Diversificação, caixa, risco calculado: quais as lições (e posições) dos fundos com casos Light e Americanas?

Gestoras como Capitânia e Augme sofreram com saques no início do ano e promoveram mudanças significativas nas carteiras; veja quais

Leonardo Guimarães

Loja da Americanas (AMER3) no shopping Market Place, na zona sul de São Paulo (Lucas Sampaio/InfoMoney)

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O mercado de capitais brasileiro foi profundamente afetado por crises na Americanas e na Light no início do ano. Com as companhias apresentando problemas graves, os investidores tiraram dinheiro de fundos de investimentos, a percepção de risco em papéis de outras empresas cresceu muito – e gestores aprenderam importantes lições com o episódio.

Não foi a primeira crise que Flávia Krauspenhar, sócia da Capitânia, viveu  no mercado – nem a pior. Na gestora, a recessão econômica entre 2015 e 2016 ajudou na melhoria de processos: “Para nós, aquela foi a verdadeira crise”, disse Flávia, em painel durante a Expert XP 2023, na última semana. “Melhoramos a governança e colocamos várias pessoas monitorando os ativos o dia inteiro”.

As mudanças que a “verdadeira crise” causou permitiram que a Capitânia se adaptasse rapidamente ao cenário adverso em 2023. “Nos antecipamos para fazer caixa e aproveitar a abertura de spreads. De crise em crise, vamos aprendendo”, diz a sócia da empresa.

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Já a Augme Capital tinha posição maior do que o usual em Americanas e, por isso, o primeiro impacto foi forte. Depois, porém, o cenário amainou e os fundos conseguiram aproveitar as oportunidades que a crise gerou. “Enchemos a mão de bonds [títulos de dívida americanos] com os spreads de empresas brasileiras altos nos Estados Unidos, e acumulamos boa rentabilidade de março até agora”, diz Marcelo Urbano, diretor de investimentos da gestora.

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Os fundos das duas gestoras provavelmente entrariam em apuros maiores se a diversificação fosse baixa, o que ensina, na prática, uma lição valiosa para quem quer investir em crédito privado. “Cada um dos nossos fundos tem de 180 a 220 ativos, que não representam, sozinhos, mais do que 0,5% do portfólio total”, afirma Flávia.

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Para Urbano, um dos maiores erros dos investidores é acreditar em dinheiro fácil e ativos milagrosos: “É preciso tomar cuidado para não se iludir. Diversifique muito o seu portfólio ou procure um bom gestor de fundos”, recomenda.

Após a crise no início do ano, a Capitânia viu oportunidades para girar a carteira e lucrar com ativos mais defensivos. Se antes dos casos Americanas e Light ativos com nota de crédito AAA tinham remuneração baixa, próxima dos títulos públicos, o spread teve grande abertura, mesmo nas companhias consideradas mais confiáveis.

“Começamos o ano preocupados com o spread de crédito privado, que estava muito baixo. Mas, depois do caso Americanas, pegamos taxas que nunca vimos no mercado e transformamos o portfólio em uma carteira mais defensiva”, conta Krauspenhar.

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Agora, com os spreads fechando novamente, a Capitânia volta a olhar para os ativos mais arriscados, que, hoje, podem trazer retorno maior para os fundos da casa.

O risco, contudo, é calculado. Tomar crédito está caro para as empresas atualmente e companhias com dívidas altas no mercado de capitais acendem sinal de alerta nos gestores “Me preocupam empresas com muita profundidade no mercado de capitais, a Americanas tinha R$ 8 bilhões em dívida bancária e R$ 20 bilhões em dívida líquida no mercado de capitais. Era muita coisa”, lembra Urbano.

Mesmo com preocupações, o diretor da Augme acha “extremamente improvável” que alguma empresa de grande porte tenha problemas para pagar dívidas no médio prazo.

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