Com inflação alta, veja investimentos que podem proteger seu bolso

Com a inflação acima do teto da meta, os investidores precisam ter cuidado para preservar o poder de compra do dinheiro; conheça aplicações que garantem ganho real

Leonardo Pires Uller

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SÃO PAULO – Quem tem mais de 30 anos deve se lembrar das maquininhas que remarcavam os preços nos supermercados na época em que os produtos encareciam diariamente e não existia o código de barras. Era culpa da inflação, que assustava os brasileiros e atingia níveis astronômicos. Em 1993, após uma sucessão de planos econômicos fracassados nos governos Sarney e Collor, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) chegou ao patamar absurdo de 2.477% ao ano. Naquele tempo, assim que o salário caía na conta, começava uma corrida contra o tempo: era preciso comprar tudo o que fosse possível e estocar em casa antes que o dinheiro perdesse valor.

Com o Plano Real, que entrou em vigor no ano seguinte, a alta dos preços foi gradualmente contida. Desde 2005 o IPCA não ultrapassa o teto da meta em um único ano. A política econômica pouco ortodoxa conduzida pela equipe da presidente Dilma, no entanto, tem sido vista pelo mercado como descuido com a inflação. Confira a seguir os melhores investimentos para se proteger da alta dos preços:

Tesouro Direto
A alternativa mais indicada pelos analistas para garantir ganho real no longo prazo são as NTN-B, títulos públicos atrelados à inflação negociados por meio do programa Tesouro Direto. A aplicação paga o IPCA do período mais um prêmio definido na hora da compra – que atualmente está próximo de 6% ao ano. Annalisa Blando dal Zotto, planejadora financeira certificada pelo IBCPF, afirma que essa é uma excelente opção de investimento para o longo prazo, mas pondera que o investidor deve carregar o papel até a data de vencimento para evitar perdas.

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Isso porque o preço de um título com juros reais prefixados oscila diariamente de acordo com a curva de juros futuros. Quem resolve resgatar o dinheiro vendendo o título antes do vencimento pode até amargar perdas. Uma mostra da volatilidade desses títulos é que, em setembro, quando os juros futuros subiram por conta das expectativas de uma reeleição tranquila de Dilma, as NTN-B com vencimento em 2050 registraram uma rentabilidade negativa de quase 15% – algo que muita gente só acredita ocorrer no mercado de ações. Lógico que um papel como também pode subir muito em um mês, mas o investidor não pode contar com isso. “O investidor pode até vender a NTN-B antes do vencimento, mas estará sujeito às volatilidades do mercado financeiro e pode acabar com prejuízo”, alerta a planejadora financeira.

Já quem levar o título até o seu vencimento não corre risco de perder dinheiro. Por isso, recomenda-se que o prazo do título seja sempre adequado ao objetivo da aplicação. Para quem pensa em acumular recursos para a aposentadoria, por exemplo, é um ótimo negócio investir em NTN-B com vencimento daqui a 20 ou 30 anos se o plano é trabalhar por mais esse período. Além da rentabilidade atraente, outra vantagem do Tesouro Direto é seu baixíssimo risco de crédito. Isso porque o emissor é o governo federal, que, no limite, pode até emitir dinheiro para pagar juros caso não tenha caixa para honrar os vencimentos.

LCI e CDB
Mas não são apenas os títulos públicos que garantem ganho real para os investidores. Para quem tem interesse em aumentar os lucros aproveitando vantagens tributárias, algumas instituições financeiras também oferecem aplicações com rendimento atrelados a índices de preços. É o caso do banco Intermedium, que lançou neste ano uma letra de crédito imobiliário (LCI) que paga juros mais IPCA, com três opções de prazos: três, quatro ou cinco anos.

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Enquanto a maior parte das LCI tem a rentabilidade pós-fixada atrelada ao CDI (cerificado de depósito interbancário), este produto paga o IPCA do período mais uma taxa de juros definida na hora da compra. A principal vantagem é que o investidor estará protegido mesmo que a inflação dispare e o Banco Central não faça muito esforço para conter os preços. Em relação aos títulos públicos, o grande atrativo é a isenção de Imposto de Renda para pessoas físicas, o que garante um retorno líquido maior. “Nós sempre procuramos superar a rentabilidade paga pelas NTN-B em nosso produto, assim, sempre adicionamos um percentual além do que está sendo pago pelo título público na LCI IPCA”, afirma Liliane Pereira, superintendente de investimentos do Intermedium.  Atualmente o título com vencimento para 2017 da instituição paga 5,7% ao ano mais o IPCA e ao LCI mais longa, para 2019, paga 6,07% de rentabilidade real.

Já o risco de crédito é maior do que no Tesouro Direto, já que as chances de um banco médio deixar de honrar suas dívidas são bem maiores que as do governo federal. No entanto, esse risco é mitigado pelo FGC (Fundo Garantidor de Créditos), que garante a restituição integral de aplicações até R$ 250 mil em caso de quebra do banco que emitiu o título.

Outro banco médio que aposta em aplicações com ganho real é o Sofisa. A instituição oferece o certificado de depósito bancário (CDB) IPCA, que também rende sempre acima da inflação. Os títulos de prazo mais curto pagam 5,5% de juro real e o título com vencimento de quatro anos paga 5,7% ao ano mais o IPCA. Uma diferença importante do CDB para a LCI é que o primeiro tem os rendimentos taxados com Imposto de Renda. O prazo mínimo de aplicação é de dois anos, e uma das principais vantagens é o baixo valor do investimento mínimo: com apenas R$ 1 já é possível aplicar. Assim como a LCI, existe risco de crédito, mas o CDB também tem garantia do FGC para aplicações de até R$ 250 mil.

Fundos Imobiliários
Os fundos imobiliários também são uma boa opção para quem quer se proteger da inflação, já que os preços dos aluguéis são reajustados por índices de inflação como o IGP-M (Índice Geral de Preços Mercado). No entanto, é preciso olhar caso a caso. O especialista em fundos imobiliários Arthur Vieira de Moraes explica que existem dois tipos de contratos de locação: os típicos e os atípicos. Nos contratos típicos, o valor do aluguel é ajustado anualmente pelo IGP-M mas, no terceiro ano, é realizada uma revisão para decidir se o valor cobrado é justo ou não – o aluguel pode ser reduzido ou aumentado neste momento. Já nos contratos atípicos, mais comuns no caso de galpões industriais, a duração é de dez anos e não há essa revisional intermediária – o ajuste é sempre feito anualmente pelo IGP-M.

Quem compra um fundo imobiliário também deve lembrar que está sujeito à variação de preços das cotas e que o mercado de imóveis comerciais no Brasil passa por um momento de estagnação nos preços e de alta na taxa de vacância (imóveis que ficam sem inquilinos). Por isso, é importante mirar no longo prazo e analisar o histórico de rendimento de um fundo antes de decidir pela compra de cotas.

Outro conselho é avaliar o patrimônio para saber se os imóveis que estão no portfólio são de qualidade. “Os investidores tendem a ser muito superficiais em sua análise. É preciso avaliar o gestor e os empreendimentos que estão na carteira do fundo. Assim como no momento em que você compra uma casa para morar, também é importante conhecer os imóveis de um fundo”, diz Moraes.

Para quem pensa em comprar fundos agora, vale a pena verificar os relatórios das corretoras de valores. Muitas fazem a avaliação e recomendações mensais destes fundos. Em outubro, os fundos de investimento imobiliários mais recomendados por quatro corretoras ouvidas pelo InfoMoney foram o CSHG Brasil Shopping, que investe em oito centros de compras pelo Brasil, e o BTG Pactual Corporate Office, que possui 15 imóveis de escritórios localizados em sua maioria nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. Cada fundo recebeu três recomendações.

* Essa matéria foi publicada na edição 53 da revista InfoMoney, referente ao bimestre novembro/dezembro de 2014. Para tornar-se um assinante da revista clique aqui.