Colunista InfoMoney: Segredos do viajor, o dólar e a boca do jacaré

O câmbio é assunto importante em viagem além fronteiras, pois pode conter armadilhas

Emílio Garofalo Filho

Publicidade

Estamos em tempo de férias e dólar anda tão barato que viajar para o exterior deixou de ser “coisa de gente de rica” para se tornar acessível a milhões de brasileiros. Como mostram as dificuldades que se tem hoje para conseguir um bilhete para qualquer lugar do exterior e os números do Balanço de Pagamentos divulgados pelo BC. Lá se vê que, de janeiro a novembro/2007, os brasileiros gastaram US$ 7.4 bilhões na conta de viagens internacionais, 40% a mais que no ano anterior (os números não incluem as passagens).

Por isso é importante avisar, principalmente aos de marinheiros e aeronautas de “primeira viagem”, que o câmbio é assunto muito importante numa viagem além fronteiras, porque pode conter armadilhas para os menos avisados e encarecer bastante sua viagem. Por exemplo, note que, no primeiro dia útil de 2008, as cotações para o dólar, no Brasil, fecharam em R$ 1,77 no “comercial” e em R$ 1,68 (compra) / R$ 1,88 (venda) no “turismo”. O que quer dizer isso?

“Primeiro dia útil do ano: dólar ‘turismo’ a R$ 1,88 (venda). O que quer dizer isso?”

(1) a taxa de câmbio apelidada “comercial” é uma taxa utilizada para as grandes operações em moeda estrangeira, na maioria, conduzidas por meio de transferências eletrônicas;

Aula Gratuita

Os Princípios da Riqueza

Thiago Godoy, o Papai Financeiro, desvenda os segredos dos maiores investidores do mundo nesta aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

(2) o chamado “câmbio turismo” refere-se às pequenas transações, conduzidas em moeda física (papel moeda), traveler checks e, em alguns casos, cartões e pequenas transferências.

(3) a diferença entre a taxa de compra e a taxa de venda praticada por um agente de câmbio (banco, corretora, agencia de turismo e câmbio, hotel) é o seu spread, isto é, o seu ganho na troca de moeda. Se no “comercial” o spread equivale a algumas frações de centavos, no “turismo” essa diferença é normalmente de 5%, em quase todo o mundo. É um spread tão aberto que é universalmente conhecido como “boca de jacaré”;

(4) essas taxas são definidas pelo mercado, livremente fixadas entre comprador e vendedor. Desde 1990 o BC não determina mais taxas de câmbio e a chamada taxa PTAX, que ele divulga diariamente, reflete apenas a média das contratações ocorridas no mercado no dia útil anterior.

Continua depois da publicidade

SPREAD. Pois bem, o viajante quando compra dólares aqui no Brasil, já “entrega” 5% ao agente. Ora, se o país de destino não tem o dólar como moeda de curso legal, como é o caso dos EUA, Equador e Panamá, o cidadão será obrigado a fazer nova conversão, digamos, de dólar para euro, ou para peso, ou para libra, ou iene e assim por diante. Vai “perder” outros 5%. Se mudar de país e precisar nova conversão, mais 5% e assim sucessivamente.

DICA. Por isso, a dica óbvia é: adquira no Brasil a moeda que vai ser utilizada no país de destino. Sim, mesmo que seja a Argentina! Alguns estranharão: “mas na Argentina todos aceitam dólares”. É verdade, mas observe que os preços estão quase sempre em pesos e que, para aceitar dólar, o comerciante irá fazer uma conversão que, naquele país, costuma ser 10 a 20% abaixo da cotação vigente. Por exemplo, com o câmbio do dólar a P$ 3,20, é provável que um restaurante converta seu dólar – para pagamento da conta – a $ 2,70 ou 2,80. Afinal, ele não é agente financeiro e não tem padrões legais ou éticos para atuação em câmbio.

Portanto, se o seu programa é ir ao Japão, compre ienes; se vai à Inglaterra, libras; se vai para qualquer país da zona do euro, compre euros. E assim por diante. Claro que para países com alta inflação, moeda instável ou situação política instável, o dólar dos EUA é sempre uma boa opção. É o caso da Venezuela, dos países africanos e mesmo de pequenas repúblicas, seja no Pacífico, seja na América Central e Caribe e assim por diante.

Paises como a China, onde a taxa é quase fixa (muda muito pouco ao longo do ano) levar dólares ou euros também é uma boa opção. Até mesmo para não ficar, na volta, com trocos em yuan remimbi, exceto como souvenir (pelo menos por enquanto)…

LIMITES. Outra questão que costuma confundir as pessoas é se ainda existe limite legal para compra de moeda estrangeira. A resposta é curta e grossa: Não! Não há limite regulamentar para compra de moeda estrangeira e, sim, você pode levar cem mil dólares, ou mais, desde que seu banco sinta-se confortável em lhe vender grande quantidade de moeda e, claro, você tenha “origem” para essa compra.

E, de passagem, é bom que tenha também uma boa explicação para esse desejo incomum… Portanto, se seu agente disser que há algum limite imposto pelo BC ou pelo CMN, conversa fiada! Pode haver algum limite imposto pelo próprio banco ou corretor, segundo o seu perfil de cliente, mas ai você tem a opção de mudar de agente.

Na regulamentação vigente, o único limite explícito é que os pagamentos em espécie – em reais – não podem exceder a R$ 10 mil. Acima desse valor, os pagamentos devem ocorrer por cheque, TED, DOC ou outro instrumento bancário que caracterize a saída dos recursos da conta do comprador de moeda estrangeira. Ou seja, o viajante não está limitado a dez mil reais: esse é o limite para pagar em espécie, nada mais que isso!

COMO LEVAR. Questão igualmente importante é como levar esse dinheiro, considerando os riscos e as necessidades. O viajante pode levar ao exterior:

– Papel moeda (bank note);
TC -Traveler check (de uso decrescente);
– Cartões pré-pagos que funcionam como cartão de pagamentos ou para saque em moeda local (em máquinas) e, por isso, substituem gradualmente o TC;

– Cartões de crédito.

É sempre aconselhável um mínimo de dinheiro em espécie, para as primeiras despesas de aeroporto, táxi, cafezinho, etc. As três primeiras opções (papel, TC, cartão pré-pago) têm a vantagem de se poder saber previamente o custo da moeda estrangeira a ser gasto. O cartão de crédito tem a grande vantagem de funcionar como um “cadastro portátil” que o habilita a alugar carros, pagar hotéis, etc., porém os gastos serão convertidos a reais no vencimento do cartão.

Se é verdade que nos anos mais recentes não têm ocorrido grandes surpresas, lembrar que em anos anteriores teve viajante que chegou a pagar até o dobro do que previa (janeiro/fevereiro de 1999 e meados de 2002, por exemplo).

Quanto à questão de segurança, em caso de perda, furto ou extravio, os TC e os cartões podem ser repostos ainda no exterior. Tudo indica que o melhor mesmo, se possível, é combinar um pouco de cada instrumento: parte em espécie para as pequenas despesas; parte em cartão pré-pago para o dia-a-dia (refeições, souvenirs) e cartão de crédito para as despesas maiores (aluguel de carro, hotel). É sempre bom confirmar antes se os cartões de qualquer tipo são aceitos no destino. E boa viagem.

Ex-diretor do Banco Central, comentarista diário no portal da Intra Corretora e consultor de empresas da EBS-Consult, Emílio Garofalo Filho escreve mensalmente na InfoMoney, às terças-feiras.
emilio.garofalo@infomoney.com.br