Como a brasileira “mais turca” da bolsa pode ganhar com a crise da Turquia

Parte considerável dos resultados da fabricante de componentes estruturais vem da Turquia – e isso significa risco e oportunidade em momento de crise da Lira

Paula Zogbi

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SÃO PAULO – Mercados emergentes já sentem os efeitos da queda de mais de 40% da Lira Turca frente ao dólar, efeito, entre outros fatores, da situação de tensão entre os presidentes Tayyp Erdogan e Donald Trump. Altamente exposta a Turquia, a brasileira Iochpe Maxion (MYPK3) deverá vislumbrar mais abalos por esta crise do que qualquer outra companhia listada na bolsa nacional – para o bem e para o mal.

Aproximadamente 30% da receita bruta do grupo nos últimos três anos veio diretamente da Turquia. A empresa possui uma fábrica no país, em Manisa, desde 2012 – e as operações locais são altamente rentáveis. Segundo relatório do Itaú BBA, os balanços entre 2014 e 2017 teriam sido negativos para a empresa se as operações turcas fossem excluídas.

À primeira vista, uma pessoa menos atenta poderia intuir que a queda da Lira seria altamente danosa para os negócios da fabricante de rodas e componentes estruturais. Mas as analistas Renata Faber, Thaís Cascello e Julia Hupperich, do BBA, mostram que a realidade não é exatamente esta – principalmente no curto prazo.

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Elas explicam que, de início, a desvalorização da Lira beneficia a empresa, já que 85% da receita da Iochpe no país advém de exportações (80% delas em euros e 20% em dólares). Ao mesmo tempo, 45% dos custos são denominados na moeda desvalorizada, enquanto 55% são pagos em dólares. Em outras palavras, com parte relevante dos custos em Liras e vendas em outras moedas, mais fortes, ficará mais barato para os estrangeiros comprar os produtos – o que é favorável para a empresa.

Mas esse é o curto prazo. A desvalorização da moeda eventualmente traz efeitos à inflação local – o que pode minar as margens da empresa ao longo dos anos. Alguns números recentes comprovam esta tendência. A margem bruta do grupo na Turquia ficou em 26,7% em 2015 e 26,8% em 2016, mantendo-se em 26,9% em 2017 – muito embora a moeda local tenha desvalorizado 4%; 11% e 23% ano a ano nestes 3 períodos, respectivamente. “Podemos inferir que a desvalorização da Lira pode ter inicialmente prestado um papel-chave no crescimento marginal, mas a inflação eventualmente irá bater: as margens não expandem apenas de acordo com o câmbio”, escrevem as analistas.

No relatório, a conclusão é positiva para o curto prazo, mas a desvalorização intensa dos últimos dias “também indica que o país enfrenta problemas macroeconômicos e políticos que devem ser monitorados”.

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Por ora, as analistas acreditam que o principal risco para o grupo é um cenário de controle de capital, “que parece improvável neste momento”.  Caso a Iochpe continue o fluxo de pagamento de dividendos, “o ambiente macroeconômico atual é inofensivo – e pode ser uma oportunidade para as margens no curto prazo”, escrevem. “Por outro lado, no improvável cenário em que a Turquia restrinja o fluxo, o dinheiro da Iochpe estaria preso no país e exposto à flutuação da moeda. Neste cenário, não poderia usar os dividendos da Turquia para investir em outras regiões”, concluem.

O Itaú BBA estima um upside de 22,8% para as ações da empresa em 2018, com preço-alvo de R$ 28. A ação da Iochpe via queda de 2,27% nesta terça-feira (14), ante valorização de 0,74% para o Ibovespa. No ano, a ação acumula queda de 2,23% ante +2,21% do benchmark.

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Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney