Colunista InfoMoney: Calmaria finalmente?

Estamos quase no final do mês e do terceiro trimestre, com vento a favor e boas expectativas para o início de 2010; veio a cereja que faltava para nosso bolo

Reginaldo Siaca

Iniciamos um dos melhores setembros dos últimos tempos, pelo menos no mercado financeiro. Estamos quase no final do mês e término do terceiro trimestre com vento a favor e com boas expectativas para o final de 2009 e início de 2010.

Este mês obtivemos a terceira nota da Moody’s, um pouco tarde, porém, muito bem-vinda. O mercado já estava esperando desde o final de junho de 2009, quando iniciaram a visita para o Brasil para nova avaliação. Apesar de algumas críticas pela demora, alguns especialistas deram suas explicações de que o rating não estava fazendo falta, pois a valorização do real frente ao dólar e os ganhos da bolsa já precificavam o evento no mercado.

Eu discordo, pois a terceira nota para o País é muito importante, pelo lado das empresas, bancos nacionais e do próprio governo em efetuar captações no exterior. Com essa terceira nota, obtivemos o aval definitivo de um bom pagador, quando o momento lá fora é excelente para captações mediante taxas de juro baixas. Além disso, sabemos que muitos fundos externos não podem investir em países emergentes que não tenham o rating mínimo desejado. Portanto, com o selo de qualidade, atrairemos dinheiro bom, não apenas especulativo. Como a equipe financeira de um grande banco nacional definiu, só faltava a cereja para o nosso bolo.

“Só faltava a cereja para o nosso bolo. Não falta mais”

Agora é hora de aproveitar. Vamos para os indicativos dos outros ativos. Nossas reservas estão perto de US$ 225 bilhões, pois o BC só está utilizando a compra no mercado spot, como mecanismo eficiente para o real não se valorizar mais. Porém, o trabalho será árduo. Investimentos continuam a chegar e, como o mercado esta favorável para o Brasil, até o final do ano teremos mais ou menos 8 IPOs (ofertas iniciais de ações), estimando o total em quase R$ 40 bilhões. Vamos imaginar que 40% será de investidores estrangeiros. Então teremos, só nas ofertas públicas, ingresso de US$ 16 bilhões.

Esse impacto é crítico para a balança comercial, já que está comprometendo nossas exportações. A valorização do real diante do dólar ocorreu muito rápido e muito forte. A tendência seria aumentar importações, mas ainda estamos com superávit na balança. E o turismo, apesar de ser fraco, até que está ajudando. Dessa forma, teremos para o final de 2009 uma estimativa de novo patamar, caso não haja surpresas em relação ao novo piso de R$ 1,75 a R$ 1,85. Contudo, no final de setembro, ainda teremos um rali na formação da Ptax, refletindo a briga entre comprados e vendidos.

Ibovespa

Quanto ao Ibovespa, estamos dentro dos 61 mil pontos, com um dólar a R$ 1,80. Minha estimativa para final do ano é de 65 mil pontos. Mas devemos ressaltar que o Brasil pode estar carregando exageros de otimismo frente ao cenário global. Aí vem a pergunta: qual seria o nível desejável ou ideal? Não sabemos; é uma incógnita. De todo modo, a cautela neste momento é recomendável. Mais vez: bolsa não é loteria; é investimento em longo prazo. No curto prazo, a especulação exige cuidados.

Selic

Voltando à nossa taxa de juro, hoje de 8,75% ao ano. Com a expectativa do PIB crescer este ano perto de 1% e em 2010 perto de 5%, provavelmente entraremos em um novo ciclo inflacionário. Assim, a tendência para 2010 é de o BC aumentar a taxa até dois dígitos. Mesmo assim, sei que é prematuro dizer que teremos dois dígitos novamente. Para o governo, como os juros internacionais estão estabilizados e haverá eleição, não seria nada interessante aumentar a taxa de juro neste momento.

Reginaldo Siaca é gerente da Advanced Corretora de Câmbio e escreve mensalmente na InfoMoney, às terças-feiras.
reginaldo.siaca@infomoney.com.br