Colunista InfoMoney: Fundos de ações poderiam servir de ponte para a bolsa?

<div class="select">Por José Brazuna</div> Fundos de ações são alternativa segura para transição entre renda fixa e variável

José Eduardo Brazuna

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Renda fixa sempre fez parte da cultura brasileira. É uma herança da inflação e dos juros altos, quando proteger o poder de compra sempre foi o objetivo final. Neste ambiente, a parcela de fundos de ações sempre ficou abaixo de 10% do market share do setor, muito diferente da média mundial de 40%.

Sempre foi consenso que a migração de parcela dos investimentos para ações, via fundos ou compra de ações, só ocorreria quando os juros efetivamente caíssem; antes disso, impossível.

Entretanto, a teoria foi contrariada a partir de agosto de 2002 quando a Bovespa iniciou a campanha: “Bovespa vai até você”, ousada na época, justamente pela “visão macro-econômica” corrente de que, com juros altos, “não existe mercado acionário”, o que hoje se demonstra muito simplista, já que o “Bovespa vai até você” é um sucesso.

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Para termos um parâmetro de quão ousado o programa parecia, a Selic em agosto de 2002 era de 18%, e chegou a 26,5% em junho de 2003, maior patamar da década. Mesmo com os juros altos, o resultado foi que, a participação das pessoas físicas na Bovespa saiu de 10% à época para 30% em 2007.

Ou seja, parte dos investidores já saiu da “inércia macroeconômica da renda fixa”, mas o mesmo não ocorreu com fundos de ações. Para entender então as razões deste comportamento, a Anbid contratou uma pesquisa qualitativa, em que foram ouvidos investidores de middle market e private banking, gerentes de bancos, consultores e formadores de opinião. A pesquisa revelou que estamos em um “turning point”.

Os investidores já não enxergam mais o investimento como forma de se proteger da inflação ou juros altos no curto prazo e manifestam uma visão de longo prazo. Logo, a renda fixa talvez pode deixar de ser tão atraente, abrindo espaço para os fundos de ações.

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Apesar desta perspectiva, o temor ainda é muito grande. Os investidores enxergam ações como um negócio arriscado, especulativo, para profissionais, onde “todos ganham, menos eu” ou se “perde tudo”. Ou seja, há uma “miopia” quando comparamos os objetivos de investimento com a percepção sobre os mercados.

“Nos cabe agora a tarefa de buscar um posto de destaque em fundos de ações”

Ao mesmo tempo, justamente pelo temor, os fundos de ações podem ser a alternativa mais segura para a transição entre a renda fixa e a variável já que, na visão dos mesmos, nos fundos, a tendência é “perder menos”, pois há profissionais gerindo, o que pode propiciar diluição do risco, boa rentabilidade e liquidez, na medida em que “posso resgatar a qualquer momento”.

Porém, quando perguntamos a opinião sobre o futuro, 46% deles acham que a compra de ações, via home broker, vai crescer, e 32% recomendam este investimento. Já em relação a fundos de ações, apenas 15% acham que irá crescer e 12% recomendam! Logo, há uma dicotomia entre o que ele pensa e o que recomenda, pois ele deseja investir no logo prazo via fundo de ações, acha o instrumento seguro, porém não materializa a vontade, e recomenda home broker, mesmo não considerando ser o mais adequado.

Pela pesquisa, uma das explicações para esta “miopia” pode estar no comportamento dos canais de atendimento (call center e agências bancárias). Em ambos, constatou-se que os atendentes têm conhecimento sobre os produtos, mas não demonstraram preocupação em concluir a venda, e nem solicitar dados do cliente para um contato posterior. No caso das corretoras, o que temos visto é justamente o contrário: campanhas publicitárias e esforço para venda do serviço de home broker.

Estamos vivendo um momento importante em que o investidor demonstra disposição para aumentar sua parcela em renda variável e, em contrapartida, iniciativas estão surgindo com o intuito de disseminar conhecimento aos investidores e aos profissionais dos canais de atendimento.

A própria Anbid tem um amplo programa de educação do investidor, através de sites (www.comoinvestir.com.br) e guias aos estudantes e investidores, distribuídos gratuitamente, com conteúdo educativo e gratuito.

O ponto central nesta questão é que o comportamento do investidor está mudando, e o mercado vem reagindo a esta mudança. O setor de fundos brasileiro já é o décimo do mundo. Nos cabe agora a tarefa de fomentar essa maturidade não só em tamanho, mas também no perfil, nos tornando um mercado de destaque em fundos de ações.

José Brazuna é gerente de Fundos de Investimento da Anbid e escreve mensalmente na InfoMoney, às quartas-feiras.