Colunista InfoMoney: A sedução do dinheiro

Dinheiro todo mundo gosta, porém fetiche em relação ao mesmo pode virar ganância desenfreada; afinal, no leito de morte, o que vale mais: amores ou riquezas?

Márcia Tolotti

Esperamos que um texto nos carregue ao longo de sua leitura, que não nos chateie ou nos faça adormecer, além de trazer alguma novidade, criar alguma dose de prazer; enfim, que nos seduza.

Vamos pensar em termos práticos da sedução: uma mulher se ofende quando um homem tenta seduzi-la como faz com qualquer outra. Um homem se escandaliza quando uma mulher tenta seduzi-lo como faria qualquer outra. Por que? Porque ambos se sentem “comum”, “qualquer um”, sem “distinção”. Todos esperam ser reconhecidos na sua individualidade, na sua marca pessoal. Porém, nem sempre temos consciência da nossa singularidade, seja por insegurança ou por prepotência.

E quando não sabemos muito bem e não temos tempo ou paciência para pensarmos sobre nosso mundo interior, simplificamos a situação e vamos buscar diferenciação no concreto, na convivência social. E quais são os brasões de distinção na sociedade? As competências profissionais sim, mas principalmente, a competência em adquirir e mostrar – não basta ser, é preciso mostrar que é – a capacidade em gerar riqueza. É nesse contexto que o dinheiro está inserido, culturalmente, é o maior ícone de sucesso, superação e capacidade. É fácil não se sentir seduzido para conquistá-lo?

“No leito de morte,
o que vale mais:
amores ou riquezas?”

O desafio de conquistar dinheiro é extremamente complexo. Para muitos é um fascínio, um verdadeiro feitiço. Culturalmente convivemos com uma espécie de promessa de que o dinheiro garante segurança, competência, felicidade, conforto, prazer. Isso não significa que o dinheiro não facilite todas essas coisas, mas é preciso ter cuidado.

Ser seduzido e fascinado pelo dinheiro não é apenas uma fantasia, um desejo, uma necessidade ou uma vontade, é uma prática cultural e, muitas vezes, um culto pessoal; os fascinados têm no dinheiro o seu fetiche. O dinheiro pode ser eleito pelo sujeito como um objeto de fetiche e se tornar a maior fonte de gozo. Isso acontece também porque há um “terror em ficar sem”, não propriamente sem o dinheiro, mas aquilo que o dinheiro representa. Porém, nem todos que querem construir um patrimônio elegem o dinheiro como fetiche. Para muitos, a segurança e o desafio são os grandes atributos da moeda.

Uma regra que vale para todos é constantemente, insistentemente, refletir sobre o propósito das ações e quando nos referimos ao dinheiro, com muito mais empenho. As pessoas gastam horas irrecuperáveis das suas vidas buscando mais e mais dinheiro, mesmo quando a segurança, o patrimônio e os investimentos são racionalmente suficientes. Então, alguma outra coisa que está imperando, é a sedução pelo dinheiro.

E, diante da sedução, é inevitável o surgimento da decepção: “decepcionar é enganar a expectativa”. Portanto, é fundamental que cada um avalie qual é a sua expectativa essencial. Todos sabem que ninguém no leito de morte fala sobre o que construiu, quanto ganhou, mas sim a quem amou ou a quem deixou de amar. Lições que a vida não cansa de nos ensinar e que nós, não cansamos de não escutar.

Afinal, será que estamos seduzidos por outros cantos, por encantos, por fascínios?

Márcia Tolotti é psicanalista, psicóloga, MBA em Marketing e escreve mensalmente na InfoMoney, às quartas-feiras.
marcia.tolotti@infomoney.com.br