Com retornos de até 101% em 12 meses, gestores de fundos de dividendos aumentam as apostas em commodities 

Gestores que se destacaram na categoria no último ano revelam onde estão investindo; setor financeiro está nas preferências

Lucas Bombana

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SÃO PAULO – Passado um primeiro momento em que as empresas de tecnologia foram as principais beneficiadas pelas mudanças provocadas em um ambiente de isolamento social por conta da pandemia, os olhos (e o dinheiro) dos investidores globais se voltaram para ações de exportadoras de commodities.

A liquidez abundante para reaquecer a atividade econômica beneficiou ativos de caráter mais cíclico, em um contexto também embalado pela retomada mais acelerada da atividade chinesa, a principal impulsionadora dos preços.

Não por acaso, os fundos de ações que buscam ações boas pagadoras de dividendos que mais se destacaram nos últimos 12 meses encerrados em março foram aqueles que voltaram suas atenções para as oportunidades no setor de commodities.

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Ações de empresas como Vale, Gerdau e Klabin, bem como Ferbasa e São Martinho, estiveram entre as principais contribuições para os desempenhos dos fundos de dividendos de maior rentabilidade no intervalo.

O Idiv, índice da B3 que tem como proposta ser o referencial do desempenho médio das ações que se destacam em termos de remuneração dos investidores sob a forma de dividendos, teve valorização de 39,3% no intervalo, enquanto os fundos da categoria com o foco mais voltado neste momento às commodities tiveram ganhos bem superiores, que chegaram à casa dos 100%.

No benchmark da Bolsa, os setores de “utilities” e bancos estão à frente, com cerca de 30% de participação cada. Isso porque essas são companhias que costumam ser historicamente forte geradoras de caixa, característica que, somada à baixa necessidade de novos investimentos, as torna potenciais pagadoras de proventos polpudos.

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O cenário macroeconômico traçado pelo mercado para 2021, contudo, faz com que as exportadoras de commodities da Bolsa brasileira, que respondem por cerca de 18% do Idiv – o dobro de um ano atrás –, despontem como uma das principais apostas de gestores que têm como proposta encontrar as empresas que pagam, ou devem pagar, os maiores dividendos aos investidores.

Já o setor elétrico, figura usualmente importante nesse tipo de carteira, tende a sofrer em um cenário de aperto monetário pela redução no lucro projetado de longo prazo. Por isso, embora siga presente nos portfólios, o segmento perdeu espaço nas carteiras de fundos de dividendos de casas como Western e Vinci.

Confira a seguir aos fundos de dividendos brasileiros que tiveram a maior valorização nos 12 meses encerrados em março. Para o levantamento, que teve como base dados extraídos da Economatica, foram considerados fundos com histórico mínimo de um ano e não exclusivos, que representam um patrimônio de aproximadamente R$ 9,3 bilhões no mercado local.

Fora do radar

O principal destaque do levantamento ficou por conta do Trigono Delphos Income, que se vale de uma combinação de ações small caps, de menor capitalização na Bolsa, com as melhores perspectivas de pagamento de dividendos.

Segundo Werner Roger, CIO da Trigono, parte importante do resultado recente se deve ao fato de que a maior parte da carteira do fundo está em empresas que se beneficiam de um ambiente de alta das commodities e da valorização do dólar.

A Ferbasa e a Tupy, dos setores de mineração e metalurgia, bem como a agrícola São Martinho, a química Unipar Carbocloro e a Tronox Pigmentos, estão entre os maiores destaques do portfólio.

Por não receberem a mesma atenção que os papéis das maiores empresas da Bolsa, ações de menor capitalização como as que estão no foco do fundo negociam de modo geral com distorções, que geram oportunidades de ganhos acima da média, diz Roger.

“As empresas represaram a distribuição de dividendos nos últimos meses por uma questão de gestão financeira, mas acreditamos que neste ano elas devem abrir mais o caixa”, afirma o CIO da Trigono.

Rotação do portfólio

O ciclo de alta dos juros tem impacto especialmente negativo sobre as ações que tradicionalmente pagam bons dividendos, como das elétricas, à medida que o efeito de um CDI mais alto ao longo do tempo sobre o custo de financiamento dessas empresas se traduz em um menor nível de lucro projetado na perpetuidade, explica Guto Leite, gestor da Western Asset.

Por conta disso, a gestora adotou como estratégia de caráter mais tático reduzir nas últimas semanas a posição em empresas do setor de energia, para focar em ações em um momento mais favorável, como as de commodities.

Consenso entre as preferências dos analistas de mercado, a Vale também é a maior convicção no fundo de dividendos da Western, em um grupo que conta ainda com Gerdau e Klabin.

Mesmo que o preço do minério de ferro tenha alguma correção frente aos níveis atuais, a geração de caixa esperada para a mineradora deve ser forte a ponto de compensar um eventual ajuste, afirma Leite, acrescentando ainda que as produtoras de commodities servem como proteção contra um cenário global de alta da inflação, em meio à retomada acelerada das grandes economias.

Na Vinci Partners, o gestor de renda variável, Olavo Tortelli, também tem hoje na mineradora a maior posição do fundo de dividendos da casa. Frente às perspectivas de geração de caixa da companhia diante de sua robustez financeira e operacional, bem como pela alta do dólar, as ações da Vale seguem ainda bastante atraentes, diz Tortelli.

“A situação doméstica piorou e, diante da geração de caixa projetada, a Vale parece uma opção melhor do que muitas das alternativas mais voltadas à economia local”, afirma o gestor, que aponta também a Suzano entre as preferências do momento.

O setor de energia também acabou perdendo espaço no fundo de dividendos da Vinci, até mesmo pela queda recente dos papéis provocada pela expectativa de alta dos juros pelo mercado, explica o gestor.

As ações preferenciais da Cemig, por exemplo, tinham queda de 11,5% em 2021, até o dia 12 de abril, contra as perdas de 0,2% do Ibovespa. Na avaliação do gestor, além do momento macro desfavorável para os papéis e o setor como um todo, a ingerência do governo nas estatais acabou tendo seu reflexo para o desempenho recente.

“Os fundamentos da empresa permanecem muito bons, e acho que o mercado exagerou nessa queda”, afirma Tortelli, acrescentando também carregar posições em Equatorial e Sabesp dentro do setor de utilities.

Bancos em alta

O gestor da Vinci diz ainda ter uma visão positiva para o setor financeiro, refletida em posições em B3, Bradesco e Itaú, e, em menor medida, no BB, pelo maior risco político.

“Os bancos afastaram o temor de terem um problema sério de inadimplência, e conseguiram passar muito bem pela crise”, afirma Tortelli, que vê os preços no setor em níveis atrativos.

Em linha parecida, Leite, da Western, diz que ainda enxerga valor no setor financeiro, com posições no Bradesco e no Itaú, além das seguradoras Porto Seguro e Sul América.

A aposta tem como base a expectativa que os papéis se beneficiem de um crescimento dos resultados financeiros na esteira da alta da taxa Selic, bem como da retomada da atividade econômica, que deve ganhar tração conforme a vacinação também avance de maneira mais célere.

Na ARX, o gestor do fundo Income, Rogério Poppe, também aponta o setor de bancos, bem como os de siderurgia, mineração e petróleo, entre as maiores convicções que carrega hoje no portfólio da estratégia de dividendos da casa.

Como resultado do ambiente macroeconômico positivo para os setores, o movimento de rotação das carteiras dos investidores de ações de crescimento para aquelas de caráter mais cíclico deve seguir contribuindo para sustentar os preços desses ativos, aponta Poppe, acrescentando que esses eram ativos já presentes na carteira, pela própria proposta do fundo.

“A estratégia de dividendos remete a um fundo mais conservador, com apostas menos agressivas, que se mistura um pouco com as características dos fundos de valor”, afirma o gestor da ARX.

Ele afirma ainda que o episódio de troca do comando da Petrobras, embora exija um acompanhamento mais atento dos próximos acontecimentos envolvendo a empresa, não gerou até aqui maiores prejuízos em relação à expectativa dos gestores da ARX quanto ao desempenho dos ativos da empresa, frente a uma retomada global prevista à frente.

Na avaliação do especialista, a dinâmica observada entre as grandes economias globais ao longo do primeiro trimestre indica que, embora a retomada não deva ser uniforme entre os países, não significa que o processo de recuperação não irá ocorrer em todos eles. “Esse cenário reforça a expectativa de que os setores mais cíclicos vão continuar tendo uma boa performance ao longo do ano”, diz Poppe.