Com escassez no horizonte, água é opção de investimento no mercado financeiro

Recurso natural pode ser negociado por meio de ETFs, mas também é possível se expor à água no exterior por meio de contratos futuros

Felipe Alves

(Pixabay)

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Recurso fundamental para a vida humana, a água pode ser também uma forma de diversificação do portfólio de investimentos. Como ouro, petróleo, soja ou minério de ferro, a água é uma commodity que, nos últimos anos, tem ganhado popularidade no mercado financeiro. No Dia Mundial da Água, comemorado neste 22 de março, aprenda como investir nesta commodity.

Escassa e essencial para diversos negócios (como na agricultura e para a geração de energia, por exemplo), a água pode servir de fonte também para os investidores. Indiscutivelmente a água é o recurso natural mais importante do planeta Terra. Mas o alerta vem para sua escassez: hoje mais de 2,2 bilhões de pessoas já carecem de água potável. Com o crescimento populacional, de acordo com a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), a demanda mundial de água deverá aumentar em 55% até 2050.

Como outros ativos, o preço da água é baseado na oferta e na demanda. Assim, as demandas agrícolas e de eletricidade, por exemplo, podem impactar diretamente os preços da água, bem como uma diminuição na oferta devido a uma seca prolongada.

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Uma das premissas do mercado financeiro é de que quanto mais escasso é um ativo mais ele tende a se valorizar. O que, no caso da água, traz também um dilema moral. Afinal, a água é um recurso vital, finito e, assim, torna-se uma mercadoria valiosa que é usada em grande parte das cadeias produtivas. Dos 3% dos recursos hídricos disponíveis do mundo, apenas 1% está viabilizado para o consumo humano.

Fundador da Scion Management, o investidor norte-americano Michael Burry ficou rico e famoso ao prever o “crash” do subprime nos Estados Unidos e virou tema do filme “A Grande Aposta”, em 2015. Em 2010 ele decidiu mirar seus investimentos em pequenas empresas de tecnologia e de terras agrícolas. Por trás deste último investimento estava a água.

Ele explicou que “alimentação é uma maneira de investir em água”. Ou seja, cultivar alimentos em áreas ricas em água e transportá-los para venda em áreas carentes em água é o método de redistribuição de água menos contencioso, o que pode ser lucrativo e garantir que essa redistribuição seja sustentável.

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No mercado financeiro, para além dos investimentos diretos em companhias de saneamento, a ideia de investir em empresas que trabalham para o uso mais eficiente da água, dentro ou fora do Brasil, tem ganhado cada vez mais adesão na esteira da agenda ESG (sigla para ambiental, social e governança, em inglês). Nos últimos anos surgiram ETFs (Exchange Traded Funds) e empresas relacionadas à água que tentam capitalizar as tendências crescentes de renovação, tratamento, conservação e purificação de água em todo o mundo.

Em relatório do Bank of America de 23 de fevereiro deste ano, Haim Israel, estrategista global e head de investimentos temáticos do BofA, cita que até 2030 os investimentos em infraestrutura de água e saneamento precisarão estar entre US$ 900 bilhões e US$ 1,5 trilhão por ano para combater a escassez de água. “Isso se traduz em maiores investimentos em infraestrutura, irrigação e tratamento de água, tubulações de água. Ao mesmo tempo, isso pode ser um catalisador para tecnologias de última geração que ofereçam melhor eficiência, como medidores inteligentes, dessalinização, agritech e agricultura vertical”, afirma Haim Israel.

Enquanto a demanda por água aumenta rapidamente, a oferta permanece limitada. Isso ocorre pelo crescimento da população, pelas mudanças climáticas e pela poluição dos recursos hídricos. Frente à escassez, surgem as oportunidades. Em relatório de janeiro deste ano, a XP destacou que o mercado de água deve crescer 5% a 6% anualizados nos próximos anos, impulsionado principalmente pela crescente demanda.

Com os desafios estruturais, deve haver um aumento contínuo na busca por soluções inovadoras no uso mais eficiente da água disponível. “Como o ouro e o petróleo, a água é uma commodity que está em escassez, e a sua quantidade limitada cria oportunidades. Investimentos em água podem servir para diversificar a exposição nas carteiras dos setores mais tradicionais, além de ser um play focado em ESG”, destacam Vinicius Araujo (analista internacional), Marcella Ungaretti (head de research ESG) e Giovanna Beneducci (analista research ESG).

Desde 2006, por exemplo, enquanto o S&P 500 acumulou ganhos de +267%, o índice Invesco Water Resources ETF, focado em companhias que criam soluções para o uso da água, teve alta de +291%.

Fonte: XP e Bloomberg

Como investir em água?

No Brasil ou no exterior os ativos expostos à água ganham cada vez mais destaque. Por aqui é possível investir na Bolsa de valores por meio de três fundos de investimentos. Todos são muito novos, surgiram entre 2020 e 2021. São eles: Itaú Index ESG Água (do Itaú), Trend Água Tech (da XP) e Vitreo Água (da Vitreo). O primeiro é somente para investidores qualificados, enquanto os outros dois podem ser comprados por qualquer pessoa.

Juntos, os três fundos possuem pouco mais de 4 mil cotistas e acumulam um patrimônio líquido de R$ 48 milhões, de acordo com dados até 18 de março da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). Ou seja, eles representam uma parcela muito pequena ainda da indústria de fundos de investimentos no Brasil, que até fevereiro tinha um patrimônio líquido de R$ 6,9 trilhões.

3 fundos para investir em água no Brasil

Trend Água Tech

O Trend Água Tech FIM é um fundo internacional com exposição ao Invesco Water Resources ETF (PHO), referenciado ao índice Nasdaq OMX US Water Index, que é composto cerca de 30 empresas relacionadas à conservação, tratamento e purificação da água. Ele foi lançado em julho de 2021 pela XP Asset, com administração da BNY Mellon. Possui aporte inicial de R$ 100 e pode ser investido pelo público em geral. A taxa de administração do fundo é de 0,5% ao ano e não tem taxa de performance. Possui R$ 4,41 milhões de patrimônio líquido e 735 cotistas. A rentabilidade é de -1,96% desde o início do fundo até 18 de março de 2022.

Itaú Index ESG Água

O Itaú Index ESG Água Ações FX IE FICFI é um fundo internacional que busca investir em uma carteira de empresas globais cujo modelo de negócio é relacionado à água, com variação cambial, e exposição a 50 empresas em mais de dez países. Ele foi lançado em dezembro de 2020 pelo Itaú Asset Management, com administração do Itaú. Possui aporte inicial de R$ 1, mas somente para investidores qualificados. A taxa de administração do fundo é de 0,8% e não há taxa de performance. Possui R$ 38,6 milhões de patrimônio líquido e 2.403 cotistas. A rentabilidade é de +14,93% desde o início do fundo até 17 de março de 2022.

Vitreo Água

O Vitreo Água FIA é um fundo de gestão ativa que investe em ETFs de empresas vinculadas a distribuição, saneamento, tratamento e purificação de água. Ele foi lançado em julho de 2021 pela gestora Vitreo, com administração do BTG Pactual. Possui aporte inicial de R$ 100 e pode ser investido pelo público em geral. A taxa de administração do fundo é de 0,9%. E a taxa de performance é de 10% sobre o que exceder a 100% do MSCI All Country World Index, o seu benchmark. Possui R$ 4,98 milhões de patrimônio líquido e 923 cotistas. A rentabilidade é de -5,76% desde o início do fundo até 17 de março de 2022.

ETFs, índices e contratos futuros para investir em água

Fora do Brasil há uma diversidade maior de investimentos que estão relacionados à água. É possível, por exemplo, comprar ações de companhias que produzem equipamentos relacionados à água, como bombas, medidores e filtros, investir em empresas concessionárias de água e empresas ambientais que limpam, purificam ou distribuem água.

Bons lugares para começar a pesquisar as companhias de água do exterior são os índices internacionais. O S&P Global Water Index, por exemplo, proporciona exposição a 50 empresas de todo o mundo que atuam em negócios relacionados com água. Mais da metade (53%) é dos Estados Unidos e 17% é do Reino Unido. Há ainda o Dow Jones U.S. Water Index, que é composto por 29 das principais empresas relacionadas à água nos EUA. Estão inclusas produtoras de bebidas, tratamento e purificação de água, serviços públicos, fabricantes de equipamentos relacionados à água e empresas envolvidas em usinas de dessalinização.

Outra forma de investir em água são os contratos futuros de água da Nasdaq. Desde 2019, a bolsa norte-americana passou a negociar água como uma commodity, assim como o trigo, o milho ou o petróleo. Os direitos de uso da água são negociados por “acre-pie” – unidade de volume usada nos EUA como forma de medir o volume negociado. Este tipo de investimento, indicado para investidores mais experientes e que toleram mais altos graus de risco, são indexados ao índice Água Nasdaq Veles Califórnia (NQH2O).

Já os ETFs internacionais de água podem ser uma maneira mais fácil de começar a investir no setor a partir de um único fundo. Essa classe de ativos oferece benefícios como diversificação, gestão passiva e baixos investimentos para aplicação. Já os ETFs alavancados são mais complexos e carregam riscos mais altos.

5 ETFs internacionais para investir em água

Invesco Water Resources ETF (PHO)

Maior ETF do setor nos EUA, o PHO acompanha o Nasdaq OMX US Water Index, que investe em empresas dos EUA que purificam e conservam água para usuários domésticos, empresas e indústrias. São 38 empresas e US$ 1,8 bilhão de ativos sob gestão.

iShares Global Water UCITS (IH20)

O maior e mais antigo ETF de água da Europa é o iShares Global Water UCITS ETF (IH20). Ele tem US$ 2,3 bilhões em ativos sob gestão (AUM) desde o lançamento, em março de 2007. Acompanha o índice S&P Global Water e oferece exposição a 48 empresas envolvidas em negócios relacionados à água, serviços públicos de água e infra-estrutura e equipamentos e materiais de água. O ETF tem 53,7% de exposição nos EUA, 16,9% no Reino Unido, 7% na Suíça, 5,8% na França e 3,1% na China.

First Trust Water ETF (FIW)

O segundo maior ETF do setor nos EUA acompanha o ISE Clean Edge Water Index, que detém empresas do setor de água potável e águas residuais com capitalização de mercado mundial de pelo menos US$ 100 milhões. São 36 empresas e US$ 1,37 bilhão de ativos sob gestão.

Invesco S&P Global Water Index (CGW)

Um dos maiores ETFs existentes tem como foco replicar o índice S&P Global Water, que oferece exposição a 50 empresas em todo o mundo envolvidas em negócios relacionados à água. O índice foi projetado para fornecer uma representação equilibrada de diferentes segmentos da indústria de água. São 25 empresas de serviços públicos de água e infraestrutura e 25 empresas de equipamentos e materiais de água. O fundo tem US$ 1,2 bilhão sob gestão.

Invesco Global Water Index (PIO)

Ele também acompanha o Nasdaq OMX US Water Index, mas este EFT é ainda mais amplo e investe em empresas relacionadas à água de todo o mundo. São 42 empresas e US$ 300 milhões de ativos sob gestão. 

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