 15% e uma eventual queda da taxa em janeiro ou março não trará mudanças drásticas para o investidor. Ela cita que os Fundos DI (pós-fixados), frequentemente usados para reserva de emergência, terão sua rentabilidade mensal gradualmente reduzida com o corte de juros, mas isso não deve ser motivo para retirá-los da carteira, pois continuarão oferecendo um rendimento alto, estimado em cerca de 12% ao ano, além de reduzirem a volatilidade do portfólio.
José Daronco, head de RI da Suno Asset, também afirma que a renda fixa permanece “extremamente atrativa” devido ao alto nível atual do CDI (atrelado à Selic), o que leva o investidor a preferir manter o patrimônio alocado em fundos de liquidez.
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Já na renda variável (fundos de ações), Costa aponta que eles já estão com rendimentos atrativos neste ano, superando significativamente o Ibovespa, algo que é atribuído à expectativa de queda dos juros futuros. “Nosso levantamento de long-only aponta que 63% dos fundos de varejo batem o Ibovespa no ano – que por sua vez supera os 30% de retorno”, afirma.
Essa classe de ativos deve ganhar ainda mais atratividade com a queda da Selic, pois o lucro das empresas, principalmente as mais alavancadas, tende a crescer devido ao menor pagamento de juros. Isso, por sua vez, deve impulsionar os preços na Bolsa, já que o indicador de valuation Preço/Lucro está em patamares baixos.
Outro destaque apontado por Daronco são os Fiagros (Fundos de Investimento nas Cadeias Produtivas Agroindustriais) e Fi-Infras (Fundos de Investimento em Infraestrutura), que tiveram valorização expressiva neste ano e devem continuar atraindo os investidores, devido à isenção do Imposto de Renda, que faz com que a rentabilidade fique ainda mais atrativa.
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Investimentos internacionais
O corte dos juros nos Estados Unidos pelo Comitê de Mercado Aberto do Federal Reserve, o banco central americano, e a manutenção pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central aumentam o diferencial de taxas para o Brasil e reforçam o cenário de atratividade para a renda fixa brasileira. Ao mesmo tempo, juro mais baixo lá fora amplia o apetite por risco e por ativos de países emergentes, avaliam analistas.
O mercado já havia precificado a manutenção do juro em 15% no Brasil e o corte de 0,25 ponto porcentual nos EUA, explica Nicholas McCarthy, diretor global de estratégia de investimentos do Itaú Unibanco. “Mas, na hora que acontece, isso gera uma perspectiva mais positiva para frente, aconteceu, beleza, o custo para investidores internacionais fica mais barato em dólar e tudo isso é positivo para as vária classes de ativos de forma geral”, afirma. “Mesmo que já tenha sido precificado, sempre é notícia positiva”. A expectativa agora é com pelo menos mais um corte de juros nos Estados Unidos no ano que vem, coincidindo com uma redução da Selic em março, espera McCarthy.
O corte dos juros nos Estados Unidos sem dúvida é positivo para a renda variável global, afirma Ronaldo Patah, estrategista-chefe do UBS Wealth Managemente. Desde o fim de setembro, o UBS aumentou o risco no Brasil, contando com a queda dos juros nos Estados Unidos agora e no Brasil a partir do ano que vem. “Com o corte de juros nos EUA e no Brasil, há perspectiva de valorização dos ativos de risco, e não só renda variável, mas também no real, já que temos um dos maiores juros reais do mundo”, afirma Patah. Segundo ele, até março de 2026 o mercado vai responder mais a juro e a movimentos globais do que à política. “Teremos um lado do fundamento bom aqui, com o corte dos juros no ano que vem, junto com o maior apetite do investidor global que costuma comprar bolsas de emergentes”, diz.
Fundos Imobiliários
A decisão do Copom de manter os juros terá efeito marginal sobre os fundos imobiliários, até porque a manutenção já era amplamente esperada, diz Marcos Baroni, head de fundos imobiliários da Suno Research. “O Copom já estava dado, e a boa notícia é que muitos fundos conseguiram ter retornos acima do CDI este ano”, diz.
Considerando o Índice de Fundos Imobiliários negociados em bolsa, o Ifix, o retorno total das carteiras, incluindo valorização das cotas e rendimentos, está em quase 18% ao ano, calcula. “E uma carteira bem montada pode chegar a 20% ao ano, isentos, bem acima do CDI”, afirma Baroni.
Com a manutenção dos juros em 15% ao ano e enquanto continuar esse nível de juro extremamente alto, os fundos imobiliários de papel, que compram Certificados de Recebíveis Imobiliários, os CRIS, e outros papéis do setor, continuam como as melhores opções, afirma Ricardo França, especialista em investimentos da Ágora Corretora. Esses títulos costumam ser corrigidos pelo juro do CDI e a expectativa é que, mesmo com as reduções de juros no ano que vem, a taxa Selic, que baliza o CDI, fique em média em torno de 13% ao ano, um juro bastante elevado diante de uma inflação em queda, e ainda sem imposto de renda. Assim, o investidor poderia fazer a diversificação para outros tipos de fundos, como os de tijolos, com mais calma.