Bridgewater: Olhar na gestão deve ser voltado agora para retorno, risco e impacto dos investimentos; sustentabilidade vira uma “terceira dimensão”

Para Karen Karniol-Tambour, ideal é entrar em investimentos sustentáveis com gestores que equilibrem sustentabilidade e retorno, além da diversificação

Bruna Furlani

Publicidade

SÃO PAULO – A intensificação das discussões em torno de questões ambientais tem provocado transformações no mundo dos investimentos dentro da agenda de ESG (sigla em inglês referente às melhores práticas ambientais, sociais e de governança) e atraído as atenções de grandes players como a Bridgewater Associates.

Na visão de Karen Karniol-Tambour, co-CIO para sustentabilidade da gestora de hedge funds, responsável por mais de US$ 145 bilhões em ativos, acredita que há espaço para fazer ainda mais barulho para que a sustentabilidade seja vista como uma “terceira dimensão” ou princípio a ser usado na hora de investir, além do risco e do retorno.

“O investidor deve se mover [para deixar de olhar apenas] o risco e o retorno, para [olhar] o risco, o retorno e o impacto”, disse a especialista da Bridgewater durante participação em painel sobre sustentabilidade na Expert XP, na noite desta quarta-feira (25).

Aula Gratuita

Os Princípios da Riqueza

Thiago Godoy, o Papai Financeiro, desvenda os segredos dos maiores investidores do mundo nesta aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

A Bridgewater busca com a estratégia All Weather Sustainability alcançar metas financeiras e de sustentabilidade por meio de ativos alinhados com os objetivos de desenvolvimento da Organização das Nações Unidas (ONU).

Para chegar a um modelo capaz de alcançar metas financeiras e de sustentabilidade, a executiva conta que olhou uma série de bolsas ao redor do mundo e criou modelos matemáticos capazes de entender como garantir uma carteira diversificada, com bons retornos e com investimento em ativos de impacto.

Dar os primeiros passos para estabelecer parâmetros de análise, contudo, não foi fácil. Mas Karen acredita que, com o desenvolvimento dessa indústria, devem ser criados cada vez mais padrões de análise, assim como ocorreu com a mensuração do Produto Interno Bruto (PIB), por exemplo. “Todo mundo tem padrões para medir o PIB, medir a inflação. O mesmo vai ocorrer com a sustentabilidade. Vai virar algo comum”, apontou.

Continua depois da publicidade

Sustentabilidade e diversificação

Ao ser questionada sobre como o investidor deveria começar a investir com foco em sustentabilidade, Karen diz que o ideal é que a pessoa seja clara com os seus objetivos e entenda o porquê do investimento. Na sequência, a sugestão é buscar um gestor que possa ajudá-la a chegar até onde deseja e, principalmente, consiga balancear a sustentabilidade com o retorno, sem abrir mão da diversificação.

“Se a pessoa tentar fazer sozinha, provavelmente não vai fazer de um jeito que seja escalável”, diz. “Os piores movimentos que você pode fazer é dizer que tem um portfólio diversificado e se concentrar na análise de uma ou duas companhias que você entende terem características sustentáveis e se focar apenas nessas duas empresas, em vez de diversificar o seu portfólio”, complementa Karen.

Leia também:
Larry Fink: Sustentabilidade passou a ser vista como grande fator de risco e pode ajudar a separar vencedores de perdedores

Ela conta que a gestora fez cálculos matemáticos para entender se era possível ter uma carteira diversificada e ainda assim sustentável e que os números provaram que a resposta era afirmativa. “Fizemos um teste com 50 companhias que selecionamos e que consideramos interessantes e calculamos que sim é possível. [É possível] encontrar uma boa diversificação, mesmo com um número de companhias menor [do que em alguns índices].”

Importância da diversificação

E a diversificação não deve ser vista como fundamental apenas para os brasileiros. Segundo Karen, a pandemia forçou muitas economias desenvolvidas, como Estados Unidos, Europa, Japão e Reino Unido, a atuarem em duas frentes: provendo estímulos fiscais via governos e estímulos monetários via bancos centrais, o que acabou gerando um avanço da inflação nessas economias.

O problema, de acordo com ela, é que boa parte dos portfólios dos investidores desses países não tinha proteção contra a inflação. “Nesses países, nos últimos 40 anos, os portfólios mais padrões investiam 60% em ações e 40% em títulos e isso funcionava porque, se o crescimento era fraco e a maior parte do risco estava em ações, os títulos nominais podiam ajudar um pouco […]. Você garantia certa diversificação”, destaca.

Já hoje, diz, o cenário é bastante diferente. A executiva assinala que não há mais taxas de juros a serem reduzidas pelos bancos centrais desses países e que a possibilidade de os títulos oferecerem uma diversificação foi reduzida. “Estamos mudando de um cenário em que as taxas de juros eram o mais importante para controlar a economia para um cenário em que as taxas de juros estão zeradas e que ainda há o afrouxamento monetário.”

Logo, para a co-CIO, diante de um cenário mais complicado global, é fundamental que os investidores disponham de ativos com riscos e retornos diferenciados para que o portfólio consiga sobreviver aos mais diversos ambientes macroeconômicos, com crescimento alto ou baixo e avanço ou recuo da inflação.

As melhores recomendações de investimentos por 30 dias grátis: conheça o Expert Pass