Colunista InfoMoney: Bastam sete minutos

Temos uma inadimplência na média mundial, um spread bancário nas alturas e uma sobra de dinheiro em torno de R$ 444 bilhões!

Waldir Kiel

Há um ano, o banco de investimentos Lehman Brothers, na época o quarto maior dos Estados Unidos no setor, anunciava que pediria concordata. A tentativa das autoridades norte-americanas de evitar a contaminação do mercado financeiro e o agravamento da crise que começou no sistema hipotecário do país fracassou, dando início a uma crise financeira que varreu as principais economias do planeta.

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Algumas medidas urgentes foram tomadas por parte das autoridades monetárias do mundo todo, bancos centrais. Imediata baixa nas taxas de juros e injeção de recursos, visando incentivar a retomada das economias.

A recuperação foi rápida, principalmente nos países que compõem o chamado BRICs, e o debate em torno de normas que precisam ser tomadas para que a exuberância não se repita ganhou força nos encontros do G20 e nos discursos das autoridades governamentais.

“Caso queira de fato investir que compre títulos mais longos”

Politicamente, as colocações têm causado efeitos, no entanto, na prática, as medidas sugeridas são de difícil implementação.

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Em se tratando de Brasil, três notícias chamaram a atenção nos últimos dias: (1) Brasil tem um dos spreads bancários mais altos do mundo, só perdendo o primeiro posto para o Zimbábue; (2) inadimplência no Brasil está dentro da média mundial; (3) bancos estão “inundados” de dinheiro e BCs têm de atuar para segurar juros – sobra de liquidez no curto prazo vai ao recorde de R$ 444 bilhões.

Muita coisa mudou e vem mudando na economia brasileira nos últimos anos. Contudo, a política monetária continua intocável, sua eficácia é medida pela inércia da economia real. No entanto, estas últimas notícias, nos mostram claramente que existe uma incoerência muito grande na condução e formulação da mesma.

Temos uma inadimplência na média mundial, um spread bancário nas alturas e uma sobra de dinheiro em torno de R$ 444 bilhões!

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Isso tudo acontece porque o Brasil não tem uma política monetária de fato, uma política monetária ativa, onde a taxa de juros tem verdadeiramente efeito, onde uma mudança de patamar de taxas influencia de forma decisiva a escolha de investimentos na economia. Daí também o motivo de não termos uma curva de juros consistente e determinada por taxas pré-fixadas.

O dinheiro sobra no caixa dos bancos porque eles têm o conforto de uma taxa de juros absurdamente alta no curto prazo, por mais que a taxa básica tenha recuado para o menor nível da história, ela continua extremamente fora de propósito. Não se pode remunerar e incentivar o desinvestimento e a especulação de curto prazo.

Para que este cenário mude e o Brasil passe a ter uma política econômica de fato é preciso antes de tudo ter a vontade política que mexa com os interesses daqueles que detêm o monopólio do dinheiro na aplicação e nos financiamentos.

Caso tivéssemos um arcabouço de medidas que propiciasse uma atuação mais efetiva do Banco Central, essa sobra de dinheiro nos mercados se resolveria em apenas Sete Minutos.

Dois minutos para o famoso Aviso1 do Banco Central anunciando que não atuaria mais tomando recursos no curto prazo, que só venderia títulos públicos para enxugar a liquidez e cinco minutos para realizar a primeira operação.
Quem quisesse ficar no curto prazo seria penalizado com uma flutuação nas taxas. Caso queira de fato investir que compre títulos mais longos.

1A história do Aviso em Dois – (www.avisoemdois.com.br/o-aviso-em-dois).

Há 35 anos no mercado financeiro, Waldir Kiel Junior é economista e escreve mensalmente na InfoMoney, às quartas-feiras.
waldir.kiel@infomoney.com.br