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Cacau mais caro amarga o preço do chocolate, mas investidor pode sair ganhando

Analistas acreditam que o pior para o mercado de cacau ainda está por vir, mas empresas estão se mexendo para se adaptar à turbulência

Monique Lima

Chocolate em barra

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A cotação do cacau está nas alturas. Em setembro, atingiu novo recorde de US$ 3.874 por tonelada, o maior preço em quase 50 anos. Apesar de a disparada ter perdido força, a tendência continua altista segundo analistas — notícia ruim para os amantes de chocolate, mas benéfica para empresas do setor,  que ficamcom os caixas mais cheios.

Há um ano, os futuros do cacau negociados nos Estados Unidos estavam avaliados em US$ 2.095 por tonelada – o que significa uma alta de 53% no período. Alguns fatores influenciaram esse aumento, como a maior demanda pelo produto em meio a dificuldades na oferta, problemas na produção devido aos efeitos climáticos e baixo nível de estoques.

A procura global por cacau aumentou fortemente desde o fim da pandemia. Países que não eram compradores tradicionais, como a China, estão se tornando consumidores e isso está afetando os preços”, afirma Barani Krishnan, analista de commodities do Investing.com.

E não é só o cacau que está com um movimento altista de preços. Outro ingrediente muito importante para as fabricantes de doces segue o mesmo caminho: o açúcar. Em doze meses, a alta já chega a 44%, saindo de US$ 18,2 por libra-peso para os atuais US$ 26,95 por libra-peso.

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Dados da Nielsen IQ mostram que esses aumentos na cotação do cacau e do açúcar já estão sendo repassados pelas fabricantes. Na Europa, o aumento no preço dos chocolates (confeitos, barras e presentes) foi de 13,3% no primeiro semestre deste ano, em comparação com o mesmo período de 2021. Nos EUA, o aumento foi ainda maior, de 20,7%.

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“Repassar a alta nos custos para os produtos é o movimento mais comum e rápido que as empresas podem fazer. Mas aí, existem duas possibilidades, uma positiva para as empresas e outra negativa”, diz Lucas Tereska, head de operações da Manchester Investimentos.

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O cenário negativo é a queda nas vendas por causa do aumento dos preços, já que não é um produto considerado essencial, e os lucros caem ou se mantêm estáveis. A segunda hipótese é os consumidores absorverem a alta e continuarem consumindo, o que aumentaria os lucros.

Tereska, da Manchester, afirma que os fabricantes podem ter que apelar para outras estratégias se o aumento de preços tiver um peso muito negativo para as varejistas e consumidores.

Reduzir o tamanho do produto ou fazer um estoque maior são sempre opções para as empresas. A Lindt está se antecipando e fazendo um estoque maior. Pode ser uma vantagem competitiva no futuro”, diz.

Independentemente do cenário, a expectativa é boa para as ações de fabricantes. A Mondelez (MDLZ), por exemplo, tem uma avaliação média dos analistas “overweight”, ou seja, uma expectativa de com desempenho futuro. O preço-alvo médio para 12 meses é de US$ 82,95 — equivalente a uma alta de 21% frente a cotação atual de US$ 68,44.

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A Hershey’s (HSY) tem a mesma avaliação pelos analistas, com um upside maior no preço-alvo, de 29%, para US$ 256,20 frente os US$ 198,43 desta segunda-feira. Os dados são compilados pela Market Watch.

Caixas cheios

Até o momento, os balanços do segundo semestre mostram que o segundo cenário está prevalecendo. A receita da Mondelez no segundo trimestre de 2023 registrou um avanço de 17% na comparação anual, para US$ 8,5 bilhões. Os custos de venda também aumentaram no mesmo período, porém menos que a receita, em 11%, para US$ 5,15 bilhões.

Na conta final, o lucro operacional da Mondelez ficou em US$ 1,4 bilhão, com 16,8% de margem – 4 pontos percentuais de ganho de margem em um ano e avanço de 53,7% no lucro. Em relatório, a administração escreve que aumentou o seu guidance para o ano de 2023. A companhia espera um crescimento orgânico da receita líquida de 12%, ante 10% anteriormente. A expectativa para o fluxo de caixa livre é de US$ 3,3 bilhões – até julho o acumulado era de US$ 1,478 bilhão.

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A Hershey’s teve números menos expressivos, mas ainda positivos. A receita teve um avanço de 5% na comparação anual, para US$ 2,5 bilhões, enquanto os custos de vendas caíram 1%, para US$ 1,36 bilhão. O lucro operacional foi de 560,6 milhões, com margem de 22,5% – avanço de 3 pontos percentuais e de 22,8% no lucro. O guidance para 2023 prevê crescimento de 8% nas receitas e de 15% no lucro por ação.

Segundo analistas, o preço do grão do cacau afeta cerca de 10% do preço total de uma barra de chocolate. Existe uma confiança de que a demanda continue alta para o segundo semestre, assim como a resiliência dos consumidores em relação aos aumentos de preço.

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Porém, para conseguir passar por esta prova com os consumidores, as fabricantes vão ter que se entender com as varejistas antes. Há alguns meses, a varejista belga Colruyt rejeitou os aumentos de preços dos produtos da Mondelez. Houve um acordo posterior e as barras de Milka e Oreo voltaram para as prateleiras.

Este não foi o único caso de varejistas rejeitando produtos por não aceitarem o aumento de preço pelas fabricantes. A Kraft Heinz, de ketchup, e a Mars, da Pedigree, tiveram seus produtos devolvidos pela varejista Tesco, no Reino Unido.

2024 pior

A menor oferta de cacau se deu após fortes chuvas na África Ocidental que desencadearam doenças em um grande volume de sementes e comprometeram a produção da safra 2022/23 nos dois principais países exportadores, Costa do Marfim e Gana. Em julho, a Costa do Marfim cortou as vendas de contratos futuros para a temporada de 2023/24 devido à insegurança de não ter produção suficiente para atender a demanda.

A Organização Internacional do Cacau (ICO) estima que o déficit será de cerca de 142 mil toneladas. Em relatório divulgado em agosto, eles afirmam que “as preocupações sobre o tamanho da colheita de 2023/24 provavelmente causará novas subidas de preços”.

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Diz o ditado que a cura para preços altos são preços altos”, diz Krishnan, da Investing.com. “Os gráficos sugerem que uma correção começou, mas não se sabe quanto tempo durará. A lógica sempre aponta para um nível alto, porém aceitável para os consumidores.”

O profissional da Manchester afirma que, embora exista essa perspectiva negativa, ela ainda não foi absorvida e sentida com força pelas empresas. “O pior cenário se desenha para 2024, mas depende de muitos fatores subjetivos, como a demanda continuar alta e o clima continuar prejudicando a safra, então não dá para escrever na pedra os prejuízos.”