Cérebro pré-histórico causa perda de dinheiro, mas pode ser “domado”, ensina autor

Economista afirma que decisões irracionais estão ligadas a uma área cerebral que já ajudou nossos antepassados a sobreviver

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SÃO PAULO – Vender ações quando o mercado está em baixa e comprar na alta ou não querer se desfazer de ações que só estão caindo, para não reconhecer o prejuízo, são apenas alguns exemplos de erros frequentes que investidores podem cometer, muitas vezes influenciados pelo lado emocional. 

Mas, diferentemente do que muita gente imagina, as emoções que levam a perdas financeiras estão muito mais ligadas a uma causa biológica, própria da espécie humana, do que a fatores como personalidade, por exemplo. Conforme explica o economista Terry Burnham, nosso cérebro, assim como nosso corpo, ainda reflete o mundo dos nossos ancestrais. Assim, em determinadas situações, incluindo aquelas relacionadas ao dinheiro e aos investimentos, os instintos primitivos ainda predominam e interferem no poder de análise. 

Esse lado mais primitivo, por sua vez, é “coordenado” por uma área do cérebro que ele chama de cérebro reptiliano. “O cérebro reptiliano é importante para a coleta de alimentos e para a busca de abrigo, mas terrível para navegar nos mercados financeiros”, diz o autor de A Emoção é Inimiga do Dinheiro (Editora Gente/Senac, 356 páginas), que completa: “Em vez do uso da parte analítica do nosso cérebro, geralmente retornamos às partes mais velhas, as quais ajudaram nossos ancestrais a sobreviver por dezenas de milhares de anos antes da criação dos mercados financeiros”. 

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Incapaz de lidar com cálculos e com informações novas
O cérebro reptiliano está adaptado para lidar com problemas típicos de ambientes naturais, diz o autor, mas é incapaz de lidar com questões ligadas ao mercado financeiro, como os cálculos matemáticos. E para completar, afirma ele, os investidores ainda enfrentam o problema do excesso da confiança. “Somos ruins nos cálculos necessários para analisar os investimentos e, simultaneamente, não nos apercebemos das nossas falhas”. 

É também esse lado do cérebro que faz com que investidores busquem um padrão lógico para um comportamento ilógico. “Os preços das ações possuem um grande componente aleatório; no entanto, todos somos criados para procurar padrões nessa confusão”, diz Burnham, que também é mestre em finanças pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). 

Por outro lado, quando se depara com informações novas, os investidores e até operadores do mercado financeiro tendem a dar respostas emocionais. “No momento em que observamos mudanças nos preços das ações ou lemos sobre os acontecimentos mundiais, apresentamos respostas fisiológicas. Se agimos em relação a essas emoções, tendemos a fazer movimentos errados”, afirma. 

Lições de investimento
Já que os instintos primitivos ligados ao cérebro reptiliano fazem parte da natureza humana, o jeito é tentar domá-lo a nosso favor. Para isso, o autor dá algumas lições de investimento: 

1) Nunca confie em ninguém, nem mesmo em você. Nunca invista com base na dica de outras pessoas e trate suas próprias decisões de investimento com certo ceticismo. Nunca invista impulsivamente, já que você pode estar se deixando seduzir por uma má dica do cérebro reptiliano. Sempre dê um intervalo de tempo entre uma ideia de investimento e o negócio real. 

2) A pior coisa que podemos fazer, diz Burnham, é operar com base em notícias. Há evidências de que quanto mais frequentemente as pessoas observam o desempenho do seu investimento, pior elas agem. Ao vermos perdas, tendemos a tomar decisões emocionais, para escaparmos das posições. Uma regra simples para amenizar esse efeito é alinhar seu índice de aquisição de informação com seu horizonte de investimento. 

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3) Tente organizar suas finanças para evitar operar muito e de modo impulsivo no mercado financeiro. Isso significa criar o que o autor chama de mastro financeiro, em uma analogia a Ulisses, da Odisseia, que pediu para ser amarrado ao mastro do seu barco para não ceder ao canto das sereias e morrer afogado. Como exemplo, o autor cita o que ele mesmo faz: manter conta em uma corretora que cobra taxa de corretagem elevada, o que limita suas operações. 

4) Seja diferente. Para ganhar dinheiro, diz o autor, às vezes, o investidor tem de assumir um comportamento impopular. “Correr contra a manada é difícil, porque somos criados para querer fazer o que os outros estão fazendo; queremos fazer parte do grupo”, afirma, acrescentando que estudos comprovaram que o isolamento social gera sofrimento, mas também está ligado a áreas menos analíticas do cérebro. 

5) Seja obstinado o suficiente para persistir em um plano. O autor cita o exemplo do megainvestidor Warren Buffet, que nos anos 1990 se recusou a comprar ações da bolha (de empresas de internet) e, por isso, não teve tantos ganhos quanto os que apostaram nestes papéis. Só que a bolha estourou, muitos perderam dinheiro e Buffet provou estar certo. “A tenacidade mental fora do comum de Buffet permitiu-lhe perserverar e prosperar. Ao contrário da maioria das pessoas, ele nunca se desviou de seu plano”, diz Burnham.