Como ficam os BDRs de Chevron, Exxon Mobil e outras petroleiras estrangeiras com o embargo dos EUA ao petróleo russo?

Analistas enxergam cenário de aumento da geração de caixa das empresas e de alta para os papéis, mas há riscos a serem considerados

Katherine Rivas

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Os preços do petróleo internacional experimentam forte oscilação nos últimos dias, puxados por forças opostas. De um lado, a proibição dos Estados Unidos às importações de petróleo e outras fontes de energia da Rússia, na terça-feira (8), fizeram os preços da commodity disparar, atingindo um pico naquele dia, quando o barril do tipo Brent foi negociado a US$ 133,15 e o tipo WTI, a US$ 129,44.

Na contramão, sinais de uma possível solução diplomática para a guerra entre Ucrânia e Rússia e a chance de os integrantes da OPEP+ (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) aumentarem a produção para conter os preços fez com que a commodity desabe no dia seguinte, quarta-feira (9), com perdas de mais de 12%.

Em meio a esse vaivém, o mercado começou a contemplar um cenário de curto prazo em que os principais produtores precisariam aumentar a oferta de petróleo para preencher a lacuna deixada pela Rússia. “O momento é delicado e, de certa forma, especulativo”, define Rafael Nobre, analista internacional da XP.

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Nos mercados, os reflexos dessa interpretação apareceram nas cotações das empresas estrangeiras de petróleo. Enquanto as ações da Petrobras caíram no dia em que os Estados Unidos anunciaram o embargo às importações russas, os BDRs da Chevron (CHVX34) – petroleira americana – chegaram a saltar 4,63%, segundo dados da Economatica. No pregão de ontem, devolveu parte dos ganhos, recuando 3,56%. Mas só no mês de março, a companhia já valorizou 15,29%. Em 2022, acumula ganhos de 28,30%.

BDRs são recibos de ações estrangeiras negociados no pregão da B3.

Diante dos movimentos, investidores se perguntam se os BDRs das petroleiras estrangeiras disponíveis na Bolsa são alternativas para o momento. Para os analistas ouvidos pelo InfoMoney, embora a perspectiva de que as empresas aumentem a produção seja positiva, há muito a considerar para escolher BDRs do segmento para investir.

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Vinicius Steniski, analista do TC Matrix, aponta que companhias de extração de petróleo são as que mais se beneficiam, porque mantêm os mesmos custos, enquanto o preço da venda do produto aumenta, gerando assim mais caixa. Já para as que apenas refinam ou distribuem, o preço de compra do petróleo bruto é maior, e os ganhos dependerão da capacidade de repassá-lo aos clientes. Confira as perspectivas para as principais petroleiras estrangeiras com BDRs negociados na B3:

Chevron (CHVX34) e Exxon Mobil (EXXO34)

Nobre, da XP, explica que as ações de petroleiras americanas já apresentavam forte valorização acompanhando a alta nos preços da commodity. Em março, o petróleo tipo Brent acumulava até esta manhã alta de 15,73%, enquanto o WTI avançava 18,46%. Contudo, por conta da volatilidade, na tarde desta quinta-feira (10), os contratos devolveram ganhos. O Brent subia 8,24% em março e o WTI acumulava alta de 10,80% no mês.

O movimento das cotações das empresas é esperado, segundo Nobre, dado que com a alta do preço do petróleo – caso se mantenha – as petroleiras conseguem atingir uma rentabilidade maior e gerar mais caixa.

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Ele destaca que a Rússia representa cerca de 10% da oferta global de petróleo. Em consequência, os embargos recentes criam um gargalo na disponibilidade do produto para vários países. “Isso reforça o cenário de escassez energética global que vínhamos acompanhando antes do conflito”, diz.

Nobre destaca Chevron e Exxon Mobil como as empresas que mais se beneficiam da alta, por serem as maiores produtoras de petróleo dos Estados Unidos, com forte geração de caixa. “Na pandemia estas empresas passaram por forte reestruturação, reduzindo custos, diminuindo endividamento. Logo, se encontram em melhor posição financeira no cenário atual”, destaca.

Em um cenário de alta prolongada nos preços da commodity, a Chevron nada de braçada, avalia Nobre. Porém, há questões que devem ser ponderadas. Ele destaca que no curto prazo, os preços do petróleo podem continuar subindo. Contudo, no médio prazo, com a resolução conflito e a retirada dos embargos, a commodity retornaria para níveis mais baixos.

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“Nosso time de petróleo e gás da XP projeta que o preço do petróleo deverá fechar 2022 em US$ 112/barril, o que implicaria em uma queda do patamar atual”, afirma Nobre.

Há ainda o movimento global em direção a fontes de energia renovável, que acaba sendo acelerado com o preço do petróleo nas alturas.

Embora existam os benefícios de curto prazo para a Chevron, Rodrigo Crespi, analista da Guide, acredita que “o bonde já andou” e que a empresa está esticada. Desta forma, ele afirma que quem comprar Chevron teria mais chance de perdas do que de valorização, principalmente se a OPEP+ continuar pressionada para aumentar a produção. “Quem pretende entrar agora no papel está atrasado”, cita.

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Marathon Petroleum (M1PC34)

Steniski, do TC Matrix, enxerga um cenário de alta do petróleo por mais um ano. O analista aponta que mesmo que as negociações para o fim do conflito entre Rússia e Ucrânia avancem, como se deseja, a tendência é de que o preço do produto permaneça próximo dos US$ 90.

Neste cenário, Steniski destaca que as empresas que mais se beneficiam são as que atuam na extração – além de Exxon Mobil (EXXO34) e Chevron (CHVX34), também ConocoPhillips (COPH34), Marathon (M1PC34) e Hess (H1ES34). Já as ligadas a refino e distribuição, como Phillips 66 (P1SX34) e Valero Energy (VLOE34), capturam valor em menor proporção.

“Apesar das diferenças, o cenário é positivo para o setor, enquanto os preços do petróleo permanecerem em patamares mais elevados”, destaca Steniski.

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Para o investidor que busca dividendos, ele aponta como melhores opções Exxon e Chevron. Segundo ele, as companhias apresentam um payout (parcela do lucro líquido destinada para o pagamento de proventos aos acionistas) de 65% em média. Segundo dados da Economatica, nos últimos 12 meses o retorno em dividendos (dividend yield) de Exxon Mobil e Chevron foi de 3,63% e 3,06%, respectivamente.

“Com o petróleo em alta, a geração de caixa destas empresas pode aumentar e distribuírem um bom valor ao acionista”, destaca. Já para o investidor que busca valorização dos papéis, Steniski recomenda a Marathon Petroleum, por estar descontada em relação aos pares.

ConocoPhillips (COPH34)

Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos, destaca alguns efeitos negativos em petroleiras estrangeiras com o embargo dos EUA.

Companhias integradas – que trabalham na exploração, produção, refino e distribuição, como a Chevron – poderiam ter um impacto negativo. O analista cita que embora a Chevron não tenha investimentos na Rússia, a petroleira tem 15% de participação no consórcio de um oleoduto do mar Cáspio ao mar Negro. “O oleoduto também passa pela Rússia e o país detém a maior parte do projeto”, aponta Crespi.

Além disso, o analista cita o risco de nacionalização de ativos de empresas estrangeiras na Rússia. Petroleiras como Shell (RDSA34) e Exxon Mobil estariam mais suscetíveis a perder seus ativos.

Apesar disso, no entanto, Crespi avalia que o cenário de curto prazo pode ser de valorização para as petroleiras estrangeiras de modo geral, dado o possível aumento na geração de caixa.

Para Crespi, há oportunidade nas ações da ConocoPhillips, uma petroleira semelhante à PetroRio (PRIO3) e com a melhor relação de risco e retorno do setor.

Segundo ele, a ConocoPhillips reinveste boa parte do seu caixa e tem forte potencial de valorização, podendo romper a barreira dos US$ 100. A ação negocia nos Estados Unidos perto dos US$ 96, enquanto o seu BDR no Brasil está na casa dos R$ 120.

Fora da terra do Tio Sam

Embora os embargos sejam mais fortes nos Estados Unidos, não são apenas as petroleiras americanas que podem avançar diante da situação.

Os analistas consultados pela reportagem destacam que a alta demanda e preços elevados do petróleo no curto prazo devem acabar favorecendo petroleiras de outros países, como a BP PLC (B1PP34), uma das maiores do mundo, sediada no Reino Unido. No dia em que foram anunciados os embargos pelos Estados Unidos, seu BDR valorizou 4,38%, conforme dados da Economatica.

Nobre cita também outros BDRs de grandes petroleiras, como Petrochina (PTCH34), China Petroleum (C1HI34) e Shell (RDSA34). No entanto, alerta que estas companhias não integram a carteira de BDRs da XP, portanto o investidor deve considerar os riscos no cenário atual e no longo prazo.

Os riscos que devem ser considerados

Para o investidor que estiver decidido a se posicionar em petroleiras estrangeiras, existem alguns pontos de atenção que devem ser considerados, principalmente para quem compra o BDR na Bolsa.

Os analistas consultados pelo InfoMoney destacam a valorização do real frente ao dólar, que pode ter impacto no retorno do BDR – que, embora sejam recibos de ações cotadas em dólar ou outras moedas, são negociados na B3 já convertidos para reais.

Além disso, é importante lembrar que o petróleo é uma commodity e a valorização está sujeita a ciclos. Em momentos econômicos turbulentos, a volatilidade pode ser elevada, destaca Steniski.

Há ainda os riscos relacionados ao período que o investidor pretende carregar o ativo em carteira, avalia Rafael Nobre, da XP. No curto prazo, um eventual aumento da produção pelos membros da OPEP+ poderia fazer o petróleo recuar. A remoção das sanções poderia ter o mesmo efeito, ainda que muitas empresas optem por não negociar com a Rússia por um bom tempo após o fim do conflito, segundo Nobre.

No médio prazo, caso os preços do petróleo continuem subindo, pode ocorrer um ajuste na demanda dos consumidores. Isso, contudo, demandaria uma mudança de hábitos e viabilização de novas alternativas de energia. Já no longo prazo, a transição energética, com maior penetração das fontes renováveis de energia, também reduziria a procura pelo petróleo.

Por se tratar de recibos de ações estrangeiras, o investidor também precisa ter em mente a paridade do BDR com a ação listada no exterior. Segundo dados da B3, a paridade da ação da ConocoPhillips (COP) com o seu BDR é de um para quatro – ou seja, quatro BDRs equivalem a uma ação original.

Já no caso da Chevron, a paridade da ação com o BDR é de um para dez, enquanto na Exxon Mobil quatro BDRs equivalem a uma ação. O investidor pode ter acesso a essas informações na seção de BDRs não patrocinados no site da B3.

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Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.