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Parte significativa dos investimentos que entram no país, de caráter financeiro e não financeiro, levam em conta o sucesso do nosso regime de metas de inflação e todos os benefícios que ele gerou nos últimos anos. Neste regime, não se controla a taxa de câmbio. Além do que, a inflação baixa, significa menor corrosão de renda (sobretudo para os mais pobres) mais investimentos … e mais votos. Portanto, é muito difícil imaginar o seu fim.
O principal instrumento desse regime (para controlar as expectativas de inflação) é a taxa de juros. Sabe-se que a brasileira caiu muito por conta da crise, mas continua sendo uma das mais altas do mundo – o que atrai investimentos financeiros, corroborando para a apreciação do câmbio. Um dos condicionantes do nível dessa taxa de juros são os gastos do governo – política fiscal. A qual expandiu bastante nos últimos meses, em boa hora para conter os efeitos da crise. Contudo, boa parte dos gastos do governo são gastos correntes (pagamento do aparelho estatal) e não são investimentos. Dessa forma, só contribuem para incrementar a demanda, gerando pressão inflacionária – sem gerar incremento na capacidade produtiva do país.
“Repelir investimentos em um país que não tem poupança interna não faz sentido” |
Se os gastos do governo não diminuírem no próximo ano, com a recuperação da demanda externa, somada à já observável recuperação do nível de atividade brasileiro, será uma pressão adicional de demanda. Para manter a inflação no lugar, o Banco Central não terá alternativa e deverá aumentar a taxa de juros no próximo ano – e é o que o mercado financeiro está precificando. Passando para a questão cambial, ainda que as economias desenvolvidas comecem a trazer suas taxas de juros para um patamar neutro, o diferencial entre as taxas de juros internacionais e a taxa de juros brasileira continuará grande. E não será o IOF de 2% que repelirá os investimentos. Alguns afirmam que o imposto deveria ser maior, para afugentar mesmo. Agora, repelir investimentos em um país que não tem poupança interna (o governo, por exemplo, só gasta e gasta mal, não investe)? Não faz sentido – talvez em um primeiro momento gere benefício só para quem falou. Ademais, entra a lógica oportunista de aumento de arrecadação para o governo, para se traduzir depois em mais consumo do governo.
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Esses são só alguns dos fatores que corroborarão para apreciar o câmbio nos próximos meses – há gente que diga que ele pode chegar abaixo de R$ 1,60. Mas como apontado no parágrafo anterior, o aumento dos gastos correntes do governo favorece o aumento do diferencial da taxa de juros. E toda a questão fiscal no Brasil faz parte do que chamamos de custo Brasil. Além, deste aspecto está também à falta de infra-estrutura ou precariedade da já existente, a reforma trabalhista, política…
Em suma, as famigeradas reformas, mas que tem ficado no esquecimento nos últimos anos, quando tudo ia bem; e mesmo com o câmbio apreciado, a rentabilidade do setor exportador era considerável.
Este conjunto de reformas tem um caráter mais duradouro do que a simples desvalorização da taxa de câmbio – cuja contra partida é aumentar a rentabilidade do setor exportador, mas com potencial de gerar inflação. Além do que a diminuição do custo Brasil tende a beneficiar não só o setor exportador por vários anos, mas também a sociedade como um todo – na mediada que corroboram para reduzir custos que o Estado nos empoe (é só observar o nível da carga tributária e a qualidade dos serviços públicos). Ou seja, nos deixaria crescer mais, melhor e como um todo.
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Raphael Castro é economista e escreve mensalmente na InfoMoney, às quartas-feiras.
raphael.castro@infomoney.com.br