Colunista InfoMoney: O mundo real dos conselhos

Em pesquisa recente do IBGC com 508 companhias listadas, ficou evidente a baixa diversidade dos conselhos de administração no quesito gênero

Heloisa Bedicks

O crescente debate a respeito da eficiência dos conselhos desvelou a grande homogeneidade existente entre seus pares e o forte peso das redes sociais. Fatores capazes de limitar o bom desempenho dos conselhos na busca por conhecer e questionar a realidade das organizações em que atuam.

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Em pesquisa recente realizada pelo IBGC com 508 companhias listadas, ficou evidente, mais uma vez, a baixa diversidade dos conselhos de administração no quesito gênero. De um total de 2.988 posições de conselheiros efetivos das empresas listadas, apenas 234 são ocupadas por mulheres, uma proporção de 7,74%.
O Código sugere às organizações que ao compor seu conselho prime pela diversidade de experiências, conhecimentos e perfis, cujo enfoque de seus membros seja contínuo em relação à sociedade e ciente de que seus deveres e responsabilidades são abrangentes e não restritos às reuniões do conselho. Três fatores – experiências, conhecimentos e perfis – têm se mostrado homogêneos, conforme revelou também outra pesquisa realizada, em parceria, pela revista Capital Aberto e pelo Centro de Estudos em Governança Corporativa da Fipecafi1.

“Muitas conselheiras têm um estilo de liderança colaborativo”

Das 97 companhias entre as 100 mais negociadas na BM&FBovespa, 87,4% dos conselhos são formados por homens e com idade média de 50,8 anos. Em complemento, pesquisa da Universidade da Califórnia, em que foi analisado o relacionamento entre conselheiros e diretores presidentes, apontou como resultado a grande homogeneidade na formação dos conselhos, em especial, na área de conhecimento de seus integrantes. O que vale dizer que muitos de seus membros se formaram nas mesmas universidades, frequentaram os mesmos locais ou até já se conheciam há tempos.
As empresas deveriam dar uma maior ênfase à promoção da diversidade de gênero. Pesquisas realizadas pela organização Catalyst2 mostram que, em média, firmas com mais mulheres no conselho de administração apresentam resultados melhores do que as demais. Muitas conselheiras têm um estilo de liderança colaborativo, que estimula a exposição de ideias ao incentivar que todos sejam ouvidos. Além disso, elas também não demonstram dificuldades em abordar problemas complexos e de difíceis soluções.
Tudo isso eleva a qualidade da discussão nas reuniões do conselho, contribuindo para o aprimoramento das práticas de governança em geral, o que se reflete no desempenho da empresa. Essas características podem ser incrementadas quando existem mais de uma ou duas mulheres membros do conselho.
Mais um benefício à inclusão das mulheres é o fato de sinalizar aos demais stakeholders da organização que as suas opiniões também serão ouvidas e respeitadas, principalmente aos grupos considerados minorias. Outro fator relevante é que grande parte das decisões de compra de bens de consumo são efetuadas por mulheres. Logo, elas podem apresentar uma melhor perspectiva da visão dos consumidores, podendo fazer com que os serviços e/ou produtos sejam mais adequados às expectativas dos seus clientes.
Quando observada a participação feminina nos segmentos diferenciados de negociação da BM&FBovespa (Novo Mercado, Nível 2 e Nível 1), diferentemente do que se espera, sua participação não é necessariamente maior, apesar de ser demandado dessas empresas melhores práticas corporativas, com maior inserção de minorias.
A pesquisa realizada pelo IBGC revelou também que das 100 companhias do Novo Mercado, há 823 posições no conselho de administração, sendo 87,73% conselheiros efetivos. Apenas 42 posições são ocupadas por mulheres (5,10%), porém, se considerar o fato de serem efetivas ou suplentes, essa proporção cai para 29 posições (4,02%). Já no Nível 2, as 18 empresas listadas dispõem de 140 conselheiros efetivos, com participação feminina de 9,04% do total das posições e 9,29% das posições excluindo as suplentes. O Nível 1 engloba 39 empresas que geram 327 posições de conselheiros efetivos, sendo 23 as mulheres (7,03%).
Proporcionalmente, o Mercado Tradicional, com suas 351 empresas e 2.260 posições de conselheiros geradas, apresenta mais mulheres do que os segmentos diferenciados: 231 ou 10,23% do total. Esse percentual cai ligeiramente para 10,13% quando se considera apenas as conselheiras efetivas (171).
A pesquisa revelou também que muitas das atuais conselheiras de empresas integrantes do mercado tradicional são herdeiras do grupo de controle.
Os resultados da pesquisa do IBGC e das desenvolvidas pelo mercado revelam o estágio de desenvolvimento inicial do Brasil ao retratar a maioria dos conselhos de administração sem nenhum membro feminino ou com um ou dois membros. As empresas brasileiras ainda têm um longo caminho a percorrer para melhorar as suas práticas referentes à promoção da diversidade e desfrutar, assim, dos benefícios advindos da variedade de experiências, conhecimentos e perfis.

1ANUÁRIO de Governança Corporativa das Companhias abertas 2009. Revista Capital Aberto, São Paulo, 4 jun. 2009

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2CATALYST. Women’s Low Representation on Boards Slow to Change but Crucial for Corporate Canada´s success. Disponível em http://www.catalyst.org/press-release/131/womens-low-representation-on-boards-slow-to-change-but-crucial-for-corporate-canadas-success. Acesso em 18/ago/2009.

Heloisa Bedicks é diretora executiva do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa e escreve bimestralmente na InfoMoney, às quintas-feiras.
heloisa.bedicks@infomoney.com.br