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Um dos grandes desafios para quem quer investir é conseguir montar uma estratégia e segui-la com disciplina, a fim de evitar que comportamentos e hábitos, muitas vezes inconscientes, atrapalhem as aplicações. E há formas de fazer isso, conhecendo os chamados vieses comportamentais, e com a ajuda de algumas ferramentas disponíveis no mercado.
Um dos primeiros mecanismos criados no mercado para evitar os viéses foi a autorização para os fundos de previdência de empresas inscreverem automaticamente os funcionários em vez de esperar que eles aderissem aos planos. Isso evitou o viés de inércia, que levava muitos a perderem as vantagens oferecidas pelas empresas apenas por deixarem para depois assinar a adesão. E há outros agora, como os sistemas de aplicação automática e os perfis de investidor, que alertam quando há excesso de risco em uma aplicação.
A melhor forma de evitar os chamados vieses comportamentais é ter clareza nos objetivos pessoais, por que se está investindo, explica Paula Bazzo, planejadora financeira CFP da Planejar, associação que reúne os profissionais da área. “Uma parte das economias pode até ser separada para especular, para arriscar mais, mas de forma controlada, o que mantém o viés do excesso de confiança limitado dentro da carteira”, diz Paula. “Afinal, somos humanos, mas podemos limitar o potencial de perdas”.
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Investimentos obrigatórios
Além da clareza de objetivos, é preciso um planejamento que inclua os investimentos obrigatórios, como a parte para garantir a dignidade de vida na aposentadoria, e que tem de ter aplicações bem definidas, de longo prazo, para evitar o viés de presente, de querer usar logo o dinheiro. “Mas o importante é definir uma estratégia de longo prazo, de acordo com as necessidades da pessoa, se tem filhos ou não, se é casada, e isso tem de ser feito de maneira individual”.
Ajuda também conversar com profissionais que vão ajudar a montar uma estratégia de investimento, como um planejador financeiro CFP, para definir a estratégia que se ajusta melhor a sua vida, suas necessidades especiais e projetos. “O investidor precisa de alguém com distanciamento emocional, um assessoramento técnico de alguém especializado e de fora, e que ajude a pensar de maneira mais racional.”
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Depois é preciso dedicar um tempo para a educação financeira, para o investidor ter consciência de onde está colocando o dinheiro, entender os investimentos, seus riscos e se está agindo de forma racional. Isso ajuda nos momentos de pânico, pois o medo de perder dinheiro e o desconhecimento acabam levando a decisões impensadas, como vender tudo no pior momento dos mercados ou comprar na euforia da alta.
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De olho no filme
Paula sugere também, periodicamente, revisitar esses investimentos de acordo com o momento de vida do investidor. Isso evita também que as pessoas fiquem imobilizadas, evitando agir mesmo diante de mudanças no mercado. “A vida é um filme, não é fotografia, e temos de revisar nossos objetivos periodicamente”, explica.
A especialista sugere a estratégia de automação pois o investidor não precisa pensar, já deixa programado o débito na conta. “Uma amiga tinha um marido gastador e fizemos isso, criamos um boleto para a previdência privada dele que vencia no dia seguinte ao recebimento do salário e ele nem percebe que está investindo e está se protegendo de si mesmo”, diz.
Caçador de vieses
“Há 10 anos busco formas de como evitar esses vieses”, diz Martin Iglesias, responsável pela área de aconselhamento do Banco Itaú. No caso do viés de presente, que leva as pessoas a não guardarem dinheiro e preferirem o consumo imediato, a solução criada pelo banco é uma regra conhecida como 1-3-6-9, para orientar o investimento para a aposentadoria e tirar o senso de urgência das pessoas.
Nesse modelo, a sugestão é que uma pessoa chegue aos 35 com o equivalente a um ano de salário guardado. Aos 45 seriam três anos, aos 55 anos, seis anos de renda e aos 65, nove anos, ou 108 salários. “Com um complemento do INSS e uma rentabilidade real desse investimento, a pessoa consegue viver praticamente até os cem anos”, diz.
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PARIS para o investidor
Outro conceito é a chamada regra de PARIS, um acrônimo com as iniciais dos cinco temas básicos para o investidor: Projetar, Avaliar, Reduzir, Identificar e Selecionar.
Projetar é para combater a miopia, traçando horizontes longos de investimento e mantendo a paciência. “Warren Buffett diz que o mercado de risco é uma enorme transferência de riqueza dos apressados para os pacientes”, lembra Iglesias.
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Avaliar é tomar muito cuidado com o retorno passado para evitar o efeito retrovisor. “Tudo que é sobre investimentos deveria ser sobre o futuro, não sobre o passado, quanto vai render daqui para frente”, diz ele.
Reduzir significa reduzir o risco por meio da diversificação, tentando combater o viés de familiaridade e “home bias”, ou viés local dos investidores. Uma carteira diversificada aqui e no exterior ajuda a combinar ativos rentáveis com níveis de risco mais compatíveis com o perfil.
Identificar é o investidor conhecer seu perfil, seus objetivos, e se conhecer para entender o nível de risco, de liquidez, que precisa ou pode ter.
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Já Selecionar é alinhar os riscos dos objetivos com o tipo de investimento. Se o investidor tem planos de morar no exterior ou tem filho fora, ele precisa ter grande parte de ativos em moeda estrangeira e vai ter de suportar a volatilidade cambial. O mesmo acontece com títulos indexados à inflação de longo prazo para a aposentadoria, que oscilam muito, mas garantem o poder de compra do investidor.
Olhar sobre o todo
Para combater a contabilidade mental, que vê os investimentos separadamente e não em seu conjunto, e que é contrária à diversificação, a saída encontrada pelo banco foi apresentar ao investidor nos aplicativos primeiro a rentabilidade total da carteira, e não de cada ativo. Depois ele vai para as categorias e, finalmente, para cada produto. “Aí já amorteceu o susto de um ativo que é 1% da carteira e caiu 10%, pois já viu que outros compensaram”, diz Iglesias. Os dados também são apresentados em vários prazos, incluindo os mais longos, para reduzir o impacto de fortes flutuações de curto prazo.
Todos os analistas concordam, porém, que é difícil dominar os vieses e as emoções, especialmente nos momentos de turbulência. Mas lembrar deles e usar ferramentas que os limitem sempre ajuda a reduzir os riscos de uma decisão errada.
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