CDB assegura até 128% do CDI em 2022; quais papéis renderam mais e o que esperar para 2023?

Títulos atrelados ao IPCA, por sua vez, apresentaram taxas reais de até 9,81%; alocações em pós-fixados devem se destacar no ano que vem

Bruna Furlani

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Quem buscou ativos bancários para investir neste ano tem motivos para comemorar. A rápida escalada da taxa Selic para os atuais 13,75% ao ano impulsionou também o retorno dos Certificados de Depósito Bancário (CDBs) ao longo de 2022, que chegaram a bater 128% do CDI (taxa de referência da renda fixa) ao ano, no caso dos papéis pós-fixados.

Os papéis foram emitidos pela Sinoserra Financeira e tinham vencimento em 24 meses. Os números fazem parte de levantamento feito pela Quantum Finance, empresa de soluções para o mercado financeiro, a pedido do InfoMoney, com base em ofertas disponíveis entre os dias 3 de janeiro e 15 de dezembro deste ano. As remunerações são brutas, sem o desconto do Imposto de Renda.

Embora algumas taxas saltem aos olhos, o estudo mostra também que foi preciso garimpar para encontrar boas oportunidades em algumas plataformas. Afinal, a rentabilidade média registrada por CDBs atrelados ao CDI com vencimento em 24 meses ficou em torno de 100,89% neste ano.

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Confira a lista completa de rentabilidades dos CDBs pós-fixados em 2022 abaixo:

Retornos brutos de CDBs indexados ao CDI (de 03/01/2022 a 15/12/2022)

Prazo (meses) Indexador Taxa mínima Taxa média Taxa máxima Número de ativos Emissor da maior taxa
3 DI 75,00% 101,77% 106,75%                          1.202 BANCO PAN
6 DI 90,00% 100,76% 122,00%                          1.066 BANCO MASTER
12 DI 90,00% 100,93% 126,00%                          1.591 SINOSERRA FINANCEIRA
24 DI 92,00% 100,89% 128,00%                          1.323 SINOSERRA FINANCEIRA
36 DI 82,00% 104,38% 127,00%                             174 SINOSERRA FINANCEIRA

Fonte: Quantum Finance. Obs: Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda.

Quando o assunto são prefixados, investidores também puderam celebrar, com as taxas máximas oferecidas por CDBs de vencimento de seis e de 12 meses chegando a 19,56% ao ano – no caso de papéis emitidos pelo Banco Master.

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Já no quesito remuneração média oferecida por CDBs prefixados de mesmo prazo (seis e 12 meses), o percentual encontrado foi menor – de 13,68% e 13,65%, respectivamente. Ainda assim, andou próximo à taxa do CDI, de 13,65% ao ano desde agosto.

Confira a lista completa de rentabilidades dos CDBs prefixados em 2022 abaixo:

Retornos brutos de CDBs prefixados (de 03/01/2022 a 15/12/2022)

Prazo (meses) Indexador Taxa mínima Taxa média Taxa máxima Número de títulos Emissor da maior taxa
3 PREFIXADO 3,94% 13,46% 14,29%                             915 BANCO BTG PACTUAL
6 PREFIXADO 6,51% 13,68% 19,56%                             569 BANCO MASTER
12 PREFIXADO 6,51% 13,65% 19,56%                             886 BANCO MASTER
24 PREFIXADO 6,51% 13,11% 15,95%                             250 BANCO DAYCOVAL
36 PREFIXADO 11,78% 12,86% 14,88%                               68 BANCO VOTORANTIM

Fonte: Quantum Finance. Obs: Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda.

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Títulos atrelados à inflação, por sua vez, apresentaram rentabilidades de até 9,81% acrescidas da variação do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) em 2022 – no caso de papéis com prazo de 12 meses emitidos pelo BTG Pactual. Já a média de retorno oferecida por CDBs com mesmo vencimento ficou em 7,09% ao longo deste ano.

O estudo também mostrou que, mesmo alongando o prazo do investimento, o investidor não conseguiu obter retornos mais atrativos, na média.

Ao olhar para a remuneração média oferecida por CDBs atrelados à inflação com vencimento em 24 e 36 meses, é possível perceber que as taxas foram menores do que as vistas em papéis de prazo mais curto, como 12 meses.

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No caso de papéis atrelados ao IPCA com vencimento em 24 meses, o juro médio oferecido foi de 6,04% em 2022 e chegou a 5,74%, no caso de CDBs com prazo de 36 meses.

Confira a lista completa de rentabilidades dos CDBs atrelados à inflação em 2022 abaixo:

Retornos brutos de CDBs indexados à inflação (de 03/01/2022 a 15/12/2022)

Prazo (meses) Indexador Taxa mínima Taxa média Taxa máxima Número de títulos Emissor da maior taxa
12 IPCA 4,30% 7,09% 9,81%                          3.679 BANCO BTG PACTUAL
24 IPCA 4,66% 6,04% 8,49%                             669 BANCO BMG
36 IPCA 4,20% 5,74% 8,30%                             169 BRK FINANCEIRA

Fonte: Quantum Finance. Obs: Os retornos são brutos, sem descontar o Imposto de Renda.

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Foco em proteção

De olho nas projeções de inflação, a sugestão de Rodrigo Sgavioli, chefe de alocação e fundos da XP, é de que o investidor mantenha boa parcela da alocação em títulos atrelados à inflação em 2023.

“Para o médio e longo prazos, esse tipo de papel é que vai defender o investidor de uma inflação que deve voltar a subir em 2024 e 2025”, pondera Sgavioli.

Segundo o Relatório Focus divulgado nesta semana, a projeção para a inflação em 2024 e 2025 registrou piora mais significativa em relação ao visto anteriormente. No primeiro caso, passou de 3,50% para 3,60%. Para daqui a três anos, foi de 3,10% para 3,20%.

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Boletim Focus: expectativa de inflação cai para 2022, mas sobe em 2023 e 2024; mercado eleva projeção para Selic

Carlos Lopes, economista do banco BV, explica que a revisão para cima nas projeções de inflação é fruto da preocupação dos agentes com os efeitos da expansão fiscal pelo novo governo federal, sem contrapartidas.

“Nas nossas contas, o governo precisaria buscar um aumento de carga tributária muito significativo para que a dinâmica da dívida não fosse crescente, ou seja, para que fosse possível estabilizá-la entre três e cinco anos”, observa Lopes.

Nem mesmo a independência do Banco Central seria capaz de garantir que a inflação não fosse pressionada, em meio a uma política fiscal mais expansionista, avalia o profissional do BV.

Para Mirella Hirakawa, economista sênior da AZ Quest, a piora nas projeções de 2024 e 2025 representam os primeiros indícios de desancoragem das expectativas de inflação.

Em sua avaliação, ainda não é possível cravar uma definição de desancoragem porque o ano de 2025 deve ter maior peso para o Comitê de Política Monetária (Copom) apenas mais frente. De qualquer forma, ela avalia que a revisão para cima mostra que o BC precisa manter o grau de atenção e acompanhamento sobre a escalada de preços.

De olho na inflação, outro fator que deve ser monitorado de perto pelo mercado é a possibilidade de que a desoneração dos combustíveis não seja, de fato, postergada pelo próximo governo. O martelo parece que ainda não foi batido, mas as declarações dadas pelo novo governo têm sido desencontradas sobre o tema.

Na última terça-feira (27), Fernando Haddad, futuro ministro da Fazenda, solicitou a Paulo Guedes, atual ministro da Economia, que não prorrogasse a desoneração de impostos cobrados sobre combustíveis (PIS/Cofins), seguindo orientação do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A desoneração termina neste sábado (31) e o pedido ainda precisa ser avaliado pelo atual governo do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Já na tarde desta quinta-feira (29), o novo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, afirmou que “nada está descartado” em relação à desoneração dos tributos federais sobre os combustíveis.

Nos cálculos de Mirella, se a reoneração ocorrer mesmo, isso deve ter efeito de cerca de R$ 50 bilhões em arrecadação e levar a uma alta de 1 ponto percentual na projeção de inflação para 2023. Com isso, a estimativa para o IPCA saltaria de 4,9% para 5,9%, de acordo com as expectativas da AZ Quest.

Já nas contas de Lopes, do BV, a reoneração pode levar a uma alta de 0,40 ponto percentual no IPCA de 2023, com o indicador fechando o ano em 5,5%. Apesar da alta nas projeções de inflação para o ano que vem, o especialista acredita que a alteração não deve modificar muito o plano de voo do Banco Central.

“O BC já considera em suas projeções e comunicação que pode haver essa reoneração. Ele já olha para o IPCA acumulado em 12 meses no segundo trimestre de 2024 para não considerar os efeitos da volta desses impostos”, resume o profissional do BV.

Já Mirella defende que o BC calcula a reoneração dos impostos em suas projeções, mas que o número pode estar subestimado. “Ele [BC] ainda teria uma surpresa para cima, em caso de reoneração”, destaca.

Ainda que a medida siga adiante, ambas as casas esperam que o Banco Central inicie o ciclo de cortes no ano que vem. Na visão do BV, o corte deve começar em julho, enquanto a AZ Quest acredita que o processo de afrouxamento monetário deve iniciar entre agosto e setembro de 2023.

Os cortes, no entanto, não devem fazer com que a Selic volte para abaixo dos dois dígitos tão cedo. Nas estimativas do BV, a taxa básica de juros deve encerrar 2023 em 12%, enquanto a AZ Quest projeta que a taxa feche o ano em 12,25%.

Retornos altos

Olhando para um horizonte de taxas de juros mais elevadas por mais tempo, Arley Junior, estrategista de Investimentos do Santander, afirma que é fundamental que o investidor – especialmente o conservador – possua uma boa parcela do patrimônio em ativos atrelados ao CDI.

“A renda fixa deve ser destaque em 2023. O próprio CDI está oferecendo 1% ao mês. Isso é muito atrativo. Todos os perfis [de investidor] precisam ter um percentual nessa classe”, defende o especialista do Santander.

Apesar de não descartar novas altas da Selic a depender das medidas do próximo governo com impactos fiscais, Junior afirma que o investidor também não pode deixar a alocação em prefixados totalmente de lado.

Se for uma pessoa mais conservadora, a sugestão é de que a pessoa aloque cerca de 5% do portfólio em opções prefixadas, incluindo CDBs e outros ativos. Para ele, títulos que oferecem um retorno próximo de 13,5% estão com uma taxa atrativa, por exemplo.

Embora não seja possível descartar novas altas da Selic, Mirella, da AZ Quest, avalia que a barra para o BC subir o juros está mais elevada agora porque a taxa já está muito alta.

Mesmo assim, prefere ser cautelosa, já que acredita que o BC pode ter que voltar a subir a taxa básica de juros a depender dos riscos parafiscais – ou seja, se o governo retomar políticas em que oferece crédito subsidiado por meio de bancos públicos.